Discos para história: Wasting light, do Foo Fighters (2011)


História do disco

O Foo Fighters já era uma grande banda quando o novo século surgiu, fruto do trabalho incansável de Dave Grohl, o cara mais legal do rock. Ele aproveitou essa primeira década para tirar o pé do acelerador ao apostar em um repertório mais acústico sem abandonar as guitarras altas em um momento ou outro. Consolidado no mainstream como um dos símbolos do gênero, o grupo poderia fazer musicalmente o que bem entendesse sem problema. Mas Grohl sabia que a banda ainda devia um grande disco, algo que marcasse a carreira dele e dos outros integrantes/amigos/empregados/companheiros.

Tomado pelo gosto de trabalhar, Grohl estava envolvido com a turnê mundial do Them Crooked Vultures, projeto paralelo com Josh Homme, do Queens of the Stone Age, e John Paul Jones, ex-Led Zepelin. Durante esses dias, ele já estava pensando no que fazer ao voltar para a vida no Foo Fighters. E precisava ser algo ousado em todos os aspectos. O primeiro passo foi convidar Butch Vig para coproduzir o trabalho ao lado da banda -- Grohl e Vig só haviam trabalhado juntos uma vez: em "Nevermind", do Nirvana, um divisor de águas na carreira deles. O segundo foi avisar que o trabalho seria feito em 11 semanas na garagem da casa dele e tudo deveria ser gravado em fita.

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"Bem, no primeiro dia nos sentamos e conversamos. E ele soltou uma bomba: 'Quero fazer isso na minha garagem.' Eu pensei, bem, ele provavelmente tem uma garagem muito boa. Então descemos até lá, abrimos e é apenas uma pequena sala retangular de merda com cerca de 5 por 6, algo assim. Parecia apenas uma garagem com porcarias", contou Vig ao 'Sound on Sound'. "Mas colocamos um kit de bateria e quatro microfones, Dave começou a tocar e soou bem. Foi realmente intenso, porque a sala é pequena e a pressão do som estava alta demais. Então ele soltou a segunda bomba: 'Eu quero fazer isso em fita.' Eu estava tipo, 'OK ...'.", completou.

O que ele não esperava era que Grohl queria um trabalho como nos velhos tempos, com um equipamento 100% analógico. Uma loucura, dado o nível de orçamento que ele tinha para fazer o que bem entendesse.

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"Butch disse: 'se tivermos algum problema real, podemos sempre usar o Pro Tools'. Eu disse: 'Não, não, não, cara. Nada de computadores, porra. Nem um computador. Nenhum.' Pessoalmente, sempre preferi usar fita, porque gosto do som. Não gosto da atitude mecânica e perfeccionista de fazer música. Ele disse: 'sabe, vou ter que pegar minha lâmina de barbear para editar'. Eu disse: 'já vi você fazer isso antes, sei que você pode'", revelou o líder do Foo Fighters.

Então eles só teriam à disposição o mesmo gravador analógico usado em "There Is Nothing Left to Lose" (1999), que ficava no porão de uma casa na Virgínia onde Grohl vivia à época. Ou seja, uma banda com orçamento milionário queria fazer um rock de garagem com um equipamento velho e sem nenhum glamour. Para alguns, mais uma tacada de marketing de Grohl; para outros, ele queria resgatar o rock que tanto ama fazendo as coisas à moda antiga.

"Achei que gravar em casa, com equipamento analógico, faria desse novo disco uma experiência. Não poderia ser apenas mais um disco. Fizemos alguns discos no Studio 606, usamos Pro Tools e usamos fita. Portanto, foi apenas uma questão de mudar o processo para torná-lo emocionante", contou ele à 'Guitar World'.

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Além disso, Grohl desenhou "Wasting Light" para ser uma celebração a própria história ao reunir nomes, além de Vig, como Krist Novoselic (ex-baixista do Nirvana) após 17 anos, e Bob Mould, ex-vocalista do Hüsker Dü, uma das bandas idolatradas por Grohl na adolescência. E ainda havia o retorno definitivo de Pat Smear como membro fixo 14 anos após a saída.

O projeto ganhou um tamanho imenso quando uma equipe de filmagem acompanhou o processo de gravação do início ao fim para inclui-lo na parte final de "Back and Forth", documentário que passa a limpo a história do Foo Fighters -- as partes mais desagradáveis não estão escondidas, mas não são expostas a ponto de criar qualquer ferida.

Lançado em 12 de abril de 2011, "Wasting Light" é considerado o melhor álbum da banda por ser consistente do início ao fim, diferente da maioria dos trabalhos do grupo. E, mais do que isso, Grohl celebra o fato de ter conseguido usar o álbum não só para falar dele mesmo e da superação dos próprios traumas, como ainda mostrou ser legal ter uma banda de rock e que a perseverança é chave de qualquer coisa na vida. Enfim, se o Foo Fighters tinha uma dívida, ela foi paga com juros e correção.

