História do disco
"Foi um ano em desenvolvimento. O processo de gravação realmente começou em 1º de janeiro, mas tinha algumas das faixas antes, e então fui para o estúdio com 'So Appalled' e 'Hell of a Life', tínhamos as batidas e estávamos apenas tentando bolar ideias para seguir em frente... Sempre temos algumas [faixas] extras sobrando... 'Homecoming' sobrou do 'Late Registration' (2005)", explicou Kanye West, em entrevista para a rádio 101.3 KDWB, de Minnesota, falando sobre o trabalho de composição que resultou em "My Beautiful Dark Twisted Fantasy".
Em 2020, muita gente só conhece ou lembra de Kanye West pelas polêmicas, como a candidatura à presidência dos Estados Unidos, ou pelas fofocas envolvendo o casamento com Kim Kardashian. Mas é bom deixar claro: West é um dos rappers mais talentosos de sua geração -- talvez o mais talentoso de todos. Para quem estava há menos de uma década na indústria, "The College Dropout" (2004), "Late Registration" (2005), "Graduation" (2007) e "808s & Heartbreak" (2008) formavam uma discografia de bastante respeito. O céu era o limite. E West acreditou.
Mas 2009 não foi um dos melhores anos para ele, que já vinha colecionando polêmicas e brigas com gente desde o então presidente George W. Bush até o rompimento público com a então noiva Alexis Phifer. Quando subiu no palco do VMA, durante uma fala de Taylor Swift, para reclamar que Beyoncé deveria ter ganhado o principal prêmio a noite, o mundo conheceu uma faceta do rapper que marcaria sua vida -- e a da cantora -- como ferro quente na pele.
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Como falam em bom português: a casa caiu. West cancelou uma turnê que faria com Lady Gaga e via toda a internet comentar o assunto por semanas. De memes até críticas pesadas, o rapper passou pelo escrutínio de todo tipo de gente, prontos para dar uma opinião sobre o assunto. Isso foi o suficiente para se afastar do centro do furacão ao se impôr um autoexílio no Havaí. Antes, porém, ele fez um convite a produtores, músicos, rappers, arranjadores e quem mais quisesse colaborar com seu mais novo projeto secreto. Ele só pedia duas coisas em troca: ideias e tempo. Para isso, ele reservou as três salas do Avex Recording Studios por 24 horas por vários dias seguidos e ia pulando de sala em sala em busca das melhores ideias e acompanhamentos que o "comitê", nome dado por ele ao grupo de trabalho -- o pessoal só parava para dormir ou jogar basquete, mas West mesmo não dormir mais do que 90 minutos por dia.
O processo criativo intenso resultou em algumas das melhores canções feitas por West e algumas das melhores sobras de estúdio feitas por West na carreira. Todo mundo que colaborou no álbum de alguma maneira sabia que vinha coisa grande por aí. Afinal, o ritmo alucinante de trabalho vinha acompanhado por uma ferocidade que mostrava a força de vontade de West em mostrar que a música feita por ele estava alheia a qualquer polêmica. Ele, além de reunir um time campeão, estava mais inspirado criativamente do que nunca. Havia algo diferente em Kanye West ao conseguir combinar o melhor de todos os discos lançados até ali em uma coisa só. Mesmo assim, ele não vê o registro como seu melhor trabalho, uma visão muito diferente da crítica especializada.
"Foi meio que juntar o que as pessoas gostavam de mim para fazer um buquê", disse ele, em entrevista ao site 'ShowStudio'. "Tantas pessoas classificam 'Dark Fantasy...' como meu melhor álbum, mas 'Yeezus' e '808s' são muito mais fortes. 'Dark Fantasy...' para mim é... quase como um álbum de desculpas. 'Power' foi a música menos progressiva que eu já ouvi como primeiro single", completou.
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Lançado em 22 de novembro de 2010, "My Beautiful Dark Twisted Fantasy" foi aclamado como um dos melhores discos da década e um dos melhores discos de rap de todos os tempos. Claro, estreou na primeira posição da parada nos Estados Unidos com quase 500 mil cópias vendidas e ganhou nota 10 da Pitchfork, um feito e tanto. West estava perdoado? Sim, mas por pouco tempo.
