Discos para história: The Soul of Ike & Tina Turner, de Ike e Tina Turner (1961)


História do álbum

Os inúmeros problemas de Ike e Tina Turner ao longo de quase 20 anos de parceria musical e um casamento conturbado não apagaram a história do então casal que rumou ao estrelato ao contar com um instrumentista de primeiro nível, um compositor nem tanto assim e uma cantora que dava tudo de si no palco em atuações ferozes.

Ike Turner, nascido em 5 de novembro de 1931, já era um bocado experiente em meados dos anos 1950. Com a gravação e sucesso do single "Rocket 88" no currículo e sendo um músico de estúdio dos melhores na gravadora Sun ao lado da Kings of Rhythm, ele esteve em algumas das mais importantes gravações de músicos de blues do período.

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Quando deixou Memphis e mudou-se com a banda para East St. Louis, em 1956, eles viraram a melhor atração do circuito R&B da região, atraindo todo um público afro-americano e curiosos para dançar ao som da guitarra de Turner, pronto para alcançar voos mais altos na carreira. Isso viria quando ele conheceu a jovem cantora Anna Mae Bullock, de 17 anos, e prometeu-lhe uma chance.

Claro que Ike Turner enrolou a jovem Anna ao máximo até que ela se enfezou, arrancou o microfone do baterista e namorado Raymond Hill e simplesmente começou a cantar. Tudo isso em um show em um clube com algumas centenas de pessoas. Todos ficaram embasbacados com o talento dela. Mesmo menor de idade, acabou contratada para cantar com Ike e Kings of Rhythm nos finais de semana e teve o nome mudado para Tina.

A coisa poderia ter azedado muito quando Tina e Hill contaram estarem esperando um filho. Foi quando Turner agiu e a convidou para morar com ele. No início, eles tinham uma relação de professor e aluna que evoluiu para uma amizade muito forte. Disso, passou para um relacionamento amoroso e um casamento em 1958, ano do nascimento de Craig, filho de Tina com Hill — Turner acabaria criando o bebê ao longo dos anos.

Os meses passaram e o tão esperado sucesso chegaria quando, no final de 1959, o cantor contratado para gravar "A Fool in Love" não apareceu e Tina acabou chamada ao estúdio para gravar a canção. Lançada em 1960, a faixa estreou na primeira posição da parada R&B e entrou no top-30 geral, um feito e tanto. E foi nesse momento que Ike Turner se rendeu e mudou o nome do grupo para Ike & Tina Turner Revue. Além dos dois, um conjunto de trompas, a Kings of Rhythm e as Ikettes, grupo feminino de vocal de apoio, ajudaram a fazer as apresentações do agora casal um verdadeiro sucesso.

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Quando o dono da gravadora Sue, Juggy Murray, ouviu a música, rapidamente ofereceu-lhes um contrato — entenda Ike sendo "eles". Assim, ao longo da turnê, Ike Turner escreveu as canções do que seria o primeiro álbum desse imenso grupo reformulado e controlado 100% por ele em todos os setores do início ao fim. Nada passava sem a aprovação dele. A única sugestão aceita foi uma vinda de Murray, a de transformar Tina Turner na estrela do espetáculo.

Gravado em poucos dias, o "The Soul of Ike & Tina Turner" foi lançado em fevereiro de 1961 e não chamou muito a atenção, mesmo com os sucessos dos singles "A Fool In Love" e "I Idolize You". A semente estava plantada, mas o sucesso como conhecemos só viria quase uma década depois com o histórico "Workin' Together", de 1970.

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Resenha de "The Soul of Ike & Tina Turner"

Não dá para dizer que os Kings of Rhythm não tinham ritmo. Porque eles tinham, e mostram isso na faixa de abertura "I'm Jealous". Também dá para ver que Ike Turner seguia bem o estilo da época em canções como "I Idolize You" e "If", que lembra muito o estilo consagrado por Ray Charles nos 20 anos anteriores.

Ike explora o potencial vocal de Tina na balada bonitinha "Letter From Tina" e na melancólica "You Can't Love Two", em uma interpretação para deixar qualquer coração machucado. "I Had A Notion" encerra o lado A na primeira de muitas canções escritas por outros compositores presentes na discografia da dupla.

Ao ouvir a introdução de Tina Turner para "A Fool In Love", é possível entender o sucesso como ali estava nascendo uma cantora pronta para fazer gato e sapato do público. A interpretação é surreal de feroz e pronta para explodir, corroborada nas potentes "Sleepless" e "Chances Are".

Em "You Can't Blame Me" e "You're My Baby" , uma surpresa: Ike e Tine dividem o vocal em uma gravação. E dá para entender porque ela era a estrela do show. A curtinha e romântica "The Way You Love Me" encerra o trabalho de maneira competente.

Não dá para falar que é um trabalho genial, mas é possível dizer que o refinamento do material e da evolução de Tina Turner têm muito desse primeiro disco, o passo inicial de uma carreira das mais marcantes para quem pôde acompanhar de perto.

Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "I'm Jealous" (Ike Turner e Jane Bussong) (2:13)
2 - "I Idolize You" (2:53)
3 - "If" (2:10) 4 - "Letter From Tina" (2:38)
5 - "You Can't Love Two" (2:56)
6 - "I Had A Notion" (Joe Morris) (2:58)

Lado B

1 - "A Fool In Love" (2:53)
2 - "Sleepless" (Ike Turner e Jane Bussong) (2:51)
3 - "Chances Are" (3:42) 4 - "You Can't Blame Me" (2:13)
5 - "You're My Baby" (2:22)
6 - "The Way You Love Me" (1:50)

Todas as músicas foram compostas por Ike Turner, exceto as marcadas

Gravadora: Sue
Produção: Ike Turner e Juggy Murray
Duração: 31min39s

Ike Turner: vocal e guitarra
Tina Tuner: vocal
The Kings of Rhythm: instrumentos diversos
The Ikettes: vocal de apoio

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