Discos para história: Pump, do Aerosmith (1989)


História do disco

Muitas bandas fazem sucesso por algum período e não conseguem repetir algum tempo depois, sendo conhecidas apenas pelos hits do passado. Podem falar muita coisa do Aerosmith do meio dos anos 1980 para cá, mas é fato que o grupo conseguiu se reinventar, atraiu uma nova geração de fãs e se recolocou na história da música.

O renascimento começou em "Permanent Vacation" (1987), depois de um duro final dos anos 1970 e início da década seguinte por problemas com álcool e drogas por parte dos integrantes. Os guitarristas Joe Perry e Brad Whitford haviam deixado o grupo antes do lançamento de "Rock in a Hard Place (1982)", um verdadeiro desastre. O grupo começou a ganhar novo fôlego com a parceria com o Run-D.M.C na faixa "Walk This Way". O rap estava em alta, então um grupo de hardrock dos anos 1970 ser uma referência era um choque. Tanto os fãs de rap descobriram uma banda veterana, quanto uma nova geração de fãs de rock prestaram atenção no Aerosmith.

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O sucesso de "Permanent Vacation" colocou o grupo de volta aos trilhos, mas isso não os deixou plenamente satisfeitos. Eles queriam mais sem perder a "pegada" do disco anterior, então acabou sendo uma continuação direta -- quase como um álbum duplo lançado em anos diferentes. "Dois meses após o término da turnê, queríamos começar de novo", lembrou Perry na biografia do Aerosmith chamada "Walk This Way". "Sentimos que algo grande estava por vir. Em 1º de novembro, Steven e eu começamos a escrever. Nós queríamos trabalhar".

Steven Tyler tinha uma visão para o álbum, principalmente ao olhar para o que as novas bandas estavam fazendo. Mas ele se lembrou da trajetória do Aerosemith. Foi quando ele relaxou e resolveu apenas colocar para fora as músicas que queria tocar nos shows.

"Sentei no meu [teclado] e conversei muito com Joe e os outros sobre as crianças que compraram nossos discos. O que ouviam, o que queriam, o que as bandas mais jovens estavam fazendo", disse ele. "Então me ocorreu que não tínhamos que dar a mínima para isso. Tudo o que tínhamos a fazer era olhar para dentro e colocar para fora. Isso foi um grande tema para mim quando eu estava gravando esse disco", contou o vocalista anos depois.

"Não, não sentimos nenhuma pressão extra ao fazer isso", contou Tyler à revista 'Louder' à época. "Nunca sentimos pressão ao fazer álbuns. A única pressão é ser menos como o que a gravadora quer e mais como nós mesmos. Tipo, realmente ir com tudo dessa vez", completou.

Chamado novamente para fazer a produção do álbum, Bruce Fairbairn mais orientou e corrigiu algumas coisas do que participou ativamente do trabalho. Para uma banda que chegava com muitas ideias, ter alguém de fora e longe do dia-a-dia era fundamental para organizar as coisas. Foi um trunfo e tanto tê-lo ali, apesar de a banda admitir que as coisas são mais difíceis na edição. Fairbairn não tem dó nem piedade na hora de cortar. Claro que isso gera algumas dificuldades, principalmente quando se lida com artistas -- qualquer um deles.

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As tensões aumentaram muito entre o produtor, a banda e a gravadora. Tudo virou motivo para discussão: desde o nome do álbum até a ordem das músicas. Essas brigas ficaram até o último minuto, quando o guitarrista Brad Whitford sugeriu o nome "Pump" em alusão ao fato de a banda pular rapidamente de um álbum para o outro -- também existe a versão de que eles pulavam a vez de usar drogas nas festas, uma vez que haviam parado. Todo mundo gostou, menos o resto do Aerosmith. Mas, como a história conta, Joe Perry e Steven Tyler não venceram essa disputa.

Lançado em 12 de setembro de 1989, "Pump" chegou na quinta posição da parada americana e em quinto do outro lado do Atlântico. Era o renascimento definitivo de uma banda que conseguiu juntar os próprios cacos, reaquecer o que havia sido perdido e transformar vidro quebrado em um novo e bonito vaso cheio de hits para uma nova geração pronta para cantar a plenos pulmões os novos sucessos (assista "Vidrados" na Netflix que vocês vão pegar a referência).


