Discos para história: 21, de Adele (2011)


História do disco

Adele é um dos grandes fenômenos da música mundial do século XXI graças a "21". Lançado em 24 de janeiro de 2011, o álbum terminou o ano como disco mais vendido em diversos países, incluindo os dois mercados mais importantes: Reino Unido e Estados Unidos. Aos 23 anos, ela era a cantora mais conhecida do mundo, com as músicas de maior sucesso do mundo e ganharia mais prêmios do que qualquer um nos anos seguintes.

Descobridor da cantora, Nick Huggett, da gravadora britânica independente XL, tem uma explicação para os motivos de a cantora ter alcançado patamares raramente vistos na indústria.

"Adele [...] ultrapassou o que Amy [Winehouse] foi capaz de alcançar comercialmente [...]. Há uma verdadeira falta de esnobismo na música de Adele. Há algo muito atemporal nas músicas de '21'. Elas podem ser de qualquer tempo... É tão clássico que resiste ao teste do tempo", disse ele à 'NME'.

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No início da segunda década dos anos 2000, os serviços de streaming musicais caminhavam a passos de tartaruga e o MySpace era o lugar certo para descobrir qualquer artista. Huggett, como muita gente, viu Arctic Monkeys e Lily Allen pularem da plataforma com contratos com gravadoras e, disso, partirem para o sucesso. Ele via o mesmo potencial em Adele, principalmente pela emoção transmitida ao cantar as próprias músicas. Ao conseguir assinar com ela, ele enxergava um potencial, confirmado com as vendas arrebatadoras de "19", primeiro disco de estúdio.

O trabalho em "21" começou com o término de uma relacionamento com um homem dez anos mais velho. Ao longo de três meses, ela escreveu, fumou e bebeu como nunca. E quem poderia canalizar toda essa energia em um álbum de sucesso? O então produtor emergente Paul Epworth. Conhecido por ter trabalhado no álbum de estreia do Bloc Party, ele, um dia, muito bêbado durante uma festa, conheceu o empresário da cantora e pediu para trabalhar com ela. A ressaca o impediu de lembrar do encontro, mas não o empresário. Epworth recebeu uma ligação para marcar um horário para Adele e, em menos de uma hora, os dois escreveram uma parte considerável da letra e melodia de "Rolling in the Deep", finalizada poucos dias depois -- acabou sendo a versão que entrou no álbum, sem muito polimento de produção.

"Assim que você faz música com ela, você sabe o quão astuta ela é em termos de saber onde prospera. Na verdade, acho que foi Richard Russell [dono da gravadora XL] quem disse que ela prospera na escuridão. Essa é a dualidade: ela faz essas grandes e lindas canções que realmente se conectam com as pessoas e são tão cheias de amor, mas suas melhores coisas também vêm da dor", disse o produtor, também à 'NME'.

A cantora também fez um movimento muito interessante para o trabalho ao apostar em parcerias com pessoas diferentes. Foi assim que Fraser T Smith, Ryan Tedder e Dan Wilson acabaram envolvidos com o álbum. Todos assinam pelo menos uma canção em "21", enquanto Jim Abbiss assina a mixagem e produção de duas canções. Todos colaboraram, de um jeito ou de outro, para deixar o trabalho o mais coeso possível. A maioria disso deveria ser apenas o início do trabalho que, na Califórnia, seria refinado por um dos melhores produtores dos últimos 40 anos: Rick Rubin.

Rubin é uma espécie de mago da produção que começou no rap, partiu para o metal e, pelo sucesso, começou a ser convidado por diversas bandas e artistas para "tirar o melhor delas" ou "voltar às raízes". Quando encontrou com Adele, ele começou a fazer o que sempre faz para tirar o melhor de cada artista, mas a cantora não gostou do resultado. Aconteceram alguns atritos e, no fim, Rubin assina a produção de apenas quatro canções. A cantora deu um passo atrás em algumas faixas e preferiu usar as demos gravadas antes e apenas melhorá-las um pouco. Mas, como tudo na vida de Adele, houve um último drama.

O término do relacionamento foi o mote principal das canções do álbum, certo? Durante a gravação, a cantora descobriu que o ex-namorado estava casado. Essa mistura de fúria, raiva, choro, decepção, amor partido e mais viraram "Someone like You", letra em que recorreu ao produtor Dan Wilson para ajudá-la a terminar. Era o encerramento perfeito para um disco sobre um relacionamento tão intenso e profundo, quebrado pela vida. Todo ouvinte da demo ficou encantado com a letra e a ideia simples de Wilson em apenas acompanhá-la com o piano, mas a gravadora não gostou.