"My Beautiful Dark Twisted Fantasy" é para Kanye West como "Ultimato" é para a franquia Marvel no cinema: um final grandioso para amarrar toda uma história e partir para um novo começo. Para o público, foi sempre esperar pelo próximo arrasa-quarteirão; para West, foi o início de uma megalomania que, aos poucos, vai vencendo o rapper.
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Resenha de "My Beautiful Dark Twisted Fantasy"
O quinto álbum da carreira de Kanye West é uma espécie de testamento sobre como perder o controle quando se é muito famoso pode gerar consequências terríveis ao mesmo tempo em que toca em feridas profundas dos Estados Unidos. Logo nas duas primeiras faixas, o rapper usa o melhor do estilo gospel para falar sobre a pressão da fama e injustiça social. Isso, em 2010, era o melhor de West.
À medida em que o trabalho avança, podemos ouvir como ele estava inspirado para fazer o melhor possível ao desenvolver muitas ideias criativas, como usar o sampler de "21st Century Schizoid Man", do King Crimson, em "Power" ou como faz de "All of the Lights" e "So Appalled" dois desabafos sobre a fama e a cultura pop como um todo. As muitas mãos e vozes funcionam como se fosse conduzidas por um maestro pronto para fazer de seu disco uma obra coletiva com uma assinatura muito própria.
Ao conseguir unir tanta gente, é difícil até mesmo categorizar o disco em algum gênero? É rap? É R&B? É tudo isso? Sinceramente, isso pouco importa. E ainda tem, dentre todas as qualidades, o fato de soar como uma diamante refinado por dias a fio até ficar perfeito. É o tipo de álbum para ser ouvido muitas e muitas vezes ao longo dos anos até para ir descobrindo novas coisas antes despercebidas.
E uma das melhores canções da carreira de West está nesse trabalho. "Runaway" é tão bem feita, tão bem trabalhada, que é difícil ele repetir qualquer coisa feita aqui. Do arranjo até a participação do rapper Pusha-T, tudo nela celebra o talento de Kanye em conseguir transformar os mais profundos sentimentos em música de altíssimo nível.
Uma década depois do lançamento de "My Beautiful Dark Twisted Fantasy", a vida de Kanye West mudou muito -- imagino que para pior. Mas, enquanto esteve no auge de suas forças físicas e psicológicas, ele presenteou o mundo com uma obra-prima indiscutível.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - "Dark Fantasy" (Kanye West/ Robert Diggs/ Ernest Wilson/ Jeff Bhasker/ Mike Dean/ Malik Jones/ Justin Vernon/ Onika Maraj/ Jon Anderson/ Mike Oldfield) (4:40)
2 - "Gorgeous" (featuring Kid Cudi and Raekwon) (West/ Wilson/ M. Dean/ Jones/ Che Smith/ Corey Woods/ Scott Mescudi/ Gene Clark/Roger McGuinn) (5:57)
3 - "Power" (West/ Larry Griffin, Jr./ M. Dean/ Bhasker/ Andwele Gardner/ Ken Lewis/ Francois Bernheim/ Jean-Pierre Lang/ Boris Bergman/ Robert Fripp/ Michael Giles/ Greg Lake/ Ian McDonald/ Peter Sinfield) (4:52)
4 - "All of the Lights (Interlude)" (West/ M. Dean) (1:02)
5 - "All of the Lights" (West/ Bhasker/ Mescudi/ Jones/ Warren Trotter/ Stacy Ferguson) (4:59)
6 - "Monster" (featuring Jay-Z, Rick Ross, Nicki Minaj and Bon Iver) West/ Shawn Carter/ Patrick Reynolds/ M. Dean/ William Roberts II/ Maraj/ Vernon/ Jones/ Ben Bronfman/ Daniel Lynas/ Harley Wertheimer)