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Resenha de "Wasting Light"

O álbum abre com "Bridge Burning" ao abordar tristeza, depressão e empatia. Nessa música, Grohl quer mostrar o amor dele pela música pop, de nomes como Bee Gees e ABBA, que ele gosta no mesmo nível dos grupos como Kiss e Hüsker Dü. Esse estilo mais grudento saiu dessa tentativa em fazer algo com um refrão e um pré-refrão potentes. Apostando na potência das três guitarras em "Rope", o primeiro single surge para falar como é fundamental ajudar uma pessoa que está com problemas e se afunda cada vez mais neles. Uma coisa a prestar atenção é como o vocal de apoio do baterista Taylor Hawkins é fundamental do desenvolvimento da letra.

Um dos grandes momentos do álbum é a terceira faixa. "Dear Rosemary" traz Bob Mould, um dos grandes ídolos de Grohl, no vocal e na guitarra. Segundo o próprio guitarrista, a faixa soou tão Hüsker Dü que não faria o menor sentido não ter Mould como convidado. E isso não foi bom apenas para o Foo Fighters, como fez a carreira solo de Bob Mould atingir ainda mais pessoas. Depois, para relaxar, chega "White Limo" e toda sua potência sonora para provar que o Foo Fighters é muito rock, 'meo'.

Como todo adolescente, Grohl sonhava em deixar o local de origem. Ao crescer, percebeu querer voltar para lá por não suportar a vida nas grandes cidades. E assim nasceu "Arlandria", uma bonita letra para celebrar o local que ele escolheu para viver com a família ("My sweet Virginia, I'm the same as I was in your arms / My sweet Virginia, I'm the same as I was in your heart"). Outra letra muito bonita é "These Days", momento em que todo mundo ouve como Grohl é bom em fazer letras cheias de sentimento e muito melódicas.

Um pouco menos boa do que as outras, "Back & Forth" consegue chamar a atenção pela ponte e pelo refrão bem construídos, e "A Matter of Time" fala sobre como é possível seguir apesar dos erros do passado. E ainda traz um dos riffs mais pesados do álbum, como "Miss the Misery" -- essa aborda como existem momentos na vida em que gostamos de sofrer de forma desnecessária.

Mas é nas duas últimas faixas que o Foo Fighters brilha. A primeira é na delicada e bonita "I Should Have Known", quando Grohl aborda o suicídio de Kurt Cobain pela primeira vez em uma música e com participação de Krist Novoselic no baixo e no acordeão. E "Walk" é aquele encerramento com uma mensagem positiva sobre superar obstáculos e recomeçar -- de novo, como o Foo Fighters é bom para fazer esses arranjos melódicos.

"Wasting Light" é o melhor álbum da carreira do Foo Fighters por conseguir unir o melhor de todos os integrantes e convidados sob a batuta do incansável Dave Grohl. Demorou muito, mas, enfim, a banda conseguiu um trabalho sólido para chamar de seu e passou a colher os frutos desse merecido sucesso nos anos seguintes.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Bridge Burning" (4:46)
2 - "Rope" (4:19)
3 - "Dear Rosemary" (4:26)
4 - "White Limo" (3:22)
5 - "Arlandria" (4:28)
6 - "These Days" (4:58)
7 - "Back & Forth" (3:52)
8 - "A Matter of Time" (4:36)
9 - "Miss the Misery" (4:33)
10 - "I Should Have Known" (4:15)
11 - "Walk" (4:16)

Gravadora: Roswell/RCA
Produção: Foo Fighters e Butch Vig
Duração: 47min54s

Dave Grohl: vocal, guitarra base; guitarra solo em "White Limo"
Pat Smear: guitarra e guitarra barítono
Nate Mendel: baixo
Taylor Hawkins: bateria, vocal de apoio e percussão
Chris Shiflett: guitrarra, vocal de apoio, violão tenor; guitarra base em "White Limo"

Convidados:

Bob Mould: guitarra e vocal em "Dear Rosemary"; vocal de apoio em "I Should Have Known"
Krist Novoselic: baixo e acordeão em "I Should Have Known"
Rami Jaffee: teclado em "Bridge Burning" and "Rope"; mellotron em "I Should Have Known"; órgão em "Walk" e "Dear Rosemary"
Jessy Greene: violino em "I Should Have Known"
Fee Waybill: vocal de apoio "Miss the Misery"
Butch Vig: percussão em "Back & Forth", Drew Hester: percussão em "Arlandria"; campana em "Rope"

Alan Moulder: mixagem
Joe LaPorta e Emily Lazar: masterização
James Brown: engenheiro de som

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