Discos para história: Ruido Rosa, do Pato Fu (2001)


História do disco

"O Rappa não é o mesmo sem o Yuca [sic], o Herbert se acidentou, Fromer morreu. Todos os grandes estão saindo de cena. E o Rodolfo, que virou crente! Cara, se virou, qualquer um pode virar!", disse o baixista Ricardo Koctus, em entrevista ao jornal 'O Estado de S. Paulo', em 2001, para divulgar a turnê do álbum "Ruido Rosa", lançado há então pouco tempo pelo Pato Fu.

O primeiro ano do novo século foi marcado por mudanças profundas no pop rock brasileiro. Bandas como Skank e Charlie Brown Jr., cada uma com seu estilo, estavam mais presentes entre os jovens, enquanto o pop nacional ganhava nomes como Ana Carolina e Cassia Eller, essa impulsionada pelo Acústico MTV. E ainda havia uma segunda onda do pagode e sertanejo, além do início do sucesso do funk carioca.

Aparentemente, não era a hora de um disco experimental para nenhuma banda do pop rock. Parecia ser a hora de entrar nessa onda e fazer canções para um gosto mais popular. Mas não para o Pato Fu.

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O grupo formado à época por John Ulhoa, Fernanda Takai, Ricardo Koctus e Xande Tamietti vinha de uma sequência de cinco álbuns em oito anos. De desconhecidos no início dos anos 1990, o grupo virou uma das estrelas da nova geração do rock nacional, principalmente por "Televisão de Cachorro" (1998) e "Isopor" (1999), trabalhos que ultrapassaram os fãs e acabaram com músicas nas rádios e, do segundo, uma canção na novela "Laços da Família", sucesso da Globo da época e recentemente reprisada pelo canal Viva.

Também na época, o mundo passava por uma fase super tecnológica em que, depois do breve retorno do rock com guitarras nos anos 1990 graças ao grunge, o eletrônico estava voltando ao gosto de artistas que desejavam aprofundar um pouco mais o próprio som. De brega e excessivo nos anos 1980, os sintetizadores estavam caindo no gosto de bandas gigantes, como Radiohead, e de menores também. E se o Brasil estava ouvindo uma coisa, o Pato Fu decidiu partir para outra.

Em entrevista para a 'Folha de S. Paulo', também em 2001, John Ulhoa admitiu que a mudança de sonoridade não era uma surpresa para eles, já que o primeiro álbum, de 1993, era tão experimental e pesado quanto "Ruido Rosa", mas o processo foi diferente.

"As letras são totalmente diferentes. O processo de criação nove anos atrás era mais rápido e sem tanta preocupação com a qualidade como hoje", disse ele, à época.

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O CD contou com uma produção totalmente caseira do início ao fim graças aos sintetizadores, um sequenciador, efeitos e muitos outros elementos colocados para rechear as canções do disco, ainda contando com a formação clássica de uma banda — guitarra, baixo e bateria. Tudo para fazer de "Ruido Rosa" uma experiência diferente para músicos e fãs. E tudo isso foi mixado em Londres, na Inglaterra.

O Pato Fu buscou na moda da época incrementar o próprio som e deu bastante certo. Lançado em abril de 2001, "Ruido Rosa" ajudou a trazer novos fãs, além de manter os antigos, ao fazer um pop que conseguia uni-los naquele momento: uma mistura de modernidade eletrônica e experimental à Radiohead com um pop rock brasileiro bastante simples. Talvez essa seja, afinal, a essência do grupo.

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Resenha de "Ruido Rosa"

Um disco que começa com um teremim merece todo respeito do mundo, principalmente quando o Pato Fu abre o álbum com uma versão potente de "Eu", da Graforréia Xilarmônica. A guitarra alta domina a faixa e ajuda a abrilhantar o vocal de Fernanda Takai nessa canção bonitinha e feroz ao mesmo tempo.

