História do disco
A trajetória musical de Luis Alberto Spinetta (1950–2012) é uma das mais famosas e reconhecidas na música argentina. Ele é considerado um dos melhores vocalistas e compositores de rock de todos os tempos no país. Algo muito grande, mas merecido, principalmente pelos mais de 40 anos em atividade que resultaram em canções marcantes.
Mesmo parte de grupos de enorme sucesso, como Pescado Rabioso e Almendra, nunca deixou de ter em paralelo uma carreira solo muito ativa com parcerias e bandas diferentes para discos em que explorava diversos temas musicais e instrumentos, mostrando que ser refém de uma fórmula nunca esteve nos planos.
Mais discos dos anos 1990:Discos para história: Blue Lines, do Massive Attack (1991)
Discos para história: Os Grãos, dos Paralamas do Sucesso (1991)
Discos para história: Bandwagonesque, do Teenage Fanclub (1991)
Discos para história: V, da Legião Urbana (1991)
Discos para história: Blood Sugar Sex Magik, do Red Hot Chili Peppers (1991)
Discos para história: Goo, do Sonic Youth (1990)
Praticamente em turnê desde 1969, Spinetta só fez uma pausa das atividades entre 1985 e 1988, ano em que voltou com "Téster de violencia" e, sem surpresa alguma, foi eleito o melhor disco daquele ano pela imprensa local. E ele logo emendou com "Don Lucero" no ano seguinte, também muitíssimo elogiado. Para 1990, veio o primeiro disco ao vivo. Chamado "Exactas", é um curto e importante resumo da carreira dele.
No começo dos anos 1990, quando completou 40 anos, Spinetta ficou mais introspectivo — pessoal e musicalmente. O nascimento da quarta filha e a vontade de fazer músicas mais simples foram os fatores determinantes para o movimento. E não só isso, ele também estava decidido a tocar quase todos os instrumentos do novo trabalho, gravado inteiramente no estúdio que mantinha em casa. Como não poderia deixar de ser para um músico argentino, o contexto do país era um bom e importante pano de fundo das novas composições.
O músico não estava disposto apenas a gravar tudo sozinho, mas a experimentar mais musicalmente. Após trabalhos mais elaborados, ele queria algo diferente. Então, ele usou instrumentos "normais" com base para depois sequenciá-los com sons improvisados no teclado e no sintetizador para criar uma coisa nova e longe dos discos anteriores.
Veja também:Discos para história: Peperina, do Serú Girán (1981)
Discos para história: La Biblia, do Vox Dei (1971)
Discos para história: Genius of Modern Music - Volume 1, de Thelonious Monk (1951)
Discos para história: The Soul of Ike & Tina Turner, de Ike e Tina Turner (1961)
Discos para história: Let England Shake, de PJ Harvey (2011)
Discos para história: Love and Theft, de Bob Dylan (2001)
"Pelusón of Milk" foi um disco muito representativo na vida de Spinetta que estava arrumando um tempo para a própria família. "Nós (ele e Beatriz, a mulher) estivemos mal muitas vezes. Morei muitas vezes no estúdio de gravação, nos separamos por três ou quatro meses... E essas canções são as que representam o retorno depois desse período longe", explicou 'El Flaco', como era conhecido, em 2002, à 'Rolling Stone' argentina.
Lançado em abril de 1991, o décimo disco da carreira solo de Luis Alberto Spinetta também foi um sucesso como os dois anteriores. Vencedor do prêmio do jornal 'Clarín' de Melhor Disco do Ano, também teve eleita a melhor música do ano "Seguir Viviendo Sin Tu Amor", o principal símbolo de um novo músico.
Mais caseiro, ele ainda embarcaria em um novo projeto musical chamado Spinetta y los Socios del Desierto e a carreira solo só retornaria uma década depois, em 2001, com "Silver Sorgo". Ele ainda lançaria mais três discos solos antes de morrer, em 2012, aos 62 anos, vítima de um câncer de estômago.
