Discos para história: Elvis Is Back, de Elvis Presley (1960)


História do disco

É impossível mensurar a importância de Elvis Presley na música. A influência dele não apenas ajudou na criação de outras bandas, como também foi fundamental para consolidar o rock como um gênero jovem e rebelde -- Little Richard, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis teriam tido muito mais dificuldade em se firmar sem o sucesso arrebatador de Elvis. Por isso, é impensável imaginar que ele precisou largar uma carreira de sucesso para servir ao exército dos Estados Unidos.

No primeiro trimestre de 1958, Presley trabalhou nas filmagens de "Balada Sangrenta" (1958), considerado até hoje um de seus melhores longas até hoje. E justamente quando ele estava se encaminhando para virar um dos grandes astros de Hollywood, acabou sendo convocado em 24 de março daquele ano. Quatro dias depois viajou para Fort Hood, Texas, onde ficou até 10 de junho, quando foi liberado para a primeira saída. A folga, a última antes de encarar 18 meses de serviço na Alemanha, foi aproveitada para gravar "A Big Hunk O' Love". Seria a última gravação de uma música inédita até 1960.

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Elvis poderia ter continuado com uma carreira regular se tivesse entrado na divisão do exército chamada "Special Services" (Serviços Especiais, em tradução literal), divisão criada durante a Segunda Guerra Mundial como a função de entreter os soldados durante o período de serviço fora de casa. Mas o rígido e controlador empresário Colonel Tom Parker não aceitou e decidiu que o cantor teria que cumprir o serviço militar como qualquer cidadão.

Para alguns, essa decisão teria sido um desastre completo e, muito provavelmente, teria arruinado com uma carreira não tão longa. Mas isso não aconteceu Elvis Presley, principalmente pelo fato de a gravadora RCA Victor ter feito uma operação de guerra (não literalmente) para suprir a falta de material inédito por dois anos. O fluxo regular de material na praça era suficiente para manter a imagem do cantor em atividade, enquanto o soldado estava na base em Friedberg. Foram dez sucessos no top-40 e um LP no top-3. Nada mal.


Ele só foi dispensado do serviço ativo em 5 de março de 1960 e é visto como exemplo por todo país ao ter cumprido o tempo no exército e ter sido promovido a sargento sem qualquer privilégio. O período não foi apenas importante para amadurecimento como também acabou sendo na Alemanha que ele conheceu Priscilla Beaulieu, então com 14 anos. Eles se casariam após sete anos e meio de namoro e teriam uma filha, Lisa Marie, em 1968. Enquanto isso, Parker renovou todo contrato com a gravadora e garantiria ainda mais dinheiro para todos os envolvidos.

Após pouco mais de duas semanas entre os agitos e ansiedade do público misturadas com uma merecida folga, Elvis Presley retornaria ao estúdio de gravação em 20 de março de 1960. Isso seria fundamental por alguns aspectos. O primeiro deles: Elvis abriria mão de apresentações ao vivo por quase uma década para se concentrar na carreira no cinema, uma vez que era muito menos trabalhoso e mais vantajoso financeiramente para ele interpretar quase sempre o mesmo papel do que cair na estrada por longas turnês pelos Estados Unidos.

O segundo é a produção a toque de caixa de músicas novas. Logo no primeiro dia de trabalho, "Stuck On You" foi gravada, embalada como single com "Fame and Fortune" no lado B, três dias depois e levou apenas três semanas para chegar ao primeiro lugar nas paradas. E não pararia por aí. Foram quatro discos inéditos entre 1960 e 1962, além de 15 singles lançados no mesmo período. A "folga" havia acabado.

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Um importante passo dado pela dupla Presley-Parker foi dar uma amansada no estilo rebelde. Se desejavam uma carreira no cinema, era fundamental uma imagem um pouco mais agradável, principalmente para os pais dos filhos que desembolsariam o dinheiro do ingresso. E isso se refletiu nos discos ainda no final dos anos 1950 e com ainda mais força na década seguinte. "Elvis Is Back!" é um bom resumo isso. Recheado de baladas, foi o primeiro álbum de inéditas desde "Elvis' Christmas Album", de 1957. Junto com a Blue Moon Boys, banda que o acompanhava agora sem baixista Bill Black, o álbum foi gravado em duas sessões -- nos dias 20 e 21 de março e em 3 e 4 de abril.

