Discos para história: Lonerism, do Tame Impala (2012)


História do disco

"Sempre me surpreendo sempre que alguém me diz que Tame Impala os lembra de usarem drogas. Nunca julgo que minha própria música seja isso", disse Kevin Parker, em entrevista ao site do jornal inglês 'The Guardian', em 2012, pouco mais de 24 horas após o lançamento de "Lonerism", segundo álbum do projeto musical Tame Impala — liderado por ele de ponta a ponta. Era a resposta sobre uma questão pertinente que vinha da acensão da música do Tame Impala sobre o público jovem.

Era difícil saber ou prever, mas o Tame Impala foi um dos responsáveis pelo retorno do rock psicodélico às paradas de sucesso. Não que essa música tivesse parado se ser feita e retornou do nada. Não foi isso. Com apoio de uma geração de pessoas entre 18 e 25 anos, esse sub gênero ganhou uma nova vida em tempos de redes sociais e música consumida por streaming.

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Tudo começou com a boa recepção inesperada de "Innerspeaker", de 2010. Quando Parker lançou o primeiro álbum, rapidamente foi convidado para fazer shows na Europa, América do Norte e por toda Austrália. Por tudo isso, o sucessor era aguardado com muita expectativa. E Parker não se fez de rogado e logo começou a compor as canções do futuro trabalho.

Mas, como toda expectativa em cima de uma revelação, o sentimento de pressão foi muito forte em cima dele. Introvertido e pouco afeito ao grande público, ele não estava confortável com toda essa situação. Para alguém com esse perfil, pode ser o início do fim. Não para ele. Tudo isso foi usado como a força necessária para trabalhar no álbum ao longo de dois anos, diariamente, sem pausa.

"Realmente me esgotou [trabalhar no disco]. Eu nem penso em gravar música há alguns meses, porque estou tão exausto criativa e mentalmente. Pela primeira vez em dez anos, não consigo pensar em música e não me sinto estranho por não trabalhar", contou ele à 'Interview Magazine', em 2012.

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O período de trabalho para Parker é diferente de muitos artistas contemporâneos. Tendo que cuidar de todos os processos, das demos até a gravação final, muitas vezes era torturante trabalhar em uma música, fruto da insegurança e da timidez vindos da própria personalidade — hoje, em 2022, ele admite ter melhorado nisso e está mais confiante.

"Eu posso ter a ideia e faço a maior parte da música em cerca de uma noite, e passaria os próximos dois anos ouvindo-a repetidamente. Eu alternava entre diferentes sons de bateria, sons de guitarra, fazia um monte de coisas sem sentido. Poucas mudanças, essa porra é crucificante", disse ele, em 2012, também ao 'The Guardian'.

A pressão não o impediu de partir para novos experimentos no novo trabalho. Ele deixou um pouco de lado a guitarra, base do trabalho anterior, para utilizar sintetizadores, pequenas amostras de músicas e sons ambientes em camadas, gravadas em um ditafone, gravador de voz digital com alta sensibilidade e perfeito para esse trabalho. Tudo para falar sobre isolamento e introversão no mundo da ascensão ao estrelato e das turnês ininterruptas em diversos lugares do planeta entre pousos e decolagens sem saber muito bem que dia é.

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Lançado em 5 de outubro de 2012, "Lonerism" fez do Tame Impala um sucesso e Kevin Parker em um astro. O trabalho chegou ao 14º lugar da parada no Reino Unido e na 34ª posição nos Estados Unidos, mas isso pouco importou quando o disco esteve presente em várias listas de melhores do ano — em muitas na primeira colocação — e colecionou prêmios, elogios e fez de Parker um músico muito procurado para parceria em composições e para produzir discos.

Para a pessoa que se matriculou na faculdade de engenharia e depois mudou para astronomia, pensar em música era a única forma de seguir. Quando pintou a primeira oportunidade, ele a agarrou e logo conseguiu os primeiros shows na Austrália natal. Mal sabia que, pouco tempo depois, ele viraria um fenômeno musical ao usar e abusar da criatividade.


Resenha de "Lonerism"

O segundo disco de estúdio do Tame Impala é pautado em como Kevin Parker deixou de ser uma revelação para virar um astro da música. E "Be Above It", faixa de abertura, fala sobre como é necessário ter paciência para chegar nesse momento. O jeito como ele usa os instrumentos para criar esse clima único é uma boa porta de entrada para o que vem pela frente.

O uso dos sintetizadores em "Endors Toi" é um dos momentos em que Parker mostra talento no uso do instrumento, enquanto "Apocalypse Dreams" traz o discurso de viver a dura realidade ou ficar nos sonhos — as duas escolhas têm consequências na vida — em uma das melhores músicas do trabalho. Depois a sequência formada por "Mind Mischief", "Music to Walk Home By" e "Why Won't They Talk to Me?" é bem segura e ajuda não só a entender a música do Tame Impala como quem é e o que seja ser Kevin Parker no futuro.

Mas é em "Feels Like We Only Go Backwards" o primeiro momento grandioso do disco em uma das melhores composições da carreira de Parker. Envolvente e certeira, é aquele momento em que o trabalho ganha rosto e corpo definitivos. E "Keep on Lying", outro ótimo momento do álbum, apenas prova isso vindo na sequência. O auge surge em "Elephant", um dos grandes sucessos do Tame Impala até hoje e primeiro single. O uso do sintetizador aqui é uma verdadeira aula.

A parte final traz o interlúdio "She Just Won't Believe Me", em que o teclado e sintetizador funcionam como uma coisa só, "Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control", que surge para falar de confiança e aceitar o passado para não repetir os erros, e "Sun's Coming Up", uma balada sombria que fala da morte do pai de Parker — a segunda metade da faixa é um solo de guitarra dos mais melancólicos.

Virar o queridinho do público e crítica pode gerar comodismo em vários artistas. Para Parker, foi o inverso. Isso deu força para seguir e melhorar ainda mais todos os processos de composição ao tentar sempre subir o nível. "Lonerism" foi o primeiro passo de, hoje, uma carreira brilhante de um músico reconhecidamente talentoso.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Be Above It" (3:21)
2 - "Endors Toi" (3:06)
3 - "Apocalypse Dreams" (Kevin Parker/Jay Watson) (5:56)
4 - "Mind Mischief" (4:31)
5 - "Music to Walk Home By" (5:12)
6 - "Why Won't They Talk to Me?" (4:46)
7 - "Feels Like We Only Go Backwards" (3:12)
8 - "Keep on Lying" (5:54)
9 - "Elephant" (Parker/Watson) (3:31)
10 - "She Just Won't Believe Me" (0:57)
11 - "Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control" (6:01)
12 - "Sun's Coming Up" (5:20)

Gravadora: Modular
Produção: Kevin Parker
Duração: 51min53

Kevin Parker: vocal e todos os instrumentos

Músicos convidados

Jay Watson: piano teclado nas faixas 3 e 9
Melody Prochet: discurso na faixa 11

Produção

Dave Fridmann: mixagem Greg Calbi: masterização

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