Discos para história: Showcase, de Patsy Cline (1961)


História do disco

Patsy Cline (1932-1963) viveu muito pouco em comparação com algumas das estrelas do country, mas ela conseguiu marcar o gênero como poucos. Mas a carreira dela foi cheia de altos e baixos desde quase sempre e só ficou estável no início dos anos 1960, quando, finalmente atingiu o sucesso. Entre escrever uma carta para participar do lendário Grand Ole Opry e conseguir destaque e chamar atenção, quase uma década de muito trabalho se passou.

Uma fita de algumas gravações dela chegou nas mãos de Bill McCall, presidente da gravadora Four Star, rapidamente ela conseguiu um contrato. Só que era algo ruim para ela, já que McCall ficava com pouco mais de 97% dos royalties. Cline gravou de tudo um pouco, entre gospel, rockabilly, country tradicional e pop, mas nunca conseguiu fazer sucesso. É consenso entre os estudiosos da música dos anos 1950 que faltava algo a ela, mesmo após o sucesso de "Walkin 'After Midnight" e do elogiado primeiro disco de estúdio, e ainda o repertório escolhido nunca era dos melhores.

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Quando ela estava cada vez mais aprisionada na carreira, Cline passou a beber mais e a se atrasar e até se separou do primeiro marido, Gerald Cline, mas superou tudo isso quando se casou com Charlie Dick, mudou-se para Nashville por conta da transferência do marido do trabalho e teve uma filha, chamada Julie. A carreira começou a decolar quando virou integrante fixa do Grand Ole Opry, finalizou o contrato com a Four Star, assinou com a Decca -- ela recebeu US$ 1 mil de adiantamento e colocou em contrato que só trabalharia com o produtor Owen Bradley -- e lançou o single "I Fall to Pieces", número 1 da parada country da Billboard e na 12ª posição no ranking geral. Um sucesso enorme, é claro. E tudo isso entre 1960 e 1961.

Mas tudo era bom demais para ser verdade. Em 14 de junho de 1961, ela sofreu um grave acidente no carro dirigido pelo irmão, atingido por outro veículo. A cantora quebrou o pulso, deslocou o quadril e teve um grande corte na testa, quase perdendo a visão. Cline passou um mês no hospital se recuperando e contando a quem quisesse ouvir que "Jesus me salvou e me disse que ainda tinha coisas para fazer aqui".

As seis semanas de recuperação em casa e sem aparições públicas não a deixaram menos desmotivada a continuar. Quando foi liberada, fez questão de ir ao Grand Ole Opry cantar. Mesmo sem estar 100% de saúde, ela entrou em estúdio para gravar "Crazy", de Willie Nelson pouco tempo depois. Talvez a grande história dessa gravação é que ela não gostou da música e bateu o pé para não gravá-la. Mas Bradley insistiu e venceu a disputa. E viu o single disparar até o segundo lugar da para country. Enfim, o repertório escolhido condizia com a voz e, finalmente, o sucesso era uma realidade.

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Por conta disso, escolher o repertório de "Showcase" foi uma tarefa relativamente fácil. Com apoio dos melhores músicos que a Decca podia pagar, ela entrou em estúdio em novembro de 1960, parou quando sofreu o acidente e retornou em 25 de agosto de 1961 para finalizar o trabalho. Lançado em 27 de novembro, o LP chegou na posição 73 da parada da Billboard, um feito e tanto para uma artista de nicho, que conseguiria fazer sucesso também no Reino Unido em tempo de entrar na parada na semana do Natal daquele ano.

Foi assim que Patsy Cline conseguiu não só fazer sucesso, mas, pouco tempo após morrer, entrar no imaginário das pessoas e estudiosos sobre o futuro da carreira dela, interrompida de maneira muito precoce, aos 30 anos, vítima de um acidente aéreo. "Showcase" seria o início de uma carreira de sucesso no country. Uma pena não ter sido.


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Resenha de "Showcase"

O country popularizado por Patsy Cline começa com a ótima "I Fall to Pieces", composta pela dupla Hank Cochran e Harlan Howard, expoente do gênero a partir dos anos 1950. A canção tem nos arranjos e no vocal de apoio dos Jordanaires, que trabalharam com Elvis Presley, trunfos para transformá-la em clássica. E assim aconteceu, com todos os méritos. Como era bem comum à época, uma dançante vinha na sequência. Assim, surge "Foolin' Round".

Para chegar com tudo nos corações mais cansados, a linda balada "The Wayward Wind" ganha muito na voz de Cline. Ao conseguir dar o sentimento necessário para a faixa, a cantora faz o ouvinte acreditar em cada palavra do que ela diz. E isso faz uma enorme diferença. Ainda no esquema para balancear o repertório, a dançante balada com partes em espanhol "South of the Border (Down Mexico Way)". E a sequência formada por "I Love You So Much It Hurts" e "Seven Lonely Days" encerra o lado A.

O grande sucesso da carreira de Cline abre o lado B. De Willie Nelson, hoje um dos poucos representantes do country daquela época ainda vivo, "Crazy" é uma canção muito bonita e ainda duradoura graças a outras regravações feitas ao longo de 50 anos. A bontinha "San Antonio Rose" surge para colocar o ouvinte para dançar após limpar as lágrimas do início da segunda parte.

Nas canções finais, Walkin' After Midnight" acaba sendo o destaque. Primeiro sucesso da carreira da cantora, a faixa foi regravada e acabou ficando ainda melhor do que a lançada ainda no final dos anos 1950. E o final, com o ótimo arranjo de "Have You Ever Been Lonely (Have You Ever Been Blue)", é para fechar com chave-de-ouro.

O melhor LP da carreira de Patsy Cline é um marco no country. A partir dele, todos os discos do gênero acabaram com uma roupagem parecida pelo sucesso da cantora, hoje uma lenda da música.

Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "I Fall to Pieces" (Hank Cochran / Harlan Howard) (2:48)
2 - "Foolin' Round" (Howard / Buck Owens) (2:14)
3 - "The Wayward Wind" (Stanley Lebowsky / Herb Newman) (3:22)
4 - "South of the Border (Down Mexico Way)" (Michael Carr / Jimmy Kennedy) (2:26)
5 - "I Love You So Much It Hurts" (Floyd Tillman) (2:15)
6 - "Seven Lonely Days" (Marshall Brown / Earl Shuman / Alden Shuman) (2:13)

Lado B

1 - "Crazy" (Willie Nelson) (2:43)
2 - "San Antonio Rose" (Bob Wills) (2:20)
3 - "True Love" (Cole Porter) (2:09)
4 - "Walkin' After Midnight" (Alan Block / Don Hecht) (2:01)
5 - "A Poor Man's Roses (Or a Rich Man's Gold)" (Bob Hilliard / Milton DeLugg) (2:38)
6 - "Have You Ever Been Lonely (Have You Ever Been Blue)" (George Brown / Peter DeRose) (2:11)

Gravadora: Decca
Produção: Owen Bradley
Duração: 28min35s

Patsy Cline: vocal
Byron Bach: violoncelo
Brenton Banks, George Binkley III e Lillian Hunt: violino
Owen Bradley: órgão
John Bright e Cecil Brower: viola
Floyd Cramer: piano
Hank Garland e Grady Martin: guitarra
Buddy Harman: bateria
Walter Haynes e Ben Keith: guitarra steel
Randy Hughes: violão
The Jordanaires (Hoyt Hawkins, Neal Matthews Jr., Gordon Stoker e Ray Walker):
vocal de apoio
Doug Kirkham: bateria
Bob Moore: baixo
Suzanne Parker e Hargus "Pig" Robbins: piano

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