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A Columbia não só não gostou, como queria impedir a presença da canção no álbum. Adele bateu o pé e queria que a faixa encerrasse o projeto. O produtor explicou o sentido da canção dentro de "21".

"'Someone Like You' é uma canção de amor do ponto de vista de uma mulher que aparece inesperadamente na porta de seu ex, casado, apenas para ser confrontada pelo fato de que ele se mudou, tem uma vida e uma esposa. Considerando que ela nunca foi capaz de deixá-lo ir. O refrão é irônico: ela diz que vai encontrar outra pessoa, mas a parte estranha e obsessiva é que ela quer encontrar alguém como ele", contou.

Bom, ela estava certa. "21" virou o quarto álbum mais vendido de todos os tempos e Adele entrou, definitivamente, na história. E o que fez o disco ser um sucesso estrondoso? O fato de que um coração partido sempre vai render alguma coisa nas artes -- seja na música, poesia ou em qualquer outra coisa. Muita gente tem uma história assim. A diferença é que todo mundo conhece a de Adele.

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Resenha de "21"

O trabalho abre com "Rolling in the Deep", uma canção-desabafo sobre saber de outras pessoas que teria uma vida solitária e entediante, então Adele simplesmente escreveu a faixa e mandou todos para aquele lugar. O importante da canção, coescrita com Paul Epworth, é a inspiração da música gospel americana. A batida simples e fácil de acompanhar ajuda a destacar a letra e a voz da cantora, reforçada pela brilhante atuação do vocal de apoio.

A seguinte é algo muito diferente dos grandes sucessos. Mais cheia de gingado, "Rumour Has It" tem a inspiração no blues para falar sobre como é difícil se relacionar com alguém e, ainda por cima, precisa aguentar os amigos palpitando sobre seguir em frente ou não com determinada pessoa. A dificuldade gera o término, mote central de "Turning Tables", momento em que Adele e Ryan Tedder usam a potência do piano bem dramático para colocar um ponto final em um relacionamento que já não tinha mais nada de bom. Com isso, ela começa uma jornada para tentar relembrar os motivos de o agora ex-namorado ter se apaixonado por ela em "Don't You Remember".

E assim o álbum caminha para o outro grande momento: "Set Fire to the Rain". É o fim de tudo, a desilusão amorosa vista de maneira cristalina enquanto as tentativas de acender um cigarro na chuva são todas em vão. Nesse caso, terminar um relacionamento foi a mais dura das derrotas da então jovem cantora. A sexta faixa de "21" é o símbolo desse momento, da completa queda.

Adele para de falar sobre ela mesma em "He Won't Go", canção que deveria ser sobre o relacionamento fracassado, mas acabou virando uma homenagem a um casal de amigos que a ajudou muito após o final da turnê de "19", primeiro disco da carreira. Depois, ela retorna ao normal em "Take It All", quando chega naquele momento em que quer se libertar da relação, sem sucesso, em uma canção com muita influência de Elton John do início até o final.

A parte final começa com a balada romântica "I'll Be Waiting", de um tom muito diferente do resto do trabalho, e depois vem com o blues "One and Only", essa sobre um outro cara que a cantora, segundo o próprio sentimento, o via como a pessoa com quem passaria o resto da vida -- faixa inspirada pelo tempo em que ela passou nos Estados Unidos durante a turnê do álbum anterior. E ainda há espaço para "Lovesong", cover do The Cure, gravado com Rick Rubin, que Adele resolveu colocar no disco para simbolizar o clima pesado das gravações com o produtor.

O final é reservado para "Someone like You", um dos grandes sucessos das últimas duas décadas. A balada no piano mostra uma Adele destroçada ao saber que o ex-namorado agora é casado e tem filhos. Saber disso a destruiu a tal ponto que ela deseja ter outro namorado, mas precisa ser como o anterior. Essa é para machucar os corações mais cansados.

"21" celebrou dez anos no início de 2021 e, com méritos, é considerado o grande disco desse novo século. E não é apenas pelos números, altíssimos até hoje em diversos formatos, mas por Adele conseguir dialogar com todos ao abrir a caixa da própria vida para quem quisesse ouvir o disco. São três músicas ("Rolling in the Deep", "Set Fire to the Rain" e "Someone like You") ótimas, enquanto as outras seguram o tranco muito bem. O estrelato foi como um foguete para a cantora que hoje, aos 33 anos, pode ficar seis, dez ou 20 anos sem gravar um disco. O nome dela já está na história.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Rolling in the Deep" (Adele Adkins/Paul Epworth) (3:49)
2 - "Rumour Has It" (Adkins/Ryan Tedder) (3:43)
3 - "Turning Tables" (Adkins/Tedder) (4:10)
4 - "Don't You Remember" (Adkins/Dan Wilson) (4:03)
5 - "Set Fire to the Rain" (Adkins/Fraser T. Smith) (4:01)
6 - "He Won't Go" (Adkins/Epworth) (4:37)
7 - "Take It All" (Adkins/Francis White) (3:48)
8 - "I'll Be Waiting" (Adkins/Epworth) (4:01)
9 - "One and Only" (Adkins/Wilson/Greg Wells) (5:48)
10 - "Lovesong" (Robert Smith/Laurence Tolhurst/Simon Gallup/Boris Williams/Pearl Thompson/Roger O'Donnell) (5:16)
11 - "Someone like You" (Adkins/Wilson) (4:45)

