Discos para história: High Violet, do The National (2010)


História do disco

Existiu uma leva de bandas que, se não vendeu milhões de discos para fazer turnês em estádios lotados pelo mundo, conseguiu ajudar a transformar o modorrento mundo da música que estava se equilibrando entre um pop pasteurizado de cantores, cantoras e grupos de todos os tipos com bandas de muito apelo entre os jovens, mas que apenas repetiam coisas que antecessores haviam feito nos anos anteriores.

A geração formada por Yeah Yeah Yeahs, The Strokes e The National ajudou a trazer um pouco de frescor para uma geração de adolescentes sem escolhas para ouvir outras coisas. Por isso, o aniversário de dez anos de "High Violet" é importante não só por celebrar um dos grandes trabalhos do período, mas para firmar a banda formada por Matt Berninger, Aaron e Bryce Dessner, Bryan Devendorf e Scott Devendorf como uma das melhores dessa geração ainda seguir relevante no cenário após todos esses anos.

Mas no período entre a fundação da banda e a gravação do então novo álbum, eles ainda não haviam chegado no nível esperado e que mereciam pela qualidade. O que fazer, afinal? Durante a turnê que fizeram com o R.E.M., receberam um conselho inesquecível da veterana banda: "Por que vocês simplesmente não escrevem uma música pop?". O conselho vinha de quem, em "Out of Time", gravou "Losing My Religion" e "Shiny Happy People" no mesmo disco.

O caminho para chegar ao resultado não foi dos mais fáceis. A banda é formada por dois grupos de irmãos e o vocalista Matt Berninger. Em resumo, eles trabalham assim: são três grupos diferentes pensando em como vai ser o próximo disco e vão escrevendo canções e melodias até a hora da gravação. Claro que pessoas diferem entre si e discordâncias são naturais, mas uma convivência de mais de uma década pode tornar uma faísca em algo gigantesco.

"Há algo sobre esse cabo de guerra que acontece quando Matt está em seu próprio mundo, e nós em nosso mundo, e nossa união obviamente produz essa coisa que é The National”, explicou Bryce Dessner ao site 'Guitar Magazine'.

Uma questão para entender o grupo é saber que sempre, sempre mesmo, um disco será a resposta ao anterior. Se "Boxer" (2007) era musicalmente desconcertante, o próximo tinha que ser mais direto ao ponto, mais solto para improvisos ao vivo, ter arranjos complexos e funcionar para cantar em grandes lugares. O National queria ser grande e havia potencial. Só faltava colocá-lo para fora. E diferente do álbum anterior que corroeu a banda por dentro e quase a matou, as sessões de "High Violet" foram relaxantes quando a energia das brigas iniciais foram transformadas no foco em um objetivo.

Durante a produção do disco, eles se lembraram de outro conselho de Michael Stipe, vocalista do R.E.M., sobre estar há tanto tempo na mesma banda convivendo mais entre si do que com qualquer um. "Outra coisa que Michael Stipe nos disse foi: 'lembre-se de que vocês eram amigos primeiro’. Isso surge em nossas cabeças o tempo todo. ‘High Violet’ éramos nós seguindo todos os conselhos de Michael".

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Lançado em 10 de maio de 2010, "High Violet" vendeu 50 mil cópias na primeira semana nos Estados Unidos, suficiente para conseguir a terceira posição da parada. No Reino Unido, a banda estreou no sexto posto. Eram resultados impensados anos atrás, no início da carreira, quando a música chegava em poucas pessoas -- quando chegava.

Muita gente passa por um momento da vida ou consegue, através de ajuda, aceitar um pouco mais a personalidade ou determinada parte do corpo. Pois foi nesse álbum que a banda se aceitou como essa mistura de ter começado a carreira em Ohio e ter feito sucesso em Nova York. É como se não importasse qual versão de você começou a vida, mas qual é seu momento agora. E o momento era de seguir e olhar para trás apenas para não cometer os mesmos erros. E assim "High Violet" virou um dos grandes álbuns da década

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Resenha de "High Violet"

Os efeitos que ajudam a compor a faixa de abertura "Terrible Love" jogam o ouvinte dentro de um trabalho que dava para sentir, logo de cara, que vinha coisa boa pela frente. O tom épico aparece com bastante força aqui, dando o tom do que viria. Outro ponto do trabalho é como eles conseguiram traduzir as angústias do novo século em ótimas canções do nível de "Sorrow" (sobre o amor perdido) e "Anyone's Ghost" (sobre uma pessoa ser emocionalmente incapaz de amar outra).

