Discos para história: Acústico MTV, de Cássia Eller (2001)


História do disco

Cássia Eller foi uma das melhores intérpretes da música brasileira. Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, o sucesso dela era gigante graças ao álbum "Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo" (1999). Só dava ela nas rádios e nos programas. Tímida para falar aos microfones, se soltava completamente quando subia no palco e cantava qualquer coisa -- qualquer coisa mesmo. Disso, partiu o convite para gravar o Acústico MTV.

A versão brasileira era uma cópia do trabalho feito na matriz nos Estados Unidos de bastante sucesso ao conseguir reunir grandes artistas para cantar novas versões de canções conhecidas do público. Aqui também conseguiram êxito não só para firmar de vez bandas e cantores, como serviu para reviver a carreira de muita gente colocada de lado pelo tempo. Com Cássia Eller, o projeto era claro: aproveitar o sucesso do álbum de estúdio lançado pouco tempo antes e do crescimento nas rádios e nas TVs. Em entrevista para a 'Folha de S. Paulo', publicada uma semana após a morte dela, a cantora havia dado pistas sobre o repertório.

"Sempre gostei de escutar a música como um todo. Eu nunca me encantei exatamente com as vozes das cantoras, exceto a Nina Simone. De vez em quando até imito ela. No mais, a Elis é a cantora brasileira que mais aprecio, mas não foi uma influência forte. No meu repertório não se vê nada que possa ser comparado com alguma cantora brasileira", disse ela.

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Em um vídeo para o canal que mantém no YouTube, o cantor e compositor Nando Reis contou bastidores dos ensaios em um sítio no interior do Rio de Janeiro e como a precariedade da rede elétrica acabou ajudando a formatar o arranjo de um dos grandes sucessos do acústico gravado pela cantora.

"Quando Cassia me convidou para produzir o segundo disco, 'Acústico MTV', nós combinamos que íamos ensaiar num sítio fora do Rio, em Teresópolis. Fomos para lá, mas a rede elétrica deste sítio era um desastre. A quantidade de equipamento era muito maior do que a rede suportava em relação à carga de energia necessária. Volta e meia caía a luz (...). Foi justamente num dia de chuva, que a rede caiu, saímos do estúdio e fomos para a casa jogar buraco, esperando a chuva passar e voltar a luz. Ficamos ouvindo rádio. Neste momento, tocou 'My pledge of love', do Joe Jeffrey, que é uma música dos anos 60 ou 70 que eu amo. Aí me veio a luz para o arranjo de 'Malandragem'", revelou.

Na turnê de divulgação do álbum, em agosto de 2001, para o 'Estadão', a cantora falou do projeto e disse ter vontade de gravar o Acústico "desde o do Gilberto Gil" e que o projeto começou em 2000, quando os produtores Luiz Brasil e Nando Reis foram "apresentando músicas, como 'Vá Morar com o Diabo', de Riachão", um dos grandes sucessos do trabalho naquele ano por conta da bonita interpretação da cantora.

Ainda para no YouTube, Reis revelou um bastidor conhecido sobre a gravação da música de Riachão. Segundo ele, a cantora estava nervosa, errou muitas vezes e contou com a paciência de todos até certar a versão que entrou no programa.

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"A gravação do 'Acústico' foi em dois dias. E havia uma música do Riachão, 'Vá Morar com o Diabo', que Cássia não acertava de maneira alguma. Acho que tivemos que refazer umas dez ou onze vezes. Me lembro bem que a gravação foi ao vivo. Ela errava a letra e a gente tinha que parar. E não tinha TP, Cássia nunca gostou de cantar com TP ou cola. Lembro de ter subido no palco e falado: 'Cássia, calma. Você vai acertar'. Evidentemente, ela acertou e a música ficou lindíssima", contou.

Gravado nos dias 7 e 8 de março, o "Acústico MTV - Cássia Eller" foi lançado em 5 de maio de 2001 e foi um sucesso de público e crítica, sendo o álbum mais vendido da cantora até hoje e colocou Cássia Eller de vez nas rádios, TVs e corações dos brasileiros. Em 2006, o trabalho conseguiu Disco de Diamante ao atingir 1 milhão de cópias vendidas. E isso mostra que a cantora nunca será esquecida.

