Discos para história: Elephant, do White Stripes (2003)

História do disco

"Seven Nation Army", do White Stripes, virou um superhit na segunda década dos anos 2000 em campos, quadras ou qualquer lugar que existisse uma abertura ou encerramento de um evento esportivo. Tal qual "We Are the Champions", do Queen, a faixa virou uma febre entre os organizadores e é a abertura oficial do Dia de Jogo, da Premier League. Parte de "Elephant", a canção é um dos muitos sucessos do trabalho que mudou o duo formado por Jack e Meg White de patamar.

Naquela época, as bandas com guitarras estavam fazendo uma espécie de ressurgimento com várias bandas dos Estados Unidos, como The Strokes, The National e Black Keys, aparecendo com os primeiros trabalhos e despejando referências dos mais variados artistas em álbuns que fariam parte das cabeças e corações das pessoas ao longo dos anos.

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O White Stripes não era diferente ao colocar na mesa o rock, o blues e tudo que eles gostavam de ouvir desde cedo. Entre 2001 e 2002, a dupla fez de "White Blood Cells", terceiro álbum de estúdio, um sucesso inesperado e o crescimento fez a dupla fazer turnês rentáveis por Estados Unidos e Europa. E assim como todo artista, aproveitar o momento para gravar um novo álbum era importante. E assim foi feito.

O local escolhido por White para gravar o novo disco foi o Toe Rag Studios, em Londres. Até hoje, todo equipamento disponível por lá foi produzido e instalado, no máximo, até a primeira metade da década de 1960 — as notas do encarte do CD e LP trazem o comunicado: "nenhum computador foi usado durante a composição, gravação, mixagem e masterização deste registro". 

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Com exceção das faixas "Well It's True That We Love One Another" e "Hypnotize", gravadas no final de 2001, o resto do álbum foi feito em duas semanas de abril de 2002, justamente aproveitando o período da exitosa turnê pelo Reino Unido. Os White já tinham muito do repertório na cabeça, com muitas canções fazendo parte dos shows dos últimos anos, caso do cover de "I Just Don't Know What to Do with Myself". O resto era material escrito durante os shows e sobras dos trabalhos anteriores. Mais maduro, o casal estava pronto para fazer do álbum um manifesto próprio. E ao gravar de maneira analógica, Jack White, também produtor, dava um recado claro às novas tecnologias.

Em 2017, em uma longa entrevista para revista 'New Yorker, Jack White refletiu sobre a ascensão tão rápida da dupla de, basicamente, deixar de tocar em lugares pequenos para fazer shows lotados em lugares famosos pelo mundo.

"Não tínhamos nada a ver com o mainstream. Presumimos que a música que estávamos fazendo era privada, de certa forma. Viemos de um cenário em que há cinquenta pessoas em cada cidade. Algo estava além do nosso controle, no entanto. Agora é quinhentas pessoas, agora é uma segunda noite, o que está acontecendo? Todo mundo está louco?", refletiu. 

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Lançado em 1º de abril de 2003 (pois é), "Elephant" chegou ao primeiro lugar da parada do Reino Unido e na sexta posição nos Estados Unidos, empurrado pelo sucesso de "Seven Nation Army". O disco foi considerado um dos melhores álbuns daquele ano e chamado de "o ressurgimento definitivo da guitarra na música" no início dos anos 2000.

Era um mistério como duas pessoas podiam fazer tanto com apenas uma guitarra e uma bateria, mas o White Stripes fez. A rebelião tecnológica seguiria mesmo com o lançamento do iPod, pouco mais de um mês depois, e do iTunes, porque era muito mais sobre como fazer do que onde ouvir a música. Perto dos 30 anos, o então casal Jack e Meg fizeram de "Elephant" um tratado sobre amor pela música.