Depois a banda parte para a balada melancólica "Ninguém", inspirada no Radiohead, e para a animada "Day After Day, cantada em inglês que começa com sample de uma faixa da cantora Margaret Singana. A faixa ainda conta com a participação de Os Mulheres Negras, dupla formada pelos músicos André Abujamra e Maurício Pereira. São duas canções bem diferentes, mas ajudam a entender o Pato Fu no início dos anos 2000.

A ironia é o superpoder da juventude, bem usada na "Tribunal De Causas Realmente Pequenas", quando o final surpreendente difere muito do início, enquanto a animada "Menti Pra Você, Mas Foi Sem Querer" foi uma das canções feitas pela banda na época que acabou em uma novela — "Coração de Estudante", da Globo.

Todas essas misturam deságuam no pop da faixa-título e mostra um Pato Fu aberto para fazer coisas mais simples ou mais reais, caso de "Deus", uma ótima letra sobre a hipocrisia de quem usa a religião para benefício próprio e esquece dos outros. E ainda há espaço para "2 Malucos", inspirada pelo britpop, e para o cover de "Tolices", do Ira!, outra canção que a banda tomou para si e não parece ser de mais ninguém.

A parte final traz a bonitinha e animada "Que Fragilidade", que lembra muito o então futuro projeto Música de Brinquedo, a romântica "E O Vento Levou..." e a faixa à Odair José "Sorria, Você Está Sendo Filmado". E o álbum não poderia encerrar de outro jeito se não com "Ando Meio Desligado", cover de Mutantes, presente na novela "Um Anjo Caiu do Céu". Talvez seja o maior sucesso deles até hoje.

Enquanto a música brasileira estava indo para um lado, o Pato Fu foi para o outro. A decisão resultou em "Ruido Rosa", disco que até hoje divide a opinião dos fãs e ajuda a valorizar ainda mais o disco, um bom exemplo de como a banda sempre fez questão de fazer o que tem vontade.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Eu" (Frank Jorge/Marcelo Birck/Alexandre Ograndi/Carlo Pianta) (2:58)
2 - "Ninguém" (John Ulhoa) (4:38)
3 - "Day After Day" (Fernanda Takai/John Ulhoa/Bertha Egnos/Gail Lakier) (Participação: Os Mulheres Negras) (3:53)
4 - "Tribunal De Causas Realmente Pequenas" (John Ulhoa/Fernanda Takai) (4:12)
5 - "Menti Pra Você, Mas Foi Sem Querer" (Rubinho Troll) (2:59)
6 - "Ruído Rosa" (John Ulhoa) (3:27)
7 - "Deus" (John Ulhoa) (3:52)
8 - "2 Malucos" (John Ulhoa) (3:18)
9 - "Tolices" (Edgard Scandurra) (3:58)
10 - "Que Fragilidade" (John Ulhoa/Rubinho Troll) (3:09)
11 - "E O Vento Levou..." (John Ulhoa/Fernanda Takai) (3:41)
12 - "Sorria, Você Está Sendo Filmado" (John Ulhoa) (4:05)
13 - "Ando Meio Desligado" (Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias) (3:29)

Gravadora: BMG
Produção: Dudu Marote
Duração: 47min59s

John Ulhoa: violão, guitarra, teclado, piano de brinquedo, teremim, sintetizadores e vocal de apoio
Fernanda Takai: vocal, gaita, violão e guitarra
Ricardo Koctus: baixo e vocal de apoio
Xande Tamietti: bateria, pandeiro e efeitos

Convidados:

André Abujamra: vocal e guitarra
Maurício Pereira: saxofone soprano, saxofone tenor e vocal de apoio
Dudu Marote: baixo e piano

Gravação:

Stuart Hawkes: masterização
Clive Goddard e Rogério Pereira: mixagem (faixas: 3, 4, 6, 10, 13)
Carlos Blau e Patrick McGovern: técnicos em estúdio

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