Gravadora: XL/Columbia
Produção: Jim Abbiss, Adele Adkins, Paul Epworth, Rick Rubin, Fraser T Smith, Ryan Tedder e Dan Wilson
Duração: 48min01s

Adele Adkins: vocal
Stephanie Bennett: harpa nas faixas 4, 6, 9 e 10
Jerrod Bettis: bateria e violão na faixa 2
Harry Brown: arranjo de sopros e trombone na faixa 8
David Campbell: arranjo de cordas nas faixas 4, 6, 9 e 10
Ray Carless: saxofone tenor nas faixas 4 e 8
Lenny Castro: percussão 4, 6, 9 e 10
Neil Cowley: piano nas faixas 1, 3, 7 e 8
Rosie Danvers: arranjo de cordas e violino na faixa 5
Chris Dave: bateria nas faixas 4, 6, 9 e 10
Paul Epworth: baixo, violão, guitarra, percussão e vocal de apoio nas faixas 1 e 8
David Hidalgo: acordeão e banjo nas faixas 4, 6, 9 e 10
Smokey Hormel: guitarra nas faixas 4, 6, 9 e 10
Caroline Dale, David Daniels, Rachel Stephanie Bolt, Chris Elliot, Warren Zielinski, Chris Worsey, Bruce White, Cathy Thompson, Emlyn Singleton, Jackie Shave, Tom Pigott-Smith, Stephen Morris, Rita Manning, Julian Leaper, Chris Laurence, Patrick Kiernan, Boguslaw Kostecki e Peter Lale: instrumento de cordas na faixa 3
Noel Langley: trompete nas faixas 1 e 8
Natalie Bonner, Stephanie Cavey, Jo Allen, Kotono Sato, Jenny Sacha, Hayley Pomfrett, Ruston Pomeroy, Eleanor Mathieson: violino na faixa 5
The Wired Strings, Amy Stanford, Lucy Shaw, Jane Oliver e Emma Owens: instrumento de cordas na faixa 5
Pino Palladino: baixo nas faixas 4, 6, 9 e 10
Carmen Carter, Jimmy Gilstra, Terry Young, Lorna Maxine Waters, Carmen Twillie, Julia Tillman Waters, Josef Powell: coro nas faixas 4, 6, 9 e 10
James Poyser: piano nas faixas 4, 6, 9 e 10
Ash Soan: bateria na faixa 5
Fraser T Smith: baixo e piano na faixa 5
Matt Sweeney: guitarra nas faixas 4, 6, 9 e 10
Leo Taylor: bateria nas faixas 1 e 8
Ryan Tedder: guitarra, baixo, piano, Hammond B3, bateria e arranjo de cordas na faixa 2
Ben Thomas: guitarra e violão na faixa 8
Oren Waters: diretor do coro nas faixas 4, 6, 9 e 10
Dan Wilson: piano na faixa 11

Produção:

Jim Abbiss e Ian Dowling: mixagem das faixas 3 e 7
Philip Allen: engenheiro de som na faixa 11
Beatriz Artola: engenheiro de som na faixa 5
Sara Lyn Killion e Phillip Broussard Jr.: engenheiro assistente nas faixas 4, 6, 9 e 10
Lindsay Chase: coordenação de produção 4, 6, 9 e 10
AJ Clark: engenheiro assistente na faixa 2
Tom Coyne: masterização
Tom Elmhirst: mixagem nas faixas 1, 2, 8 e 11
Greg Fidelman: engenheiro de som nas faixas 4, 6, 9, 10
Dana Nielsen: edição e Pro Tools
Dan Parry: assistente de mixagem nas faixas 1, 2, 8 e 11; engenheiro de voz na faixa 2
Steve Price: engenheiro de cordas na faixa 5
Mark Rankin: engenheiro de som nas faixas 1 e 8
Andrew Scheps: mixagem nas faixas 4, 6, 9 e 10
Isabel Seeliger-Morley: engenheiro de som assistente na faixa 5
Fraser T Smith: mixagem na faixa 5
Ryan Tedder: programação e arranjos na faixa 2

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