Discos para história: Metá Metá, do Metá Metá (2011)


História do disco

O Metá Metá é um dos melhores grupos brasileiros dos últimos anos. E, vamos dizer assim, é supergrupo formado por três dos mais talentosos artistas brasileiros. Kiko Dinucci ganhou notoriedade nos últimos anos não só pelos trabalhos solos, mas também como produtor. E o talentoso Thiago França o acompanha nos instrumentos de sopro.

Para completar o grupo, a vocalista Juçara Marçal merece algumas linhas apenas para ela. O primeiro álbum solo, "Encarnado", foi lançado apenas em 2014 e é um dos melhores trabalhos de uma cantora nos últimos anos. E esses três formam esse grupo cheio de influência de música brasileira, africana e tudo mais que eles têm direito. Aliás, o nome vem do ioruba, língua africana, que significa três ao mesmo tempo.

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Em entrevista para a 'Folha de S. Paulo', alguns meses depois do lançamento do trabalho, Dinucci contou que o repertório foi inteiramente pensado para ser tocado em lugares pequenos e silenciosos por conta dos arranjos delicados.

"Em todos os meus álbuns, eu sempre me preocupei com as canções, o resto a gente coloca depois. E houve a coincidência de que estávamos tocando muito na Casa de Francisca, a única casa de shows onde podemos tocar com silêncio absoluto do público. Fizemos um repertório de acordo com a delicadeza do local", falou.

O músico à época, agora para o site 'Scream & Yell', celebrava o alto número de downloads do trabalho através do aplicativo Bagagem. Até disponível na íntegra no site da banda, o primeiro álbum só ganhou uma versão física devido aos inúmeros pedidos. Hoje, o trabalho em vinil é uma raridade e encontrado por valores entre R$ 650 e R$ 800.

"Pra gente foi legal porque é um diferencial lançar o disco no meio digital. A ideia é também dar preferência aos blogs, ao mundo virtual. (...) Nós mandamos o material para eles: release, músicas, encarte... É muito mais honesto porque o cara do blog escreve porque está muito a fim. (...) Foram mais de 30 mil downloads desde maio. Se eu fosse fabricar, não ia conseguir vender. Eu ia ficar com um monte de caixas aqui em casa, não ia conseguir me livrar deles nem se eu saísse distribuindo pelas ruas", contou.

À época, os serviços de streaming ainda estavam engatinhando pelo mundo, colocar os trabalhos para download e apostar nos shows era a melhor solução. Mas a coisa demorou a andar um pouco, como bem lembra Juçara Marçal em entrevista ao site 'Na Mira do Groove'.

"Fizemos um show do CD físico em setembro de 2011, mas não tinha nada marcado. Todo mundo falou bem, mas ninguém chamou a gente pra tocar, foi um negócio desesperador. Rolou um delay. Mas a partir de dezembro começaram a surgir os convites", explicou.

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Lançado no início de 2011, o álbum é, até hoje, um exemplo de como é possível fazer o simples e não complicar muito em um trabalho bem encorpado, como explicou Thiago França em entrevista ao programa 'Metrópolis' em novembro de 2011.

"Isso é um pouco das coisas que a gente faz, de tentar criar situações diferentes pros instrumentos. Tirá-los do papel convencional e trabalhar com isso, [o saxofone] na função da percussão ou fazendo um contraponto, ou como se fosse um pedal dando um efeito para a voz. Tirar do convencional, [simples] solinho, [simples] introduçãozinha...", falou.

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Resenha de "Metá Metá"

O primeiro disco do trio traz muitas composições de outras pessoas, além de Kiko Dinucci e parceiros. E uma das melhores do repertório é justamente de alguém de fora da banda, no caso Siba. "Vale Do Jucá" abre o trabalho com um bonito arranjo. Juçara Marçal, claro, brilha como sempre.

A influência da música africana surge pela primeira vez na dançante "Umbigada", em que a flauta de França dá todo ritmo de maneira muito simples. É a canção em que a vontade de prestar atenção e dançar se misturam, oposto das baladas melancólicas "Papel Sulfite" e "Trovoa" -- ambas acompanhadas apenas no violão e lembram muito as canções do grupo Rumo, um dos ícones da vanguarda paulistana dos anos 1980.

O disco ganha uma virada em "Samuel", canção inspirada nos grupos de violão surgidos no Brasil no início do século XX. Do vocal dobrado, importante para dar força para letra, até arranjo de cordas do violão, é uma das mais bonitas do trabalho. É o momento de Dinucci brilhar.

"Vias De Fato" traz o samba pela primeira vez em uma letra muito bonita, já "Oranian" apresenta novamente a música africana ao disco e é aqui que podemos ter um pouco de Angola no Brasil. Mas é em "Obá Iná" que o Metá Metá chega no auge, justamente perto do final, quando coloca qualquer um para dançar com bastante facilidade. O álbum encerra com a instrumental "Obatalá", um ótimo final.

O Metá Metá é um projeto dos mais importantes para trio, que acabou fazendo dele um experimento de evolução musical para testar os próprios limites. Assim, o primeiro disco abriu portas para eles colherem os frutos hoje, em 2021, quando são dos músicos mais respeitados da cena independente do Brasil em um trabalho tocado por três pessoas, mas que, musicalmente, soa muito mais.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Vale Do Jucá" (Siba Veloso) (4:43)
2 - "Umbigada" (Lincoln Antonio) (3:30)
3 - "Papel Sulfite" (Jonathan Silva) (3:27)
4 - "Trovoa" (Maurício Pereira) (5:55)
5 - "Samuel" (Kiko Dinucci e Rodrigo Campos) (2:22)
6 - "Vias De Fato" (Douglas Germano, Edu Batata e Kiko Dinucci) (3:49)
7 - "Oranian" (Douglas Germano e Kiko Dinucci) (3:58)
8 - "Obá Iná" (Douglas Germano) (5:03)
9 - "Obatalá" (Kiko Dinucci) (7:54)

Gravadora: Desmonta
Produção: Metá Metá
Duração: 43min18s

Kiko Dinucci: violão e vocal
Thiago França: saxofone tenor e flauta
Juçara Marçal: vocal

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