Discos para história: Roberto Carlos, de Roberto Carlos (1971)


História do disco

Roberto Carlos é o cantor brasileiro mais importante de todos os tempos. Independentemente de ser o melhor, ele é o mais famoso e mais reconhecido em todo Brasil pela longevidade e pelo repertório construído em quase 60 anos. É possível dividir a carreira dele em duas fases: Jovem Guarda e depois. Se na companhia de Erasmo Carlos, Wanderléa e outros nomes, ele se consagrou com músicas alegres e descompromissadas, quando partiu para fora dessa bolha, Roberto Carlos apostou em um repertório sólido baseado no romantismo como peça principal de suas canções, mas o importante foi a inclusão de uma forte parte religiosa no discurso. Aí, o que já era sucesso virou um fenômeno.

Aos 31 anos, ele já era um artista consolidado e sabia que não funcionaria mais ficar falando sobre os mesmos assuntos a vida inteira. Ele queria evoluir musicalmente e sabia que a nova década seria fundamental para isso. Os dois trabalhos anteriores foram a maturação necessária do material em que o grande símbolo é a faixa "Jesus Cristo", sucesso até hoje em qualquer apresentação dele em qualquer lugar do mundo.

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O sucesso de Roberto Carlos era uma aposta tão certeira para a gravadora CBS, que ele foi mandado para Nova York com banda e o produtor Evandro Ribeiro para ter o disco arranjado pelo músico e maestro Jimmy Wisner, pianista de bastante sucesso no início dos anos 1960 até colocar a carreira de lado para ocupar cargos no departamento musical Columbia ao longo de vários anos.

Essa produção cara refletia as ambições e desejos do cantor de evoluir. Ele sabia que ser um roqueiro rebelde pelo resto da vida até poderia mantê-lo em atividade pelos anos seguintes, porém seria impossível bancar esse papel para sempre. As influências do soul, do gospel, do rock, do pop e da música brasileira, da Tropicália ao sambalanço, estavam circulando na ditadura brasileira que, queiram ou não, influenciou muita gente -- a falar ou a ficar calada. Ele estava pronto para pular do barco da Jovem Guarda e entrar no navio de um carreira que, pelo menos nos primeiros anos, incluiria tudo isso nos mínimos detalhes. É essa mescla que faz falta no repertório acomodado de um cantor que aposta sempre nas mesmas figurinhas de sempre.

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A busca por um romantismo adulto fez do álbum lançado em 1971 um marco na carreira do cantor, que até hoje coloca o trabalho como um dos melhores feitos por ele. Saber aonde ir depois do sucesso na juventude era fundamental para fazer ainda mais sucesso. Roberto Carlos não só conseguiu isso com esse álbum, como ainda vislumbrou para o futuro um repertório forte até o dias atuais. A virada de década foi importante para muitas pessoas, mas para Roberto Carlos foi o início de um reinado na música brasileira.

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Resenha de "Roberto Carlos (1971)"

Não sei vocês, mas um disco que começa com "Detalhes" não tem como ser ruim. Os primeiros 30 segundos da música são suficiente para ganhar o coração e os ouvidos de qualquer um que tenha o mínimo de humanidade. E como era bem gravado. A qualidade dos músicos e dos arranjos em uma letra simples e fatal nos corações mais cansados é de deixar qualquer um com bastante inveja. Um clássico que deu às caras pela primeira vez e fez história.

Talvez para quem não conheça a história, ver "Como Dois e Dois", de Caetano Veloso, presente em um álbum de Roberto Carlos pode ser uma surpresa. Mas os dois são amigos e Roberto visitou Caetano no exílio em Londres e o viu chorar quando tocou uma versão voz e violão de "As Curvas da Estrada de Santos". Inspirado pela presença do amigo na capital inglesa, Caetano compôs essa música sobre o exílio não barrada pela censura. Nessa faixa, o músico fala sobre todos os problemas de ter sido expulso do próprio país.

Foi dessa visita que surgiu a ideia de uma homenagem ao amigo exilado e assim nasceu "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", uma das melhores músicas do repertório de Roberto Carlos. O incrível é que a censura também passou batido por ela, já que pensaram em se tratar de uma homenagem à mulher do cantor, Nice. É uma canção muito triste, principalmente quando a história original é aprendida e só mostra que a ditadura é algo cruel e quem defende não merece atenção -- merece ser preso.

Avançando um pouco mais no repertório, "A Namorada", "Se Eu Partir" e "I Love You", canção que mostra que o talento de crooner de boate ainda estava vivo, e "De Tanto Amor" solidificam a intenção de apostar em baladas românticas com mais força a partir desse álbum.

Mas não faltam músicas que refletem as experiências do cantor até ali, papel cumprido por "Você Não Sabe o Que Vai Perder", composta por Renato Barros -- líder de Renato e Seus Blues Caps --, e ainda há espaço para as dramáticas "Traumas" e "Eu Só Tenho Um Caminho", além do soul dançante "Todos Estão Surdos", sobre os assuntos palpitantes da época. É um disco que tem de tudo um pouco ao expor um pouco mais dos pensamentos de Roberto Carlos sobre ele mesmo e a vida.

O LP encerra com "Amada Amante", uma canção que pode ser entendida sobre uma relação extraconjugal ou a então esposa. Seria um dos últimos momentos de Roberto Carlos dando indícios sobre esse tipo de coisa ou a qualquer especulação sobre a vida pessoal. A partir desse trabalho, ele focaria em um repertório para agradar as fãs, que estavam envelhecendo como ele, enquanto evitava se meter em confusão com a ditadura militar para vender milhões de discos pelo Brasil. E foi com esse álbum de 1971 que, definitivamente, fincou o cantor no imaginário nacional.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Detalhes" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (5:03)
2 - "Como Dois e Dois" (Caetano Veloso) (3:23)
3 - "A Namorada" (Maurício Duboc/Carlos Colla) (3:13)
4 - "Você Não Sabe o Que Vai Perder" (Renato Barros) (2:57)
5 - "Traumas" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (4:08)
6 - "Eu Só Tenho Um Caminho" (Getúlio Côrtes) (2:39)
7 - "Todos Estão Surdos" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (4:17)
8 - "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (3:47)
9 - "Se Eu Partir" (Fred Jorge) (3:41)
10 - "I Love You" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (2:39)
11 - "De Tanto Amor" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (3:24)
12 - "Amada Amante" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) (3:58)

Gravadora: CBS
Produção: Evandro Ribeiro
Duração: 43min15s

Roberto Carlos: vocal
Rick Ferreira: guitarra
Paulo César Barros: baixo
Altamiro Carrilho: flauta em "Detalhes"
Jimmy Wisner: arranjo
Lafayette: órgão Hammond em "Eu só tenho um Caminho" e "Amada Amante"
Chiquinho de Moraes: arranjo de "Eu Só Tenho um Caminho" e "Amada Amante"

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