Discos para história: Jessico, do Babasónicos (2001)


História do disco

O rock argentino nunca escondeu que o país vive diversas crises, golpes e tudo isso junto há, pelo menos, 90 anos. Então, tentar separá-los é praticamente impossível. Em uma dessas crises, a de 2001, o Babasónicos lançou um dos melhores discos do gênero e um dos melhores da carreira.

Lançado em 25 de julho de 2001, "Jessico" foi um ponto de virada para uma banda já conhecida, mas que ainda não havia furado a própria bolha. Com esse álbum, o sexto da carreira, eles tocariam nas estações de rádio mais populares e escalariam a montanha rumo ao estrelado definitivo. Hoje, sem dúvida alguma, o Babasónicos é um dos grupos mais importantes da história do rock latino.

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Artistas e bandas de sucesso nos anos 1980 e 1990 já não tinham o mesmo impacto na Argentina e, excluindo o sucesso estrondoso da carreira solo de Gustavo Cerati, ex-Soda Stereo, ninguém estava realmente no melhor momento — para algumas bandas, como Los Fabulosos Cadillacs, era o fim da linha.

Para eles, muita coisa mudaria entre o fim de 1999 e o início dos anos 2000. DJ Peggyn, na banda desde 1994, saiu em 1999, o empresário também rompeu com o grupo e a Sony não renovou o contrato. Era muita informação em pouco tempo, então eles optaram por recesso de seis meses para reorganizar os pensamentos e planejar o futuro. A partir disso, a vida deles daria um 180º.

Primeiro, eles precisavam de uma gravadora e surgiu a PopArt Discos, uma gravadora independente recém-fundada e focada no rock local e cantado em espanhol. Era uma aposta e tanto para ambos. De um lado, uma banda com imenso potencial, mas recomeçando; do outro, um novo selo fundado em uma crise e sem perspectiva alguma de conseguir lucrar tão cedo com qualquer lançamento quando o povo não tinha como almoçar direito, muito menos comprar um disco.

Mas, ainda nos primeiros dias de gravação, havia um cheiro de novidade não visto há muito tempo no país. Sem inovação, beirando a estagnação, o rock local vivia as glórias do passado. O Babásonicos mudaria esse cenário com o novo trabalho de estúdio.

"Quando Roberto [Costa, um dos fundadores da gravadora] me diz 'vamos ouvir o que os Babasónicos estão fazendo', vamos ao estúdio e ouvimos um disco totalmente atípico ao que estávamos acostumados a ouvir na Argentina", disse Roberto Moles, diretor da PopArt, para o site do jornal 'La Nación'.

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"Além disso, imaginei algo muito mais alternativo e de repente começamos a ver sons diferentes. Rock, é claro, mas também sintetizadores por todos os lados e um sabor surpresa. Tinha algumas canções que tinham algo raro que nunca havia feitas no país antes", completou.

Um disco que representa bem a época do lançamento, "Jessico" não foi apenas o ressurgimento de uma banda. Também foi o passo para transformar a história do Babasónicos definitivamente. O burburinho pré-lançamento foi confirmado e, mesmo em um país prestes a entrar em uma das piores crises da história, o sexto álbum de estúdio é obrigatório para entender a Argentina. Definitivamente, é um mundo antes e depois.

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Resenha de "Jessico"

A transformação do Babasónicos começa justamente na primeira faixa do trabalho. O sintetizador domina "Los Calientes", mas, fundamental entender, que eles não perdem a essência e acrescentam elementos. O coral logo de início, a voz cheia de eco e essa mistura de eletrônico com rock convencional é algo refrescante e transformador na discografia da banda.

Em "Fizz", eles misturam o início da carreira dos Beach Boys com música local e um toque deles próprios, é claro, e tudo isso deixa a canção com um ar melancólico de refrão dançante — sim, é possível — para abrir caminho para a animada, de teor pop e totalmente eletrônica "Deléctrico" e para as roqueiras "Soy Rock" e "Pendejo", duas pauladas cheia de energia.

"El Loco" traz uma influência indiana em uma balada bem suave e tranquila com um dos melhores versos da discografia da banda ("Soy víctima de un Dios / Frágil, temperamental / Que en vez de rezar por mí / Se fue a bailar / A la disco del lugar") - virou uma das músicas mais famosas dos últimos 20 anos na Argentina. Depois surge a sequência formada pelas diferentes "La Fox" e "Tóxica", a prova definitiva que nada, nem ninguém, seguraria o Babasónicos. Eles fariam o que tinham vontade e ponto final.

Uma canção indecifrável é "Yoli". É rock? É country? É eletrônico? A faixa soa inspirada nos filmes de faroeste italianos dos anos 1960, mas é só. É difícil colocá-la em um gênero ou qualquer coisa do tipo, bem diferente da balada espetacular "Rubi", provavelmente, presente em um top 10 melhores canções da história do grupo.

"Camarín", outra balada, fala sobre o rockstar a partir da visão do crítico, enquanto "Atomicum" é um encerramento grandioso e merecido para um álbum espetacular e uma virada de carreira para o Babasónicos, hoje uma das maiores e melhores bandas do rock argentino com total justiça.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Los Calientes" (4:37)
2 - "Fizz" (2:48)
3 - "Deléctrico" (4:18)
4 - "Soy Rock" (2:40)
5 - "Pendejo" (3:17)
6 - "El Loco" (3:06)
7 - "La Fox" (2:22)
8 - "Tóxica" (Mariano Domínguez) (2:41)
9 - "Yoli" (3:23)
10 - "Rubi" (3:45)
11 - "Camarín" (5:21)
12 - "Atomicum" (2:51)

Todas as músicas foram compostas por Adrián Rodríguez, exceto a marcada

Gravadora: PopArt Discos
Produção: Andrew Weiss / Babasónicos
Duração: 41min10s

Adrián "Dárgelos" Rodríguez: vocal
Diego "Uma" Rodríguez: guitarra, vocal de apoio e percussão
Diego "Uma-T" Tuñón: teclado
Diego "Panza" Castellanos: bateria
Mariano "Roger" Domínguez: guitarra e vocal
Gabriel "Gabo" Manelli: baixo

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