História do disco
Depois de um fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 mágico, o Led Zeppelin foi ficando, digamos, menos inspirado. Não que "Houses of the Holy" ou "Physical Graffiti" sejam ruins, não é isso. Mas a banda começou a perder fôlego a partir de "Presence", quando não havia nenhuma sobra de estúdio em muito tempo e o trabalhou precisou ser iniciado do zero. Para o guitarrista, fundador e produtor Jimmy Page, é um dos melhores álbuns do grupo; para muitos, começou ali o declínio da maior banda de rock dos anos 1970.
Mas em janeiro de 1977, a coisa parecia andar bem, apesar de Page estar frustrado pelo rompimento com o diretor Kenneth Anger durante a composição da trilha do curta "Lucifer Rising" (1980). Mas não era só isso. Por conta do acidente que quase tirou a vida, o vocalista Robert Plant estava diferente, e isso acabou refletindo no novo show do grupo. Músicas foram cortadas, a parte acústica foi reintroduzida para Plant conseguir descansar e o número de Page com a guitarra em "Kashmir" teria 20 minutos de duração.
Mais sobre o Led Zeppelin:
Discos para história: Led Zeppelin, do Led Zeppelin (1969)
Discos para história: Led Zeppelin II, do Led Zeppelin (1969)
Discos para história: Led Zeppelin III, do Led Zeppelin (1970)
Discos para história: Led Zeppelin IV, do Led Zeppelin (1971)
Discos para história: Houses of the Holy, do Led Zeppelin (1973)
Discos para história: Physical Graffiti, do Led Zeppelin (1975)
Discos para história: Presence, do Led Zeppelin (1976)
Acontecimentos passados e ameaças de morte acabaram por fazer o empresário Peter Grant tomar uma atitude: contratar seguranças. E mais do que isso: agora os quatro membros da banda estavam rodeados de assistentes, um eufemismo para motoristas, secretários, seguranças e todo tipo de gente. Ao invés da unidade fechada dos quatro mais Grant, com Page e o empresário mandando um pouco mais do que os outros, cada um vivia em um mundo paralelo. E se Plant estava inseguro por conta das dores físicas e psicológicas do acidente, Page estava pior. O guitarrista estava viciado em heroína e chegava a ficar quatro noites sem dormir.
Até mesmo o público estava respondendo de outra maneira. Prisões, confusões e brigas foram coisas comuns no retorno da banda para apresentações ao vivo, algo que fazia Plant começar a questionar se valia a pena continuar no Led Zeppelin por mais tempo. O público também estava insatisfeito com o alongamento dos números -- um solo do baterista John Bonham estava durando 45 minutos, algo inexplicável para alguém que vivia constantemente bêbado e arrumando confusão por onde passava.
O ano acabou sendo fatídico para o grupo em muitos sentidos: para a banda, foi o ano em que eles tocaram em Los Angeles pela última vez; para Plant, foi o ano em que Karac, 5, morreu por conta de uma infecção respiratória. Definitivamente, o ano do Led Zeppelin não havia sido bom. E parecia que não haveria mais ano bom dali em diante. Plant, segundo ele mesmo, pararia de usar drogas dali em diante. Grant e Page garantiriam ao vocalista "três meses ou três anos" até ele se sentir confortável para voltar ao Led.
Mais discos dos anos 1970:
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Apenas Bonham acompanhou Plant no desenrolar dos acontecimentos, e o vocalista seria eternamente grato ao amigo por apoiá-lo em um momento de extrema dificuldade. Já Page tentou livra-se do vício em heroína sem sucesso, ficando cada vez mais dependente da droga enquanto esperava pelo retorno do Led Zeppelin. Um encontro foi marcado para reunir os integrantes, mas logo foi recusado -- o baixista John Paul Jones achou tudo muito estranho. A banda só se reuniria novamente em setembro de 1978, começando a trabalhar de fato em alguma coisa apenas dois meses depois.
"Eu não estava confortável no grupo", admitiu Plant em uma entrevista de 2005 reproduzida pelo 'Ultimate Classic Rock'. "Eu não sabia mais se valia a pena. Minha alegria de viver foi esmagada com tanta força que saí de um sonhador para um homem com seu próprio destino traçado".
Mas como Page, Bonzo e Plant com problemas de ordens diferentes, caberia a Jones a carregar o piano desta vez. E como George Harrison nos Beatles, ele estava cheio de ideias e materiais guardados ao longo de anos em que foi colocado de lado -- tanto no estúdio quanto, literalmente, nos shows. A criação de "In Through the Out Door" foi creditada para Page na produção, mas quem arregaçou as mangas e trabalhou foi Jones, que, pela primeira vez, teria mais créditos do que qualquer um no álbum.
Page, no livro "Luz e Sombras: Conversas com Jimmy Page", contou como foi a colaboração de Jones no álbum. "(...) Ele comprou um sintetizador e ficou inspirado a inventar um monte de coisa para 'In Through the Out Door'. Ele também começou a trabalhar mais próximo de Robert, uma coisa que antes não acontecia".
