História do disco
Sob circunstâncias misteriosas até hoje, a morte de Sam Cooke, em 11 de dezembro de 1964, nunca foi esclarecida completamente. Relatos oficiais apontam que ele provocou a própria morte ao entrar em confronto com a gerente do Hacienda Motel, em Los Angeles, chamada Bertha Franklin. Ao longo dos anos, amigos, parentes e admiradores contestaram a versão da polícia — Etta James viu o corpo e relatou um espancamento cruel que "a cabeça quase foi separada do resto do corpo".
Antes do terrível fim de um dos melhores cantores americanos do século XX, precisamente em 1960, Cooke assinava com a gravadora RCA Victor e recebia US$ 100 mil dólares pelo acordo e a garantia de ter Hugo Peretti e Luigi Creatore como produtores, parceria iniciada em "Tribute to the Lady", homenagem para Billie Holiday, de 1959. Era o início de um projeto de carreira dos mais promissores.
Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!Ao mesmo tempo que fazia esse movimento profissional importante, o cantor se mexia nos bastidores para fundar a própria editora, a Kags Music, e uma gravadora, chamada SAR. Os iniciantes Billy Preston e Bobby Womack foram alguns dos primeiros nomes a assinar com o agora também empresário Sam Cooke. Gravando ótimos singles e presença constante nas paradas, era suficiente para garantir fama e apresentações lotadas.
Mais álbuns dos anos 1960:
Discos para história: The Composer of Desafinado, Plays, de Tom Jobim (1963)
Discos para história: Live At The Apollo, de James Brown and the Famous Flames (1963)
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Discos para história: Peter, Paul and Mary, de Peter, Paul and Mary (1962)
Discos para história: The Soul of Ike & Tina Turner, de Ike e Tina Turner (1961)
Discos para história: O Sucesso É Samba, de Walter Wanderley (1961)
O início de 1963 corria muito bem para o cantor que, cada vez mais perto da independência financeira, faria um show histórico no The Harlem Square Club, em Miami, lançado oficialmente apenas em 1985. O trabalho mostrava os anos de gravações de um Cooke cada vez melhor e mais seguro de si. Ainda naquele ano, ele assinaria um contrato com Allan Klein, futuro empresário dos Rolling Stone e dos Beatles, para cuidar da editora e da gravadora. E ainda renovaria com a RCA por mais três anos, com uma cláusula de mais dois caso as partes assim desejassem.
Voando em céu de brigadeiro, pouco mais de um mês depois da apresentação em Miami, ele entraria em estúdio para gravar o futuramente chamado de "Night Beat" com uma banda simplesmente espetacular. Dividida em três dias, 22, 23 e 25 de fevereiro, as sessões contaram com o pianista Ray Johnson; o organista Billy Preston, de apenas 16 anos na época; os guitarristas Clifton White, Barney Kessel e René Hall; os bateristas Hal Blaine e Ed Hall; e o baixista Cliff Hils.
Veja também:
Discos para história: Modern Vampires of the City, do Vampire Weekend (2013)
Discos para história: Elephant, do White Stripes (2003)
Discos para história: Last Splash, das Breeders (1993)
Discos para história: The Hurting, do Tears for Fears (1983)
Discos para história: New York Dolls, do New York Dolls (1973)
Discos para história: Nora Ney, de Nora Ney (1958)
No período em que ele optou por, musicalmente, caminhar por canções mais pop e com esse álbum recém-gravado, uma tragédia pessoal faria Cooke suspender a carreira até o início de 1964. Na piscina da casa onde morava, Vincent, filho do cantor de apenas três anos, caiu e acabou morrendo afogado. Isso, mais o movimento pelos Direitos Civis e a independência financeira conquistada, mudaria a postura dele nos meses seguintes.
Lançado em agosto de 1963, "Night Beat" se destaca pelo entrosamento dos músicos e, principalmente, pelo vocal bem gravado de Cooke. Aos 32 anos e pronto para voos mais altos, ele vivia o auge físico e técnico de uma carreira que prometia ser longa e com frutos em várias frentes.
