Discos para história: Infame, do Babasónicos (2003)

História do disco

"O Babasónicos faz discos quando os anteriores expiram. Quando um disco tem contato com o público, já pertence a quem o ouve e tem lugar no imaginário, já não é mais o nosso mundo. Quando percebemos que o material não nos dá mais arrepios, temos vontade de tocar algo diferente", disse o vocalista Adrián Dargelos, em entrevista ao site do jornal 'La Capital', em 2003.

Esse pensamento vinha pouco mais de dois anos depois do lançamento de "Jessico", considerado até aquele momento o melhor trabalho de estúdio da banda argentina formada em 1991, ao conseguir contar com maestria o momento sociopolítico e econômico de uma das maiores crises da história. E foi um enorme sucesso não apenas na Argentina, mas em toda América Latina que fala espanhol.

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Após algo assim, grandioso e considerado histórico desde o primeiro momento, seguir é sempre complicado por vários fatores. Há o medo de não repetir o sucesso, o aumento considerável da carga de trabalho a ponto de o trabalho de composição ficar comprometido, a possibilidade de acomodação por ter hits que as pessoas adoram e o perigo de perder o embalo. E ainda veio uma longa turnê que foi da Argentina ao México em pouco mais de um ano e meio.

O vocalista e compositor Adrián Dárgelos não queria mais soar como antes. Esse era o pensamento em "Jessico" que, por não ser mais uma banda nova, decidiram arriscar no trabalho de fazer canções de um jeito diferente. Deu certo. Agora, ele não quer repetir o trabalho anterior, partindo para um estilo mais livre e espontâneo desde o início. Isso causou nervosismo ao longo desse processo de gravação no estúdio Panda entre setembro e outubro de 2003. Não nos outros integrantes, mas no próprio Dárgelos, que explicou a feliz escolha do nome do álbum também para 'La Capital'.

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"Chamei de 'Infame' devido à época onde muita gente sem nenhum talento tem acesso à notoriedade; é o período mais infame depois da segunda década infame, que seria o 'Menemismo' [nome das políticas implementadas pelo presidente Carlos Saúl Menem de 1989 a 1999, durante dois mandatos]. Mas não quero dar-lhe um significado social e dizer 'isto é infame'. No mundo, todos os valores parecem estar no mesmo limiar. Todos os que aparecem nas revistas são infames para mim", explicou.

Ao longo dos meses de atenção da crítica e de outro público, a banda enfrentou as críticas dos fãs mais antigos, que não gostavam das novas músicas e de toda atenção recebida ao longo dos meses de sucesso do então novo álbum. Essa fricção aumentaria consideravelmente com o lançamento de "Infame", em 19 de outubro de 2003. 

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Acabou sendo outro enorme sucesso mais uma vez, arrebatando prêmios e transformando o Babasónicos de vez na melhor banda de rock argentina do início do século XXI. Para muitos, o peso disso poderia soar uma enorme responsabilidade, mas Dárgelos não enxerga a música com esse prisma.

"Não acho que o rock mude as coisas. Nunca me considerei um porta-voz do meu público, sendo o que outras bandas fazem. O rock não muda nada, é entretenimento, isso tenho certeza. O rock desencadeia ideias que por sua natureza são contrárias à moralidade do presente (...). Imediatamente o meio os acolhe e os torna padrões. Se as más ideias serão aceitas tão rapidamente, então espalhemos essas ideias. Mas não é messiânico. Dessa forma, não mudarei o comportamento que forma a cultura", disse.

Crítica de "Infame"

Uma das opções do Babasónicos nesse trabalho foi a continuação da parceria com o produtor Andrew Weiss, que teve como papel principal ajudar no equilíbrio do uso das guitarras em canções extremamente pop, como na abertura chamada "Irresponsables", e com o uso do sintetizador ao longo do álbum. Falando da primeira faixa, é muito difícil não ficar completamente contagiado pelo ritmo — um rock bem argentino.

As guitarras seguem firme na suave melodia de "Risa" e o baixo brilha na balada "Estertor" ("Olvidemos todo de una vez/ Así, hagamos un trato/ Que podamos sostener/ Aquí, al menos un rato"), mas tudo muda completamente em "Pistero". O banjo misturado com elementos eletrônicos em uma faixa que, gravada hoje, certamente ganharia uma versão remix de algum DJ famoso. Há dez anos, soaria datada; em 2023, soa mais atual do que nunca em todos os aspectos.

Uma das grandes músicas do trabalho e da discografia é a linda e delicada "Putita" por colocar a pauta da alegoria da fama e como chegar nela a qualquer custo pode ter consequências futuras. E se "Suturno" é uma música bem do início dos anos 2000, "Mareo" é uma espécie de tango com a guitarra chorosa funcionando como o guia para a melancólica letra e "Sin Mi Diablo" aposta no peso para falar da fama de maneira metafórica usando momentos de prazer como pontos de críticas.

A romântica "Curtis" tem um refrão certeiro para fazer sucesso ("Para enamorarme/ No necesito tu consentimiento/ Dame un solo beso/ Que dure más que una mentira") e emenda com a dançante "Y Qué", que mistura o eletrônico com as guitarras e conta com uma ótima parte instrumental. E é muito difícil não ficar completamente encantado com "La Puntita", uma canção romântica que não apela para o clichê dos sentimentos.

Se não há um único caminho para ser feliz, como diz a letra de "Fan De Scorpions", "Gratis" passa uma mensagem muito potente com uma melodia muito sutil e no ponto certo ("Me viajé, sin humildad/ Al corazón de la basura/ Lo hice por mi/ Como me sobra, reparto/ No me guardo el secreto/ Y te convido con palabras, las mil maravillas"). Por fim, "Once" traz o rock de volta com um pedido: se o gênero morrer, por favor, dancem até o fim e acabem com tudo de uma vez.

Um sucesso é bom, outro é ainda melhor. Da desconfiança até a consagração, o Babasónicos mostrou um louvável poder de reinvenção sem medo de desagradar os antigos fãs ou das críticas. Ao lançar dois discos grandiosos em pouco tempo, eles mostram que tudo que a vida requer é coragem para mudar.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Irresponsables" (2:36)
2 - "Risa" (3:07)
3 - "Pistero" (2:59)
4 - "Estertor" (3:03)
5 - "Putita" (3:46)
6 - "Suturno" (3:54)
7 - "Mareo" (3:32)
8 - "Sin Mi Diablo" (3:01)
9 - "Curtis" (3:27)
10 - "Y Qué" (3:07)
11 - "La Puntita" (3:13)
12 - "Fan De Scorpions" (2:15)
13 - "Gratis" (3:05)
14 - "Once" (2:33)

Todas as músicas foram escritas por Adrián Dárgelos

Gravadora: PopArt Discos
Produção: Andrew Weiss e Babasónicos
Duração: 43min39

Adrián "Dárgelos" Rodríguez: vocal
Diego "Uma" Rodríguez: guitarra, vocal de apoio e percussão
Diego "Uma-T" Tuñón: teclado
Diego "Panza" Castellanos: bateria
Mariano "Roger" Domínguez: guitarra e vocal
Gabriel "Gabo" Manelli: baixo