Resenha de "Pelusón of Milk"
Uma das canções mais famosas de Luis Alberto Spinetta, "Seguir Viviendo Sin Tu Amor" é o símbolo da mudança do músico para uma vida e uma carreira um pouco mais intimista. A faixa fala sobre os momentos em que ficou longe da esposa, da separação e como isso afetou profundamente, gerando essa mudança de rumo de vida e carreira. É uma canção muito bonita, pontuada por um belo solo de guitarra.
A poética e delicada "Lago De Forma Mía" chega para mostrar um lado de Spinetta pouco explorado por ele mesmo em letra e música, e faz jus ao talento dele. A animada "Ganges" é sobre o famoso rio na Índia, mais uma em que ele aborda a cultura oriental de alguma forma na discografia — a construção da parte instrumental é incrível.
Na Argentina, a ditadura não foi escondida ou relativizada na música ao longo dos anos, então muitos artistas sempre abordaram o período. Aqui, o cantor faz de "La Montaña" a lembrança do período ao usar uma metáfora de uma montanha de roupa. É simplesmente genial. As melancólicas "Panacea" e "Domo Tú" fecham o lado A do trabalho.
O lado B abre com a bonita "Cada Luz", uma homenagem para a filha Vera, a quem Spinetta chamou "luz infinita em minha vida". O andamento pop e bastante flexível, como foi mostrado no Estrelicia MTV Unplugged, mostra um ótimo compositor de canções pop. Depois, ele parte para a artística "Bomba Azul", essa um tanto mais experimental do que a anterior.
"Cielo De Ti" é o retorno para a temática da primeira canção, mas é na dançante "Cruzarás" que o disco explora mais os elementos eletrônicos em uma faixa que mistura o real e o imaginário de Buenos Aires em uma visão muito particular da cidade. Por fim, "Hombre De Lata" é a mais pesada de todo trabalho e tem uma referência ao Police bem perceptível.
Ser um dos melhores trabalhos da carreira de Luis Alberto Spinetta é um feito e tanto para "Pelusón of Milk", que disputou e venceu contra tantos outros. Após anos sem parar, o músico resolveu diminuir o ritmo, mas nem isso o impediu de entregar um disco dos mais bonitos.
Ficha técnica
Tracklist:
Lado A
1 - "Seguir Viviendo Sin Tu Amor" (2:41)
2 - "Lago De Forma Mía" (3:15)
3 - "Ganges" (4:02)
4 - "La Montaña" (3:30)
5 - "Panacea" (Roberto Mouro) (2:01)
6 - "Domo Tú" (3:30)
Lado B
1 - "Cada Luz" (3:34)
2 - "Bomba Azul" (2:40)
3 - "Cielo De Ti" (2:43)
4 - "Cruzarás" (5:32)
5 - "Hombre De Lata" (4:09)
Bônus da versão em CD:
12 - "Jilguero"
13 - "Ella bailó" ("Love of My Life")
14 - "Pies de atril"
15 - "Dime la forma"
Todas as músicas foram compostas por Luis Alberto Spinetta, exceto a marcada
Gravadora: EMI
Produção: Luis Alberto Spinetta
Duração: 37min37s (53min4s em CD)
Luis Alberto Spinetta: guitarra, violão, baixo, bateria eletrônica, samplers, sintetizador e vocal; teclado em "Domo tú"; guitarra de 12 cordas em "Cielo de ti"
Juan Carlos Mono Fontana: teclado em "Domo tú" e "Bomba azul"
Javier Malosetti: violão em "Cielo de ti"; baixo em "Ella bailó (love of my life)" e "Dime la forma"
Guillermo Arrom: guitarra em "Ganges", "La montaña" e "Hombre de lata"; arranjos em "Hombre de lata"; violão em "Panacea" e "Cielo de ti"
Claudio Cardone: teclado em "La montaña", "Cruzarás", "Hombre de lata" e "Dime la forma"
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