Crítica de "Night Beat"
Com arranjos do próprio Sam Cooke, "Nobody Knows the Trouble I've Seen" abre "Night Beat" e mostra todo potencial vocal dele, graças ao bom trabalho de mixagem em destacar exatamente o necessário para fazer o ouvinte prestar atenção na tocante letra, mesmo caso da balada "Lost and Lookin'" ("So I'm lost and I'm looking for my baby/ Wonder why my baby can't be found/ Lost and I'm searching for my baby/ Lord knows my baby ain't around").
Primeira de duas composições de Cooke no álbum, "Mean Old World" é deliciosa e traz uma banda tocando como se fosse jazz para um vocalista de soul. Isso faz toda diferença na faixa, que ganha muito nessa união de estilos. Passando para a mistura de blues e gospel, é possível ouvir o órgão de Billy Preston, futuro quinto beatle, na deliciosa "Please Don't Drive Me Away". As baladas melancólicas "I Lost Everything" e "Get Yourself Another Fool" fecham o lado A.
O blues "Little Red Rooster" abre a segunda parte de uma maneira muito, muito sensual, e conta com um "duelo" entre Preston e o pianista Ray Johnson, mas o tom muda completamente na melancólica "Laughin' and Clownin'", segunda composição de Cooke no álbum, um lamento de um homem que esconde os próprios sentimentos.
"Trouble Blues" ajuda a manter o ritmo do trabalho, enquanto a canção antiga "You Gotta Move" ganha uma nova roupagem mais animada, com Cooke dando o melhor de si em um vocal dos mais inspirados. A linda "Fool's Paradise" ganha muito com o arranjo gospel ("My father told me, Mother said it right/ Said my son, you're ruining your life/ Drinking and gambling, staying out all night/ Living in a fool's paradise/ Oh, yeah, living in a fool's paradise") e a animada gravação de "Shake, Rattle and Roll", com ótimos vocais de apoio, encerra o álbum.
Apesar dos pesares na vida pessoal, o futuro profissional de Sam Cooke soava brilhante, comprovado em "Night Beat". Com uma banda de primeira e um repertório bem escolhido, o sucesso era o caminho natural para Samuel Cook, nascido em 22 de janeiro de 1931, na cidade no Mississípi e criado em Chicago. Ele acrescentaria o "e" no sobrenome para iniciar uma nova carreira, marcada pelo brilhante vocal e estilo único, e acabou sendo figura fundamental na luta pelos Direitos Civis ao lado de Muhammad Ali, Malcolm X, Martin Luther King Jr. e tantos outros. Uma pena que a brutalidade do mundo findou essa carreira e essa vida.
Ficha técnica:
Tracklist:
Lado A
1 - "Nobody Knows the Trouble I've Seen" (Traditional; arranged by Sam Cooke) (3:22)
2 - "Lost and Lookin'" (James W. Alexander/ Lowell Jordan) (2:09)
3 - "Mean Old World" (Cooke) (3:44)
4 - "Please Don't Drive Me Away" (Charles Brown/ Jesse Ervin) (2:12)
5 - "I Lost Everything" (Ella Tate) (3:19)
6 - "Get Yourself Another Fool" (Ernest Monroe Tucker/ Frank A. Haywood)
Lado B
1 - "Little Red Rooster" (Willie Dixon) (2:50)
2 - "Laughin' and Clownin'" (Cooke) (3:34)
3 - "Trouble Blues" (Brown) (3:18)
4 - "You Gotta Move" (Traditional) (2:35)
5 - "Fool's Paradise" (Johnny Fuller, Robert Geddins, David Avid) (2:32)
6 - "Shake, Rattle and Roll" (Charles Calhoun) (3:22)
Gravadora: RCA Victor
Produção: Hugo Peretti e Luigi Creatore
Duração: 37min51
Sam Cooke: vocal
René Hall: condução e guitarra
Clifton White e Barney Kessel: guitarra
Cliff Hils: baixo
Sharky Hall: bateria e pandeireta
Hal Blaine: bateria
Ray Johnson: piano
Billy Preston: órgão
Dave Hassinger: engenheiro de gravação
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