História do disco
Quando a morte de John Bonham foi anunciada, em setembro de 1980, o mundo do Led Zeppelin terminou de desmoronar. Aos 32 anos, o baterista da banda foi sufocado pelo próprio vômito por conta do excesso de álcool. Era o fim da vida de um gênio do instrumento que, infelizmente, acabou perdendo a batalha para ele mesmo. E agora, o que seria da banda? Semanas depois, em um hotel, o vocalista Robert Plant, o guitarrista Jimmy Page, o baixista John Paul Jones e o empresário Peter Grant se encontraram para definir o futuro. E ficou definido que não haveria futuro -- Plant foi o primeiro a se manifestar ao dizer que não haveria Led Zeppelin sem Bonham. Era justo, no fim das contas.
"Qualquer um de nós que fosse, acho que não teríamos continuado. Não era esse tipo de banda. Ninguém tinha a mesma capacidade de John", disse Page a Brad Tolinski no livro "Luz & Sombra: Conversas com Jimmy Page". No dia 4 de dezembro de 1980, um comunicado enviado a imprensa colocava ponto final nos 11 anos de existência do Led Zeppelin. A vida dos outros três integrantes levaria um tempo para engrenar novamente. Page foi fazer a trilha sonora de "Desejo de Matar 2" (1982), Plant começou a carreira solo com "Pictures at Eleven" (1982) -- último trabalho de inéditas lançado pela gravadora Swan Song -- e começava o processo de se afastar gradualmente da sonoridade do Led Zeppelin, e Jones se mudou para a fazenda que havia comprado em 1977 e passou a colaborar com vários artistas.
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Ao ver esse retorno dos músicos, a gravadora Atlantic, liderada por Ahmet Ertegün, entrou em contato com Page e Grant para lembrá-los da obrigação contratual em lançar mais um disco pela gravadora. A ideia inicial era lançar um álbum ao vivo com os melhores momentos da banda, mas a ideia não foi para frente. O plano B acabou sendo vasculhar no arquivo, que já havia sido muito usado desde "Physical Graffiti" (1975), para saber o que poderia ser utilizado para transformar em um álbum minimamente sólido.
O material utilizado vinha das sobras de estúdio de "In Through the Out Door" (1979), restos de canções perdidas dos primeiros anos da banda e momentos ao vivo tratados em estúdio com supervisão de Page, que mais uma vez assinaria a produção do álbum. "As únicas coisas que sobraram com vocais completos saíram no 'Coda'. Essas faixas eram algo em que iríamos trabalhar, provavelmente em algum momento posterior", contou Page em entrevista para revista 'Rolling Stone' em setembro de 1990.
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Lançado em 19 de novembro de 1982, "Coda" dividiu opiniões. Todos concordavam em uma coisa: era um trabalho sem muito nexo feito com a raspa do tacho de uma banda que havia lançado 99% músicas trabalhadas em estúdio ao longo de pouco mais de uma década de carreira. A divisão das críticas se deu, basicamente, em quem levou pelo lado histórico do lançamento ao ver que havia ali pelo menos duas ou três músicas de potencial.
Do outro lado, já com uma mudança geracional consolidada entre quem escrevia nas revistas de música, havia um certo olho torto ao ouvir sobras de estúdio de uma banda veterana que nem existia mais. Talvez por essa divisão, mais a falta de interesse do público, as vendas foram modestas nos Estados Unidos (sexto lugar nas paradas) e no Reino Unido (quarto lugar). Ao longo dos anos, a crítica foi sendo mais gentil com "Coda", principalmente depois do relançamento remastrizado do álbum em 2015.
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Se os anos 1980 e 1990 foram ingratos com o legado do Led Zeppelin, principalmente pela falta de interesse dessa nova geração de consumidores, os anos 2000 reativaram o gosto pela banda com lançamentos de shows em DVD e relançamentos de materiais até então indisponíveis no mercado, além das edições remasterizadas dos álbuns com extras. A coroação desse movimento foi o CD e DVD "Celebration Day", a reunião de todos os integrantes da banda ainda vivos com Jason Bonham, filho de John, na bateria, para homenagear Ertegün e o legado na música.