O trabalho evolui em várias frentes, indo de um pós-punk experimental até o folk mais simples. Um dos pontos de discussão do álbum é o fato de o vocalista e compositor Matt Berninger estar farto de morar em uma grande cidade, tema presente em "Little Faith" (sobre fingir gostar de algo apenas para agradar) e "Lemonworld" (sobre literalmente fugir de um lugar), mas renega a terra natal por algum motivo ("Bloodbuzz Ohio"), e percebe que está envelhecendo ao ver o impacto no dia-a-dia ("Afraid of Everyone").

Runaway" encaminha o ouvinte para a parte final, mas é em "Conversation 16" que a banda chega no auge ao abordar um relacionamento fadado ao fracasso. E ainda tem "England" e "Vanderlyle Crybaby Geeks", sendo essa a favorita do grupo.

"High Violet" é o tipo de álbum que é difícil não se encantar pelo todo, sendo uma missão impossível destacar apenas uma faixa. Mais de uma década após o início da banda, finalmente eles foram premiados por todo esforço e dedicação, e também graças aos conselhos de Michael Stipe. Não há dúvidas: The National mereceu tudo que conquistou desde então.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Terrible Love" (Matt Berninger, Aaron Dessner) (4:39)
2 - "Sorrow" (Berninger, A. Dessner) (3:25)
3 - "Anyone's Ghost" (Berninger, Bryce Dessner) (2:54)
4 - "Little Faith" (Berninger, Carin Besser, A. Dessner) (4:36)
5 - "Afraid of Everyone" (Berninger, A. Dessner) (4:19)
6 - "Bloodbuzz Ohio" (Berninger, A. Dessner, Padma Newsome) (4:36)
7 - "Lemonworld" (Berninger, B. Dessner) (3:23)
8 - "Runaway" (Berninger, A. Dessner) (5:33)
9 - "Conversation 16" (Berninger, Besser, A. Dessner) (4:18)
10 - "England" (Berninger, A. Dessner) (5:40)
11 - "Vanderlyle Crybaby Geeks" (Berninger, Besser, A. Dessner) (4:12)

Gravadora: 4AD
Produção: The National
Duração: 47min40s

Matt Berninger: vocal
Aaron Dessner: guitarra, teclado e baixo
Bryce Dessner: guitarra
Bryan Devendorf: bateria e percussão
Scott Devendorf: baixo e guitarra
Peter Katis: coprodutor e mixagem
Greg Georgio: mixagem adicional

Músicos convidados:

Tim Albright: trombone
Hideaki Aomori: clarinete e clarinete baixo
Michael Atkinson e Jeremy Thal: trompa
Thomas Bartlett: piano e teclado
Mads Christian Brauer: eletrônicos e efeitos
CJ Camereri: trompete e corneta
Greg Chudzik: baixo duplo
Rachael Elliott: fagote
Alex Hamlin: saxofone barítono
Marla Hansen, Justin Vernon e Laurel Sprengelmeyer (Little Scream): vocal
Maria Jeffers: violoncelo
Bridget Kibbey: harpa
Thom Kozumplik: percussão
Benjamin Lanz: trombone
Rob Moose: violino
Nico Muhly: celesta
Dave Nelson: trombone
Padma Newsome: violino e viola
Richard Reed Parry: baixo duplo, guitarra, piano, vocais; arranjo do vocal de apoio em "Conversation 16" Kyle Resnick: trompete
Nadia Sirota: viola
Alex Sopp: flauta e flauta baixa
Sufjan Stevens: harmônio, vocal, vocal de apoio; arranjo do vocal de apoio em "Afraid of Everyone"

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