Discos para história: Modern Vampires of the City, do Vampire Weekend (2013)

História do disco

"O MVOTC tem dez anos. Boa ocasião para tomar um café gelado com rosquinhas e refletir. Rostam [Batmanglij] e eu passamos cerca de um ano escrevendo e gravando este álbum antes de passarmos para a fase final. Foi de longe o nosso mais 'álbum de estúdio'. O MVOTC não tinha músicas como 'A-Punk' ou 'Cousins', que começaram como riffs e começaram a ganhar vida na sala de ensaio. Este é um álbum de composição mais deliberada e gravação detalhada e paciente", disse Ezra Koenig, em uma mensagem nas redes sociais, no dia do aniversário de dez anos de "Modern Vampires of the City".

O Vampire Weekend é uma dessas bandas muito, muito nichadas, que conseguiram construir uma base sólida de fãs ao longo dos anos, em um processo de crescimento pessoal e profissional de ambos os lados. Quando "Contra", de 2010, explodiu, era questão de tempo até Koenig, e Rostam Batmanglij se tornarem requisitados por outros músicos e produtores. E foi exatamente o que aconteceu.

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O futuro brilhante da banda passou por uma pequena pausa nas atividades após cinco anos insanos de trabalho quase diário. Quando cada um retornou, após colaborações importantes, estavam preparados para dar o próximo passo e continuar a carreira: escrever as músicas de um novo disco de estúdio.

Talvez o mais importante para saber sobre o processo de composição era que, por exemplo, Koenig se separou da namorada durante a turnê e só conseguiu sair da casa que eles dividiam nessa pausa. Lá, decidiu ir embora para o mais longe possível. No caso, Los Angeles. Quando chegou na terra do sol, das palmeiras, dos surfistas e do estilo de vida hippie que ainda impera por lá, rapidamente arrumou as malas e voltou para Nova York. Era melhor sofrer por amor do que encontrar um hippie californiano na rua. 

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Foi nesse retorno que Batmanglij e ele passaram a se encontrar diariamente para escrever as músicas do novo trabalho. Quando todo grupo de juntou pela primeira vez desde 2011, havia material suficiente para ser explorado por todos. Para a dupla, agora o foco estava nas letras. E, sem um prazo determinado por gravadora ou eles mesmos, o tempo não era um inimigo, mas um aliado fundamental para construção de boas ideias, testes, descartes e inúmeras tentativas com diversos instrumentos disponíveis — de um simples violão ao complexo sintetizador.

O retorno à Los Angeles se deu para trabalhar com o produtor Ariel Rechtshaid, o primeiro a ser contratado por eles para ajudar com um disco. Famoso por trabalhar com Usher e Charli XCX, ele era "O" cara do momento quando o assunto era produção. Era estranho e o sentimento na indústria era o mesmo. Afinal, por que Rechtshaid aceitou colaborar com uma banda indie? Ninguém sabia. Mas eles sabiam.

O futuro álbum deveria soar diferente de qualquer coisa que eles haviam feito até ali e o olhar de alguém de fora, com reconhecimento, para ajudá-los. E Rechtshaid topou pelo desafio de fazer isso acontecer. Saíam as preocupações naturais de alguém recém-chegado aos 20 anos e entravam questões maiores de pessoas perto dos 30, com reflexões profundas e perguntas sem respostas, daquelas que nem mesmo as pessoas mais experientes conseguem responder sem pensar muito. E com um toque da solidão recém-chegada para Koenig. 

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Lançado em 14 de maio de 2013, "Modern Vampires of the City" estreou na primeira posição da parada nos Estados Unidos e na terceira no Reino Unido. No final daquele ano, 30 publicações colocaram o trabalho entre os melhores do ano, sendo cinco delas colocando o álbum no topo do ranking.

Todos os elogios eram merecidos. Afinal, se a dor ajuda no crescimento, também ajuda a escrever boas músicas. Para um grupo de pessoas com medo de envelhecer e com dúvidas sobre si, eles fizeram um trabalho que não deixava espaço para qualquer questionamento sobre o talento deles. O terceiro álbum da banda foi, definitivamente, um ponto de virada na carreira de todos eles.


Crítica de "Modern Vampires of the City"

A importância dada na infância para as crianças encaminha para o fim assim que a adolescência chega e termina definitivamente na fase adulta. "Obvious Bicycle" abre o álbum com essa visão de mundo, de as pessoas serem algo muito pequeno dada a imensa vastidão do mundo. A maneira melancólica como isso é apresentado pelo Vampire Weekend é uma pequena amostra do tom do resto do trabalho, cheio de perguntas sem respostas.

Escrita rapidamente em um momento de inspiração ao ouvir o violão de Rostam Batmanglij, a letra de "Unbelievers" amplia a discussão inicial ao colocar um teor espirituoso na conversa. Afinal, somos nossas atitudes ou não? Com trechos de "Aubrey", de David Gates, e "Who's That Girl", do YZ, "Step" foi transformada em uma espécie de balada experimental sobre amores, desapontamentos e lembranças de momentos inesquecíveis.