Veja também:
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Os dois começaram a trabalhar juntos por conta dos horários insanos de Page e Bonham, na Suécia, nos estúdios do ABBA. O guitarrista só aparecia a noite, algo normal, mas o baterista só ia quando conseguia dormir um pouco depois de mais uma noite sem dormir. Então os dois pegaram a rédea do trabalho e foram fazendo sem esperar por ninguém. Sem o principal guia inspirador que levou o Led Zeppelin ao sucesso, a banda precisou recorrer a um vocalista cheio de dor e sofrimento interno e a um baixista relegado durante anos a um posto secundário. E se o trabalho anterior era um "Disco de Page", sem dúvida esse era um "Disco de Jones/Plant".
Lançado em 15 de agosto de 1979, "In Through the Out Door" conseguiu ficar no primeiro lugar nos Estados Unidos e no Reino Unido, mesmo dividindo a opinião de público e crítica por conta do uso excessivo do sintetizador ao longo de todo trabalho. Ninguém sabia, mas seria o último disco de estúdio do Led Zeppelin. Alguns shows pela Europa em 1980 seriam as últimas apresentações do grupo. Em 24 setembro daquele ano, aos 32 anos, John Bonham seria encontrado morto, e isso colocaria um ponto final na história do Led Zeppelin.
Resenha de "In Through the Out Door"
Para um grupo grandioso, mas em estado vegetativo, impressiona como "In the Evening" é uma abertura poderosa e cheia de energia. Parecia que o Led Zeppelin estava saindo de um limbo, ressurgindo das cinzas e pronto para mostrar ao mundo que estava mais vivo do que nunca e pronto para encarar os anos 1980. A letra simples e o arranjo potente a colocam como uma boa faixa -- longe dos melhores momentos, claro, mas boa para um recomeço.
Depois disso, o desastre começa. E pesado. "South Bound Saurez", segunda faixa, soa como se eles tivessem tentado misturar o hard rock que estava fazendo sucesso na época com Elton John. Tudo é muito simplório e tosco, mas ainda bem que surge a boa "Fool in the Rain" cheia de ritmo e com um bom uso de instrumentos diversos, e um bom e marcante riff. O lado A encerra com o pastiche country "Hot Dog", uma música feita, aparentemente, quando Page estava bêbado e sem saber o que estava fazendo direito -- soa muito uma releitura de "Maggie Mae", faixa presente em "Let it Be" (1970), dos Beatles.
A segunda parte do LP abre com a potente "Carouselambra". Seria uma das melhores músicas do grupo que a mixagem não tivesse privilegiado o sintetizador ao invés do vocal do Plant. O resultado é que é muito difícil entender o que ele diz, tornando a faixa quase um lamento instrumental. A grande canção entre as sete é "All My Love", essa um lamento muito claro de Plant sobre a perda do filho. Melancólica e muito dolorosa, a canção tem um dos refrões mais tristes já feitos (Oh, all of my love, all of my love/ Oh, all of my love for you now/ All of my love, all of my love, yes/ All of my love to you, child). "I'm Gonna Crawl" finaliza o disco tentando emular os primeiros momentos da banda, quando o blues reinava nas composições (e nas "inspirações). Mas é apenas uma tentativa frustrada de voltar ao passado glorioso.
Mesmo sendo considerado o pior trabalho do Led Zeppelin, tenho quase certeza que esse álbum serviu para Robert Plant colocar para fora todos os seus demônios e desabafar sobre a morte do filho. Único creditado em todas as canções, o vocalista fez desse trabalho uma carta aberta muito pessoal sobre como estava se sentindo naquela altura da vida. Com pouco mais de 30 anos, ele já havia passado por coisas que pessoas não passam durante uma vida inteira. Para muitos, ele começou a carreira solo neste LP.
"In Through the Out Door" passou por avaliações e reavaliações ao longo dos anos. Ainda é, de longe, o menos inspirado e menos agradável trabalho da banda que reinou absoluta durante uma década inteira na música mundial. No fim das contas, esse álbum é o final que o Led Zeppelin não merecia, mas foi o que acabou tendo. Isso mostra como não somos donos do nosso destino, por mais incrível que tenha sido.
Ficha técnica
Tracklist:
Lado A
1 - "In the Evening" (6:48)
2 - "South Bound Saurez" (Jones/Plant) (4:11)
3 - "Fool in the Rain" (6:08)
4 - "Hot Dog" (Page/Plant) (3:15)
Lado B
1 - "Carouselambra" (10:28)
2 - "All My Love" (Jones/Plant) (5:51)
3 - "I'm Gonna Crawl" (5:28)
Todas as músicas foram escritas por John Paul Jones, Jimmy Page e Robert Plant, exceto as marcadas
Gravadora: Swan Song
Produção: Jimmy Page
Duração: 41min39s
John Bonham: bateria e percussão
John Paul Jones: baixo e teclado
Jimmy Page: guitarra, violão e Gizmotron
Robert Plant: vocal
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