Discos para história: An Evening with Billie Holiday, de Billie Holiday (1953)

História do disco

Os anos 1940 foram de consagração para Billie Holiday, já considerada por muitos uma das grandes cantoras americana ainda naquela época. Mas o final da década trouxe o gosto amargo de uma prisão por porte de drogas e condenação a passar um tempo na cadeia, sendo liberada oito meses depois por bom comportamento. Isso seria algo marcante até o fim da vida, principalmente pelo cancelamento da autorização para cantar nos lugares que pagavam melhor.

A situação só piorou com o passar dos anos e, no início dos anos 1950, a situação da vida pessoal piorou. Sem dinheiro, sem receber os royalties de maneira adequada — situação que durou até o fim da vida — e dependendo da boa vontade dos amigos, e inimigos, donos das boates, ela se afundou ainda mais no vício em drogas, álcool e na própria paranoia. A situação com as gravadoras também era inconstante: ao todo, ela lançou músicas por cinco selos. 

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A nova década começou como contratada da Decca e, após uma curta passagem pela Aladdin, acabou fechando com a Clef. Fundada por Norman Granz, a gravadora acabaria sendo incorporada pela Verve em 1956, também criada por Granz. Graças ao bom gosto do novo patrão, Holiday acabou gravando com uma banda minimalista para destacar o desempenho vocal. Acabou dando certo, por algum tempo, e as gravações desse período — mesmo com a voz já não sendo a mesma de antes — são consideradas importantes na discografia da cantora.

Em abril e julho de 1952, em duas sessões rápidas, a cantora entrou em estúdio para gravar as canções de "An Evening with Billie Holiday", o segundo LP da extensa carreira - o segundo pela Clef. Com a maioria dos singles das outras gravadoras fora de catálogo, o jeito era reaproveitar alguns dos sucessos e misturá-los com gravações inéditas de standards.

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Os dois anos seguintes após o lançamento de "An Evening with Billie Holiday", em março de 1953, seriam especiais com o sucesso inesperado de uma turnê europeia no ano seguinte e o lançamento da autobiografia, chamada "Lady Sings the Blues", em 1956, e base para o filme "O Ocaso de uma Estrela", de 1972, com Diana Ross no papel principal.

Seriam os dois últimos atos de uma estrela que dava os primeiros sinais de decadência na própria saúde. Mas ouvir Billie Holiday é saber que ela foi reconhecida como uma das grandes ainda em vida, merecendo ser lembrada pela eternidade.

Crítica de "An Evening with Billie Holiday"

Escrita em 1933, "Stormy Weather" foi gravada pela primeira vez por Billie Holiday na faixa de abertura de "An Evening with Billie Holiday". E com uma banda que abusava dos andamentos suaves, o vocal da cantora é o destaque principal, mas sem tirar o mérito dos músicos de estúdio — alguns dos melhores do ramo.

Gravada pela primeira vez em 1944, "Lover Come Back to Me" reaparece em uma versão mais moderna, quando o Holiday tem ume pequena falha na gravação, mostrando que os excessos cobraram a conta. "My Man", originalmente uma canção francesa chamada "Mon Homme", ganhou uma versão própria pela cantora no andamento de blue/jazz que ela introduziu. E fez enorme sucesso nas apresentações, é claro.

Outra do repertório antigo, "He's Funny That Way" foi escrita inicialmente do ponto de vista masculino, mas a história fez que a versão adaptada cantada por mulheres fizesse mais sucesso. Holiday a gravou pela primeira vez em 1937 e a manteve no repertório ao longo dos anos, principalmente quando queria falar de algum interesse amoroso.

A segunda parte do álbum começa com a agridoce "Yesterdays", letra que poderia ser sobre a própria vida da cantora que ela aceitaria sem problemas, em um jazz bem interpretado por cantora e banda, enquanto a balada "Tenderly", gravada pela primeira vez pelo brasileiro Dick Farney em 1946, ganha uma versão sensual que só Holiday poderia entregar. Por fim, "I Can't Face the Music" e a animada "Remember" encerram o álbum.

"An Evening with Billie Holiday" não é comparável com alguns dos melhores trabalhos da cantora, mas, mesmo sem estar nas condições ideais, ela ainda entrega um álbum acima da média e com um repertório cheio de clássicos da história da música americana. Uma pena ter morrido tão jovem.

Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Stormy Weather" (Harold Arlen, Ted Koehler) (3:41)
2 - "Lover Come Back to Me" (Sigmund Romberg, Oscar Hammerstein II) (3:36)
3 - "My Man" (Jacques Charles, Channing Pollack, Albert Willemetz, Maurice Yvain) (2:37)
4 - "He's Funny That Way" (Richard Whiting, Neil Moret) (3:11)

Lado B

1 - "Yesterdays" (Jerome Kern, Otto Harbach) (2:49)
2 - "Tenderly" (Walter Gross, Jack Lawrence) (3:23)
3 - "I Can't Face the Music" (Rube Bloom, Ted Koehler) (3:14)
4 - "Remember" (Irving Berlin) (2:34)

Gravadora: Clef
Produção: Norman Granz
Duração: 25 minutos

Gravação realizada em abril de 1952:

Billie Holiday: vocal
Charlie Shavers: trompete
Flip Phillips: saxofone tenor
Oscar Peterson: piano
Barney Kessel: guitarra
Alvin Stoller: bateria
Ray Brown: baixo

Gravação realizada em julho de 1952:

Billie Holiday: vocal
Joe Newman: trompete
Paul Quinichette: saxofone tenor
Oscar Peterson: piano; órgão em "Yesterdays"
Freddie Green: guitarra
Gus Johnson: bateria
Ray Brown: baixo

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