Trocadilho com "die young" ("morrer jovem"), "Diane Young" é divertida, dentro do possível, para tratar da "morte" da velha banda e o início de algo totalmente novo com esse disco de estúdio. A profunda "Don't Lie" chega para implorar pelo fim das mentiras e sofrimento imposto pelo mundo e "Hannah Hunt", que leva o nome de uma antiga amiga não representada na história, aborda a tristeza mais uma vez de maneira bem melancólica e, até certo ponto, pacifica ("If I can't trust you then damn it, Hannah/ There's no future, there's no answer/ Though we live on the US dollar/ You and me, we got our own sense of time").

E como uma boa parte da geração deles, a religião é algo importante, com o budismo sendo tema central de "Everlasting Arms". Se "Finger Back" fala de um amor impossível entre duas pessoas completamente diferentes (uma garota judia ortodoxa que se apaixona por um funcionário árabe de uma loja de falafel) de maneira animada, "Worship You" soa como uma conversa com Deus usando como inspiração uma raga persa de andamento rápido e "Ya Hey" mantém o tom religioso dessa parte do álbum em uma balada suave.

Um poema melancólico e sombrio virou "Hudson", com o baterista Chris Tomson tendo papel fundamental no arranjo e na criação do clima da faixa ("Over and over again, all these never-ending visions/ Over and over again like a prize that's changing hands/ The time has come, the clock is such a drag/ All you who changed your stripes can wrap me in the flag"). Para finalizar, "Young Lion", inspirada em um encontro de Koenig com um estranho na rua, traz o piano como personagem principal de uma letra curta, simples e direta, um final ideal para o álbum.

"Modern Vampires of the City" apresenta uma banda muito inspirada e pronta para colocar para fora os sentimentos e dúvidas mais profundas sobre a vida, o universo e tudo mais. Mais de uma década após o lançamento, as letras seguem mais atuais do que nunca e, ao que parece, ainda seguirão por muitos e muitos anos. 

Ficha técnica 

Tracklist: 

1 - "Obvious Bicycle" (features a sample of "Keep Cool Babylon" by Ras Michael and The Sons of Negus) (4:11)
2 - "Unbelievers" (3:22)
3 - "Step" (contains elements from "Aubrey" by David Gates and YZ's "Who's That Girl" in its hook) (4:11)
4 - "Diane Young" (2:40)
5 - "Don't Lie" (additional lyrics written by Batmanglij) (3:33)
6 - "Hannah Hunt" (3:57)
7 - "Everlasting Arms" (3:03)
8 - "Finger Back" (3:25)
9 - "Worship You" (3:21)
10 - "Ya Hey" (bass line of bridge section composed by Ariel Rechtshaid) (5:12)
11 - "Hudson" (music composed by Batmanglij, Koenig, and Chris Tomson) (4:14)
12 - "Young Lion" (lyrics and music written by Batmanglij) (1:45) 

Todas as letras foram escritas por Ezra Koenig, exceto as marcadas 

Gravadora: XL
Produção: Rostam Batmanglij e Ariel Rechtshaid
Duração: 42min54 

Chris Baio: baixo
Rostam Batmanglij: piano, guitarra, violão, banjo, harmonia vocal, vocal de apoio, bateria, sintetizadores, teclado, chocalho; vocal principal na faixa 12; arranjo de metais e de cordas
Ezra Koenig: vocal; piano na faixa 2
Chris Tomson: bateria 

Ariel Rechtshaid: bateria e sintetizador nas faixas 1, 2, 4 e 11; baixo na faixa 7; engenheiro de som e mixagem
Fanny Franklin: vocal de apoio na faixa 8
Angel Deradoorian: vocal de apoio nas faixas 1, 9 e 12; arranjo vocal
Adam Schatz: saxofone na faixa 4
Jeff Curtin: bateria na faixa 4
Johnny Cuomo: flauta na faixa 2
Brendan Ryan: acordeão na faixa 2
Elizabeth Lea: trombone nas faixas 2 e 11
Danny T. Levin: trompete nas faixas 2 e 11
Seth Shafer: tuba nas faixas 2 e 11 

Scott Jacoby e Rich Costey: mixagem
Emily Lazar: mixagem e masterização
Chris Kasych: assistente de mixagem e engenheiro do Pro Tools
Eric Isip: assistente
Joe LaPorta: masterização
Shruta Kumar: arquivista
Dave Schiffman, Michael Harris e Nick Rowe: engenheiro
Juan Pieczanski e Jeff Curtin: engenheiro adicional na faixa 4
Justin Gerrish: Pro Tools e engenheiro de mixagem
Fernando Lodero, Angelo Vasquex, Rich Rich e Hans Crump: Pro Tools

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