7 - "So Appalled" (featuring Swizz Beatz, Jay-Z, Pusha T, Cyhi the Prynce and RZA) (West/ Wilson/ M. Dean/ Carter/ Terrence Thornton/ Cydel Young/ Kasseem Dean/ Diggs/ Manfred Mann)
8 - "Devil in a New Dress" (featuring Rick Ross) (West/ Roosevelt Harrell/ M. Dean/ Roberts II/ Jones/ Carole King/ Gerry Goffin)
9 - "Runaway" (featuring Pusha T) (West/ Emile Haynie/ Thornton/ Bhasker/ M. Dean/ Jones/ Peter Phillips/ John Branch)
10 - "Hell of a Life" (West/ Mike Caren/ Wilson/ M. Dean/ Sylvester Stewart/ Tony Joe White/ Terence Butler/ Anthony Iommi/ John Osbourne/ William Ward)
11 - "Blame Game" (featuring John Legend) (West/ Justin Franks/ Chloe Mitchell/ M. Dean/ John Stephens/ Richard James)
12 - "Lost in the World" (featuring Bon Iver) (West/ Bhasker/ Manu Dibango/ James Brown/ Vernon/ Gil Scott-Heron/ Edwin Bocage/ Alfred Scramuzza)
13 - "Who Will Survive in America" (West/ Bhasker/ Scott-Heron/ Bocage/ Scramuzza) (1:38)
Gravadora: Def Jam / Roc-A-Fella
Produção: Bink, DJ Frank E, Kanye West, Mike Dean, No I.D, RZA e S1
Duração: 68min36s
Notas:
"Dark Fantasy" conta com os vocais de Nicki Minaj e Justin Vernon, e vocais adicionais de Teyana Taylor and Amber Rose;
"Gorgeous" conta com os vocais de apoio de Tony Williams;
"Power" conta com os vocais de apoio de Dwele;
"All of the Lights" conta com os vocais de apoio de Rihanna, Kid Cudi, Tony Williams, The-Dream, Charlie Wilson, John Legend, Elly Jackson of La Roux, Alicia Keys, Elton John, Fergie, Ryan Leslie, Drake, Alvin Fields e Ken Lewis;
"Runaway" conta com os vocais de apoio de Tony Williams e vocais adicionais por The-Dream;
"Hell of a Life" conta com os vocais de apoio de Teyana Taylor e The-Dream;
"Blame Game" conts com os vocais de apoio de Chris Rock e Salma Kenas;
"Lost in the World" e "Who Will Survive in America" conta com os vocais de apoio de Charlie Wilson, Kaye Fox, Tony Williams, Alicia Keys e Elly Jackson, do La Roux;
Convidados:
Jeff Bhasker: teclado nas faixas 1, 3, 5, 7, 9, 12, 13; piano na faixa 6; arranjo de cordas na faixa 1
Mike Dean: teclado nas faixas 3, 5, 7, 10; piano nas faixa 1, 8, 11; baixo nas faixas 3, 8, 11; guitarra nas faixas 2, 3, 8; arranjo de cordas 1, 5, 7
Ken Lewis: guitarra na faixa 2; baixo na faixa 2; órgão na faixa 2; instrumentos de sopro na faixa 5; bateria eletrônica nas faixas 12, 13; arranjo de metais na faixa 5); vocal de apoio nas faixas 3, 12, 13
Brent Kolatalo: teclado na faixa 2; bateria eletrônica na faixa 2
Elton John: piano na faixa 5
Anthony Kilhoffer: bateria eletrônica nas faixas 10, 12, 13
Danny Flam e Tony Gorruso: instrumentos de sopro na faixa 5
Rosie Danvers: condução da orquestra na faixa 5; violoncelo na faixa 5
Chris "Hitchcock" Chorney: violoncelo nas faixas 1–3, 5, 7, 9, 11; arranjo do violoncelo na faixa 11
Mike Lovatt e Simon Finch: trompete nas faixas 4, 5
Andy Gathercole: trompete na faixa 5
Tim Anderson, Tom Rumsby e Richard Ashton: trompa na faixa 5
Mark Frost e Philip Judge: trombone na faixa 5
Chloe Vincent: flauta na faixa 5
Kotono Sato e Jenny Sacha: violino na faixa 5
Rachel Robson: viola na faixa 5
Chloe Mitchell: rimas na faixa 11
Alvin Fields: coro nas faixas 3, 12, 13
Ian Allen, Wilson Christopher, Uri Djemal e Chris Soper: palmas na faixa 3
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