Discos para história: Uhuuu!, do Cidadão Instigado (2009)


História do disco

Presente nas listas mais importantes de melhores discos de 2009, "Uhuuu!" colocou o Cidadão Instigado em uma posição das mais bacanas na música brasileira. Ao mesmo tempo em que o grupo encheu o álbum de efeitos de sintetizadores, também abraçou a música romântica brasileira -- chamada de forma pejorativa de brega por uma elite preconceituosa e pouco afeita a saber o que o povo realmente gosta.

“Nos anos 70 ouvia música brasileira em casa e coisas mais regionais, bem direcionadas. Na década seguinte começou a febre internacional e acho que todo mundo que viveu aquela época tem isso na memória, é algo natural. A gente ia para a beira-mar e sempre rolava música romântica”, diz o ex-surfista de bodyboard cujo gosto eclético vai de Raul Seixas a Pink Floyd, passando por “rock em geral” e reggae", contou à época o guitarrista Fernando Catatau ao site 'G1 (clique aqui e leia a matéria completa).

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A gravação do álbum não foi nada fácil, já que a banda chegou a perder boa parte do que havia sido gravado antes. Algumas bases foram salvas, mas eles já tinham empregado uma quantia razoável de dinheiro no projeto. A sorte foi ganhar o Prêmio Pixinguinha e conseguir dinheiro para tocar o trabalho do disco. A partir disso, foi trabalhar em cima da construção de um material que abordasse a história da banda em si, então com seus 15 anos de atividade.

Para o site 'Terra' em 2009, Catatau contou como era fazer música independente naquela época, quando a internet estava começando a virar o principal meio de consumir música. "É um assunto muito doido hoje em dia [sobre fazer música independente]. Temos a facilidade por causa da internet, mas outras ficam mais difíceis. É tanta quantidade que acabamos ficando meio confusos. Sempre estive no meio independente e o mais importante pra gente é fazer show e gravar disco", afirmou.

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"Neste álbum, sem o lance do Pixinguinha seria bem mais complicado. É muito dinheiro que envolve pra você gravar com a qualidade boa e do jeito que a gente pensa. Pelo menos da forma que eu imagino que deve ser captado, não é barato. Conseguimos gravar um disco decentemente e pagando todo mundo direitinho e de forma organizada", completou (clique aqui e leia a entrevista completa).

Formado em 1994, o Cidadão Instigado se firmou no cenário independente e conseguiu ter um público fiel. E como "Uhuuu!", lançado em setembro de 2009, colocou o grupo em evidência para mais gente. Foi considerado o Melhor Show pelo guia da Folha de S.Paulo, melhor álbum pela revista Rolling Stone, além de indicado ao indicado ao VMB e Prêmio Multishow. Um ano inesquecível, com certeza.


Resenha de "Uhuuu!"

O disco abre com a melódica "O Nada" e sua letra estilo trovador, um início muito instigante para uma banda que já havia feito de tudo um pouco nos trabalhos anteriores. Mas o tom da letra aqui já dá uma dica de como será o álbum: é muito música popular brasileira dos anos 1970 por conseguir mostrar uma realidade do povo usando o lúdico para isso.

A segunda faixa do álbum é a bonita "Contando Estrelas", essa feita ao melhor estilo Smiths: melodia para dançar com uma letra triste. O que é outro bom sinal do que o trabalho apresentará ao ouvinte ao longo de quase uma hora de duração.



A cheia de efeitos "Doido" é a maior viagem cheia de altos e baixos no arranjo, enquanto "Dói" apresenta para essa nova geração uma canção inspirada na música feita por Odair José e outros nos anos 1970. Depois da lúdica e poética "Escolher Pra Quê?", com solo de guitarra muito bonito, vem "Como As Luzes" é uma homenagem (sem querer ou não) a todos os ícones da música romântica feita no Brasil. Mais popular do que isso, impossível. É grudenta, é fantástica, é certeira.

"Ovelhinhas" surge com uma proposta mais semelhante ao início do álbum do que da parte romântica e funciona bem, já "A Radiação Na Terra" é mais experimental e foge da proposta do álbum. Mas consegue encaixar bem nessa parte final, que também apresenta o retorno do lado mais pop do grupo em "Deus É Uma Viagem" -- a levada da guitarra é o diferencial aqui.



Catatau homenageou Neil Young em "Homem Velho" ("Hey, Neil/ Homem velho/ Será que você tem tantas angústias quanto eu?"), quando se vê perguntando coisas sobre o compositor canadense. Por último surge "O Cabeção" que soa muito como algo que Fred 04, do Mundo Livre S/A, faria.

É um trabalho muito bom que consegue balançar bem entre o romântico brasileiro e referências à estética mais experimental da música americana do início dos anos 1990 até o começo da década seguinte. Um dos melhores álbuns de 2009? Sem dúvida alguma.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "O Nada" (3:50)
2 - "Contando Estrelas" (4:50)
3 - "Doido" (5:03)
4 - "Dói" (4:27)
5 - "Escolher Pra Quê?" (Danilo Guilherme e Fernando Catatau) (6:35)
6 - "Como As Luzes" (5:24)
7 - "Ovelhinhas" (3:32)
8 - "A Radiação Na Terra" (2:22)
9 - "Deus É Uma Viagem" (4:44)
10 - "Homem Velho" (4:32)
11 - "O Cabeção" (7:13)

Gravadora: EAEO
Produção: Fernando Catatau
Duração: 52 minutos

Hugo Hori: saxofone alto
Rian Batista: baixo e vocal
Clayton Martin: bateria e zabumba
Regis Damasceno: guitarra, sintetizador, violão e vocal de apoio; baixo baixo em "O Nada", "Como As Luzes" e "Deus É Uma Viagem"
Tiquinho: trombone
Reginaldo: trompete
Fernando Catatau: vocal, guitarra, violão, teclado, bateria eletrônica, tambourine e auto-harpa

Convidados:

Arnaldo Antunes: vocal em "Doido" e "O Cabeção"
Edgard Scandurra: vocal em "Dói"
Karina Buhr: tambourine em "Como As Luzes"
Marcos Axé: congas em "Homem Velho" e em "O Cabceção"



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