Discos para história: Genius of Modern Music - Volume 1, de Thelonious Monk (1951)


História do disco

O disco de vinil foi uma verdadeira revolução musical no final dos anos 1940. Quando a gravadora Columbia chegou com a novidade, acabou mudando a história da indústria da música nos anos seguintes ao abrir um novo leque de possibilidades. Antes limitados a poucas músicas, agora cada lado poderia ter até 23 minutos de música. Perto da limitação de antes, era muito tempo.

Claro que todas as gravadoras queriam explorar a novidade e a Blue Note não era diferente. Casa de alguns dos principais artistas do blues e do jazz desde a fundação em 1939, o selo sabia ter bastante potencial em gravações antigas e novas do elenco. Uma dessas pessoas era o pianista Thelonious Monk.

Mais discos dos anos 1950:
Discos para história: Chá Dançante, de Donato e Seu Conjunto (1956)
Discos para história: Masterpieces by Ellington, de Duke Ellington (1951)
Discos para história: Convite para Ouvir Maysa, de Maysa (1956)
Discos para história: Gospel Train, de Sister Rosetta Tharpe (1956)
Discos para história: A Rainha Canta, de Angela Maria (1955)
Discos para história: Ella Sings Gershwin, de Ella Fitzgerald (1950)

Monk nasceu em Rocky Mount, Carolina do Norte, em outubro de 1917, mas não ficou muito tempo por lá. Aos cinco anos, mudou-se para Nova York com a família. E foi na cidade que começou a tocar piano e mostrou ter bastante talento ao ponto de, aos 11, começar ter aulas no instrumento. Lentamente, começou a fazer shows e a ganhar concursos a rodo — reza a lenda ter sido expulso de um deles por não dar chance aos concorrentes.

Aos 13, começou a carreira ao tocar em um bar local e rapidamente evoluiu para festas privadas. Até o final dos anos 1930, já viajava pelo país e mantinha encontros regulares com Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Max Roach e Bud Powell — todos esses nomes foram fundamentais no emergente bebop. E após tocar em algumas bandas, Monk virou líder da própria em 1947, aos 30 anos.

Mas, como diria o outro, tudo seria fácil se não fosse difícil. O período foi terrível para ele por, musicalmente, não se encaixar no gosto popular. E usar um cavanhaque, roupas coloridas, se impor na altura e perder a licença para tocar em lugares que vendiam bebida alcoólica devido a uma falsa acusação de porte de drogas. Mas Alfred Lion, cofundador da Blue Note, acreditava muito do trabalho de Monk. Assim, ele passou boa parte de 1947 até 1952 gravando e lançando singles pela gravadora.

Quando o vinil surgiu como uma nova opção de gravação, a Blue Note juntou algumas das principais gravações do pianista e chamou "Genius of Modern Music: Volume 1". Mas não havia perspectiva para qualquer sucesso, já que muitos dos donos de lojas de discos falavam que ele tinha "duas mãos esquerdas". Hoje, essas primeiras gravações dele são fundamentais para entender a evolução do jazz.

Veja também:
Discos para história: The Soul of Ike & Tina Turner, de Ike e Tina Turner (1961)
Discos para história: Let England Shake, de PJ Harvey (2011)
Discos para história: Love and Theft, de Bob Dylan (2001)
Discos para história: Blue Lines, do Massive Attack (1991)
Discos para história: Juju, de Siouxsie and the Banshees (1981)
Discos para história: Songs of Love and Hate, de Leonard Cohen (1971)

O crítico musical A. B. Spellman, em entrevista à 'NPR', explicou melhor isso. "É o bebop quando ele está amadurecendo. É um ponto em que as pessoas mudaram o estilo e agora são mais expressivas de suas próprias vozes individuais. E, ao mesmo tempo, você tem Thelonious criando o catálogo básico [da carreira]", contou.

"É o período em que Thelonious teve a maioria de suas músicas, as que conhecemos melhor hoje, escritas. Essas versões são versões muito, muito frescas [das canções]", completou.

Sem conseguir tocar nos principais clubes e dando prejuízo constante, parecia estar com a carreira acabada. Até a Blue Note vender o contrato dele para a Prestige. E o resto é história. Uma história de reconhecimento tardio.

Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!


Resenha de "Genius of Modern Music: Volume 1"

É difícil não se envolver com a música feita por Thelonious Monk ao longo dos anos. E é inacreditável saber que, no final dos anos 1940, ele já antecipava toda uma tendência do jazz que ganharia força apenas no começo da década seguinte. Como bem disse Spellman, tudo soa muito fresco e novo, 60 anos depois do lançamento em LP pela primeira vez.

"'Round About Midnight", escrita em 1936 e gravada em 1941, abre os trabalhos para "Off Minor", duas canções em que é possível sentir o cheiro de cigarro e uísque das boates nova-iorquinas dos anos 1950. O lado acaba com a belíssima "Ruby My Dear" e a delicada "I Mean You", essa a primeira de duas composições de Monk em parceria com outra pessoa.

Ao abrir o lado B com "Thelonious", Monk mostrava todo gingado de um ritmo que passava por uma intensa e inesquecível transformação naqueles dias, já "Epistrophy" é aquele de fazer qualquer um ficar bastante emocionado — foi a primeira canção registrada pelo músico no longínquo 1941.

O final reserva espaço para "Well You Needn't", que soa ter sido gravada ao vivo ou o mais próximo possível disso e, até hoje, é uma das canções mais populares do repertório de Monk, e "Misterioso", gravada em 1948 e parte das sessões com participação de Milt Jackson no vibrafone.

Monk não sabia, mas fez história com essas gravações lançadas pela Blue Note, que apostou nele unicamente por enxergar um talento acima da média. E ficou provado, apesar de levar alguns anos para isso acontecer.

Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 -"'Round About Midnight" (3:10)
2 - "Off Minor" (3:00)
3 - "Ruby My Dear" (3:09)
4 - "I Mean You" (Coleman Hawkins / Monk) (2:46)

Lado B

1 - "Thelonious" (2:59)
2 - "Epistrophy" (Kenny Clarke / Monk) (3:06)
3 - "Well You Needn't" (2:59)
4 - "Misterioso" (3:21)

Gravadora: Blue Note
Produção: Alfred Lion
Duração: 24min06s

Thelonious Monk: piano
Danny Quebec West e Edmund Gregory: saxofone alto
Robert Paige, Gene Ramey e John Simmons: baixo
Art Blakey e Shadow Wilson: bateria
Billy Smith: saxofone tenor
George Taitt e Idrees Sulieman: trompete
Milton Jackson: vibrafone

Continue no blog:

Comentários