"Coda" é o tipo de álbum que surge para lembrar como os músicos do Led Zeppelin eram brilhantes mesmo em um trabalho aquém dos outros. Isso só mostra que o legado da banda é grandioso. E esse último disco só alimenta a vontade em largar qualquer compromisso para dar play na discografia da banda para ouvir tudo do início ao fim.
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Resenha de "Coda"
A primeira faixa do álbum foi retirada de uma apresentação ao vivo no Royal Albert Hall em 1970. Editada em estúdio, nisso incluindo os overdubs, "We're Gonna Groove" até poderia funcionar em um show, mas só isso. Não é das mais empolgantes, não. Depois surge "Poor Tom", essa retirada da fase acústica que ajudou a construir o repertório de "Led Zeppelin III". Se poderia ter entrado no álbum? Sim, mas no lugar de qual? Fica aí a questão -- resposta: não, não poderia.
Também executada para preencher a lacuna da falta de repertório dos primeiros shows, "I Can't Quit You Baby", de Willie Dixon, mostra bem o gosto da banda pelo blues e a "inspiração" no repertório ao longo dos anos. Para fechar a primeira parte surge "Walter's Walk", sobra de "Houses of the Holy", uma canção apenas regular e pouco empolgante -- talvez renderia algo se fosse retrabalhada para não soar filhote de parte do repertório.
A melhor parte do álbum é o lado B, formado pelas três sobras do disco anterior, "In Through the Out Door". "Ozone Baby" fatalmente seria um dos hits de sucesso da banda por ter um groove e um refrão dos mais grudentos. Outra canção que funciona muito bem é a animada "Darlene", dessas que o grupo poderia ficar uns bons minutos improvisando no palco durante uma apresentação. É outra que poderia ter entrado no trabalho anterior.
Gravada em 1976, a faixa "Bonzo's Montreux" é uma homenagem ao baterista do John Bonham, conhecido pela capacidade de improviso em longos solos. Em pouco mais de quatro minutos, é possível ouvir um pouco da genialidade dele e saber os motivos de o considerarem um dos melhores da história do rock no instrumento. "Wearing and Tearing" , última canção lançada pelo Led Zeppelin em estúdio, foi criada pela banda para ser uma resposta ao punk e para mostrar que eles ainda eram gigantes que caminhavam sobre a Terra.
Um disco de sobras de estúdio é sempre considerado uma maneira fácil de ganhar dinheiro em cima de composições não usadas. Não foi diferente com o Led Zeppelin, mas "Coda" serve para lembrar que esses quatro ingleses formaram a maior banda dos anos 1970. E isso ninguém tira deles.
Ficha técnica
Tracklist:
Lado A
1 - "We're Gonna Groove" (Live on 9 January 1970 at the Royal Albert Hall, London, England) (Edit; remix with guitar overdubs and live audience eliminated) (James Bethea/Ben E. King) (2:37)
2 - "Poor Tom" (Led Zeppelin III outtake, 1970) (Jimmy Page/Robert Plant) (3:02)
3 - "I Can't Quit You Baby" (Live on 9 January 1970 at the Royal Albert Hall, London, England: sound rehearsal, edited version) (Willie Dixon) (4:18)
4 - "Walter's Walk" (Houses of the Holy outtake, possibly with later overdubs, 1972) (Page/Plant) (4:31)
Lado B
1 - "Ozone Baby" (In Through the Out Door outtake, 1978) (Page/Plant) 3:36)
2 - "Darlene" (In Through the Out Door outtake, 1978) (John Bonham/John Paul Jones/Page/Plant) (5:06)
3 - "Bonzo's Montreux" (Recorded in 1976) (Bonham) (4:22)
4 - "Wearing and Tearing" (In Through the Out Door outtake, 1978) (PagePlant) (5:27)
Gravadora: Swan Song
Produção: Jimmy Page
Duração: 33min04s
John Bonham: bateria e percussão
John Paul Jones: baixo, piano e teclado
Jimmy Page: violão, guitarra e efeitos
Robert Plant: vocal e gaita
Produção
Stuart Epps, Andy Johns, Eddie Kramer, Vic Maile, Leif Mases e John Timperley: engenheiro de som
Peter Grant: produção executiva
Jeff Griffin: produtor em "White Summer/Black Mountain Side"
John Walters: produtor em "Travelling Riverside Blues"
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