 Crítica de "Elephant"

O início de "Seven Nation Army" já pode ser considerado um clássico, de tão famoso que ficou nos últimos anos. A progressão da bateria da ótima Meg White, aliada com a voz de Jack White, dá o tom inicial da faixa. Então, ela explode com o riff de guitarra potente. O som do "baixo" nada mais é que White usando efeitos no pedal da guitarra para transformar o som. Assim, nasceu uma das músicas mais famosas dos últimos 20 anos.

Um dia, na escola, o pequeno John Anthony Gillis simplesmente se recusou a aprender matemática com um professor que não estava disposto a ouvir, mas apenas regurgitar informações retiradas diretamente do livro didático. Anos depois, ele escreveu a divertida "Black Math", quando brinca à vontade com as possibilidades da dupla formada pelo pedal e pela guitarra.

O country blues de "There's No Home for You Here" chega com o refrão grudento, trazendo no embalo a ótima versão de "I Just Don't Know What to Do with Myself", de Burt Bacharach e Hal David, conhecida na voz de Dusty Springfield. Meg brilha na sombria e elegante "In the Cold, Cold Night", na primeira vez em que teve a chance de cantar uma música em um disco. E uma das minhas preferidas da discografia da dupla é a melancólica "You've Got Her in Your Pocket" ("What kind of cartwheels do I have to pull?/ What kind of joke should I lay on her now?/ I'm inclined to go finish high school/ Just to make her notice that I'm around").

Depois, a delicada e só com White no violão, "You've Got Her in Your Pocket" é o momento de reflexão e uma boa pausa das guitarras, um convite ao ouvinte para relaxar e aproveitar. Então, os White convidam para o blues de volume alto chamado "Ball and Biscuit" que, em pouco mais de sete minutos, explode na segunda metade com White mandando ver na guitarra e White segurando o ritmo na bateria.

Outro sucesso do trabalho, com um dos clipes mais famosos das últimas décadas, "The Hardest Button to Button" foi feita de uma vez, no piano, para contar a história de um lar desfeito. E o destaque da faixa é a bateria de Meg White, que dá todo tom e faz toda diferença no resultado. E com introdução de Mort Crim, "Little Acorns" traz o tom sombrio novamente ao trabalho, já a curta "Hypnotize" mostra que White também pode fazer uma boa canção punk.

O country blues do White Stripes é muito bom porque a dupla não tem medo de simplesmente ir e fazer, caso da ótima balada "The Air Near My Fingers". O rock eficiente de "Girl, You Have No Faith in Medicine" e a acústica "Well It's True That We Love One Another", com participação de Holly Golightly no vocal, encerra o álbum.

"Elephant" segue fresco e único mais de duas décadas após o lançamento. Se Meg se aposentou dos palcos com o fim do White Stripes, Jack seguiu o rumo de uma carreira como músico, produtor e dono de gravadora. Mas o destino quis que os dois ficassem para a história com um dos álbuns mais importantes do início do século XXI.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Seven Nation Army" (3:52)
2 - "Black Math" (3:04)
3 - "There's No Home for You Here" (3:44)
4 - "I Just Don't Know What to Do with Myself" (Burt Bacharach/ Hal David) (2:46)
5 - "In the Cold, Cold Night" (2:58)
6 - "I Want to Be the Boy to Warm Your Mother's Heart" (3:21)
7 - "You've Got Her in Your Pocket" (3:40)
8 - "Ball and Biscuit" (7:19)
9 - "The Hardest Button to Button" (3:32)
10 - "Little Acorns" (Jack White/ Mort Crim) (4:09)
11 - "Hypnotize" (1:48)
12 - "The Air Near My Fingers" (3:40)
13 - "Girl, You Have No Faith in Medicine" (3:18)
14 - "Well It's True That We Love One Another" (2:43)

Gravadora: V2/ XL/ Third Man
Produção: Jack White
Duração: 49min56

Jack White: vocal, guitarra, piano e mixagem
Meg White: bateria e vocal

Mort Crim: introdução em "Little Acorns"
Holly Golightly: vocal em "Well It's True That We Love One Another"

Liam Watson: engenheiro de som e mixagem

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