Lançado em 8 de abril, como esperado, liderou a parada do Reino Unido e chegou ao segundo lugar nos Estados Unidos, mas não agradou uma parte dos críticos ao enxergar "falta de energia" e um material "monótono e sem brilho". Anos depois, em reavaliações, o material do álbum é considerado um dos melhores da carreira de Elvis.


Resenha de "Elvis Is Back"

A mudança de repertório de Elvis Presley aconteceu bem ao poucos, mas era visível. Ele começa o novo trabalho com a balada romântica e dançante "Make Me Know It", relembrando o início da carreira, quando a prioridade era fazer o pessoal se mexer bastante na pista. O novo lado do cantor aparece logo depois em "Fever", uma canção cheia de mistério e pronta para ser usada em algum filme noir da época.

O grupo vocal Os Jordanaires ajuda Presley em outra balada. "The Girl of My Best Friend" é dessas canções que casam bem com o rock romântico da época: bobinha e suficiente para arrasar com os corações dos adolescentes sedentos por amor. Ainda no lado A, ele não esquece da origem country ao cantar as melancólicas "I Will Be Home Again" e "Thrill of Your Love", tampouco esquece de colocar o pessoal para dançar novamente na curta "Dirty, Dirty Feeling".



Claro que não poderia faltar uma música com alusão ao tempo no exército e ela surge no início do lado B. "Soldier Boy" funciona na medida certa ao agradar os soldados ao lembrar da distância do amor e agrada às amadas, torcendo pela volta do homem que ama. O baile precisa esquentar depois dessa, certo? Pois surge a dançante "Such a Night", que deve ter agitado muitas noites em galpões cheios de música e romances (ou algo perto disso).

Dá para entender a reclamação de quem não gosta, já que o álbum realmente começa a ficar bastante repetitivo na parte final. "It Feels So Right" e "Girl Next Door Went A-Walking" são canções que Elvis parecia já ter cantado antes, mas funcionam dentro do repertório. Difícil querer ficar parado. A parte final inicia um tanto mais pesada com o cantor sentindo a dor da partida em "Like a Baby" e explora o blues em "Reconsider Baby".

A mudança era evidente, mas Elvis não mudaria de repertório de uma outra para outra. No primeiro trabalho após a dispensa do exército, ele conseguiu equilibrar o melhor de dois mundos ao dar um tostão de sua voz em canções melancólicas do blues e em faixas mais dançantes. Além de parecer melhor do que nunca, ele conta com ajuda de uma banda de primeiro nível. E os Jordanaires estão muito bem no vocal de apoio. O resultado é um álbum merecedor de mais atenção por parte dos fãs no ano em que completa 60 anos.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Make Me Know It" (Otis Blackwell) (1:58)
2 - "Fever" (John Davenport, Eddie Cooley) (3:31)
3 - "The Girl of My Best Friend" (Beverly Ross, Sam Bobrick) (2:21)
4 - "I Will Be Home Again" (Bennie Benjamin, Raymond Leveen, Louis C. Singer) (2:33)
5 - "Dirty, Dirty Feeling" (Jerry Leiber, Mike Stoller) (1:35)
6 - "Thrill of Your Love" (Stan Kesler) (2:59)

Lado B

1 - "Soldier Boy" (David Jones, Theodore Williams, Jr.) (3:04)
2 - "Such a Night" (Lincoln Chase) (2:58)
3 - "It Feels So Right" (Fred Wise, Ben Weisman) (2:09)
4 - "Girl Next Door Went A-Walking" (Bill Rice, Thomas Wayne) (2:12)
5 - "Like a Baby" (Jesse Stone) (2:38)
6 - "Reconsider Baby" (Lowell Fulson) (3:39)

Gravadora: RCA Victor
Produção: Steve Sholes e Chet Atkins
Duração: 31min54s

Elvis Presley: vocal e violão

Convidados:

Scotty Moore: guitarra
Hank Garland: guitarra e baixo
Floyd Cramer: piano
Bob Moore: baixo duplo
D. J. Fontana: bateria
Buddy Harman: bateria
The Jordanaires: vocal de apoio
Boots Randolph: saxofone
Charlie Hodge: vocal de apoio em em "I Will Be Home Again"



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