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Resenha de "Pump"

A pegada hardrock do grupo aparece na abertura do álbum. E seja lá quem organizou, dou meus parabéns porque "Young Lust" funciona absurdamente bem. Pegajosa do início ao fim, é convidativa para fazer qualquer um pular descontroladamente em qualquer lugar. Mas a banda não ficaria presa ao passado, tanto é que "F.I.N.E." surge para mostrar esse lado um pouco mais pop do grupo.

"Going Down/Love in an Elevator" é a história de um homem que leva várias mulheres para um elevador, inspirada em algo que aconteceu com Tyler na vida real. Grudenta, ela consegue fazer com que qualquer pessoa decore o refrão na segunda audição -- sempre um trunfo e tanto para qualquer letra de música. O solo de Joe Perry é brilhante e dá para sentir a empolgação de estar em uma banda de rock fazendo o que mais gosta.



Se a dançante "Monkey on My Back" dá um baita gás no álbum, Water Song/Janie's Got a Gun" é a grande faixa do álbum. A letra é inspirada no consumo de armas por parte da população dos Estados Unidos mais a história real de uma jovem adolescente ser abusada pelo pai. Ele une tudo isso quando ela mata o abusador. É uma história pesada e muito bem contada pelo arranjo, que consegue sustentar todo esse peso enquanto Steven Tyler solta a voz.

"Dulcimer Stomp/The Other Side" abre o lado B com uma baita encrenca: a banda foi processada por plágio pelos compositores de "Standing in the Shadows of Love". Eles ganharam e agora dividem os créditos de uma faixa bem bobinha e grudenta, suficiente para manter a atenção das pessoas na segunda parte do trabalho. E "My Girl" tem muito de uma mistura de um rock mais agressivo com uma pegada country que só o Aerosmith poderia dar.


Mas country mesmo até a medula é "Don't Get Mad, Get Even". Mesmo com uma parte mais agitada, ela é claramente inspirada no gênero que deu ao mundo Willie Nelson. A parte final apresenta "Hoodoo/Voodoo Medicine Man" (com uma ótima linha de baixo) e "What It Takes", uma das grandes músicas dessa nova fase deles.

Se reinventar é para poucos, mas o Aerosmith conseguiu fazer isso da melhor maneira possível. Pode não ser muito atraente para muita gente, claro. Porém o fundamental aqui é saber que é possível sair do fundo do poço e encontrar alguma luz na própria vida.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Young Lust" (Steven Tyler, Joe Perry, Jim Vallance) (4:18)
2 - "F.I.N.E." (Tyler, Perry, Desmond Child) (4:09)
3 - "Going Down/Love in an Elevator" (Tyler, Perry) (5:39)
4 - "Monkey on My Back" (Tyler, Perry) (3:57)
5 - "Water Song/Janie's Got a Gun" (Tyler, Tom Hamilton) (5:38)

Lado B

1 - "Dulcimer Stomp/The Other Side" (Tyler, Vallance, Brian Holland, Lamont Dozier, Eddie Holland) (4:56)
2 - "My Girl" (Tyler, Perry) (3:10)
3 - "Don't Get Mad, Get Even" (Tyler, Perry) (4:48)
4 - "Hoodoo/Voodoo Medicine Man" (Tyler, Brad Whitford) (4:39)
5 - "What It Takes" (Tyler, Perry, Child) (5:11)

Gravadora: Geffen
Produção: Bruce Fairbairn
Duração: 47min22s

Steven Tyler: vocal, guitarra, teclado e gaita
Joe Perry: guitarra, guitarra slide em "Monkey on My Back" e vocal de apoio
Brad Whitford: guitarra
Tom Hamilton: baixo e vocal de apoio em "Love in an Elevator"
Joey Kramer: bateria

Convidados:

Bob Dowd: vocal de apoio em "Love in an Elevator"
Catherine Epps: introdução em "Love in an Elevator"
Bruce Fairbairn: trompete, vocal de apoio em "Love in an Elevator"
The Margarita Horns (Bruce Fairbairn, Henry Christian, Ian Putz, Tom Keenlyside): conjunto de metais e saxofones
John Webster: teclado
Randy Raine-Reusch: interlúdios (Saltério dos Apalaches em "Dulcimer Stomp", didjeridu em "Don't Get Mad, Get Even", Thai naw em "Hoodoo" e gaita em "Water Song")



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