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Resenha de "Acústico MTV - Cássia Eller"

Uma cantora do nível de Cássia Eller consegue cantar qualquer coisa, certo? Certo. Inclusive uma versão de "Non, je ne regrette rien", um dos grandes sucessos da cantora francesa Edit Piaf, certo? Consegue. É com essa música que ela abre o "Acústico MTV" em uma versão das mais bonitas. Da voz ao arranjo, foi o primeiro de 17 acertos do trabalho. Mas foi com a versão de "Malandragem", de Cazuza e Frejat, que a cantora ganhou o Brasil ao dar voz em uma das canções mais bonitas da dupla. Essa música é pura Cássia Eller, que praticamente tomou a canção para si. Se é para ouvir "Malandragem", que seja com ela.

A sequência com "E.C.T.", "Vá Morar com o Diabo", "Partido Alto", "1º de Julho" e "Luz dos Olhos" mostra uma cantora muito versátil. E isso beira o inacreditável. É espantoso ver alguém com tanto talento cantando músicas tão diferentes com uma competência incrível. Cássia Eller era mesmo diferente. E ela ainda consegue dar mais emoção em uma bonita interpretação de "Todo Amor Que Houver Nessa Vida", outra da dupla Cazuza e Frejat.

Mas, para a maioria das pessoas, o grande momento do disco é quando chega "Por Enquanto", "Relicário" e "O Segundo Sol", três grandes sucessos da carreira da cantora e que embalou muita gente ao longo dos anos seguintes. São músicas lindas com versões muito delicadas e de bom gosto, e só mostram como Nando Reis foi o compositor ideal para preencher lacunas do repertório de Cássia Eller. E a participação dele em "Relicário" é bonita e muito comovente, um bonito exemplo de como o amor transcende qualquer coisa quando é sincero e incrível como o deles.

O final do álbum é mais animado e ajuda a mostrar o lado mais festivo do trabalho, que contou com as participações do rapper Xis e da Nação Zumbi, sempre algo a parte em qualquer apresentação em qualquer canto do planeta, sendo "Quando a Maré Encher" o destaque dessa parte.

Em pouco mais de uma hora, Cássia Eller contou com ajuda de um ótimo repertório e grandes músicos em um ótimo trabalho. É um perfeito resumo da carreira e consagração de uma voz marcante que faz falta.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Non, je ne regrette rien" (Michel Vaucaire e Charles Dumont) (2:52)
2 - "Malandragem" (Cazuza e Frejat) (4:00)
3 - "E.C.T." (Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown) (3:31)
4 - "Vá Morar com o Diabo" (Riachão) (2:58)
5 - "Partido Alto" (Chico Buarque) (3:19)
6 - "1º de Julho" (Renato Russo) (4:52)
7 - "Luz dos Olhos" (Nando Reis) (4:10)
8 - "Todo Amor Que Houver Nessa Vida" (Cazuza e Frejat) (3:42)
9 - "Queremos Saber" (Gilberto Gil) (3:13)
10 - "Por Enquanto" (Renato Russo) (2:24)
11 - "Relicário" (participação de Nando Reis) (Nando Reis) (3:49)
12 - "O Segundo Sol" (Nando Reis) (4:17)
13 - "Nós" (Tião Carvalho) (3:03)
14 - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (Lennon-McCartney) (2:54)
15 - "De Esquina" (participação de Xis e Nação Zumbi) (Xis) (4:29)
16 - "Quando a Maré Encher" (participação de Nação Zumbi) (Fábio Trummer, Roger Man e Bernardo Chopinho) (3:28)
17 - "Top Top" (Os Mutantes e Liminha) (3:02)

Gravadora: Universal
Produção: Luiz Brasil e Nando Reis
Duração: 61min56s

Cássia Eller: vocal, violão e violão de 12 cordas
Luiz Brasil: banjo de 6 cordas, vocal de apoio, violão, mandolim e ukulele
Fernando Nunes: baixo acústico e vocal de apoio
Walter Villaça: violão, violão de 10 cordas e violão de 12 cordas
Yura Ranevski: violoncelo
Cristiano Alves: clarinete
Dirceu Leite: clarinete, flauta e clarim
Alberto Continentino: contrabaixo
João Viana: bateria, percussão, surdo, ganzá e vocal de apoio
Paulo Calasans: órgão e piano
Lan Lan: pandeiro, percussão, tamborim, bongôs, congas, efeitos e vocal de apoio
Thamyma: percussão, pandeiro e efeitos
Bernardo Bessler: violino

Participações especiais:

Nando Reis: vocal e violão na faixa 11
Xis: vocal na faixa 15
Nação Zumbi: instrumentos diversos nas faixas 15 e 16

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