Discos para história: Força Bruta, de Jorge Ben (1970)


História do disco

Jorge Ben sempre foi uma força da natureza quando pega a guitarra e dispara um hit atrás do outro. A melhor fase da carreira dele foi entre a estreia, em 1963, até meados dos anos 1970. No período, ele conseguiu entrar para a história da música popular brasileira por fazer canções de um jeito muito único ao conseguir tirar o melhor da guitarra com a mistura do rock com ritmos brasileiros.

Em 1965, por diferenças criativas, o cantor rompeu com a gravadora Phillips e ficou quatro anos como artista independente. Mas voltou ao antigo lar em 1969 para lançar um LP com seu nome no título. Com tudo em ordem, ele conseguiu voltar ao ritmo de trabalho de quase um disco por ano. "Força Bruta" uniu pela primeira vez Jorge Ben, ainda sem o Jor, com o Trio Mocotó formado por Fritz Escovão, Nereu Gargalo e João Parahyba.

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Formado no final dos anos 1960, a banda foi descoberta por Jorge Ben durante suas andanças por São Paulo. Os três vieram do samba e se conheceram durante os anos em que fizeram parte de grupos diferentes, ficaram amigos e decidiram partir para algo mais ousado -- o que ficaria conhecido como samba-rock. A carreira solo do grupo decolou em 1969, quando acompanharam Jorge Ben no IV Festival Internacional da Canção, da TV Globo, em "Charles Anjo 45", um dos grandes sucessos da época. Disso, partiu o convite para acompanhá-lo como banda de apoio no futuro novo álbum de estúdio.

O entrosamento entre músico e banda era formidável. Em pouco tempo, Jorge Ben dava instruções simples ou mostrava apenas uma vez a música para seus companheiros. A intenção não era ter rigidez, mas o trio conseguir criar em cima da melodia da guitarra. Basicamente, existia um rumo musical com uma base cheia de improvisos em cima disso. Por isso, tudo soa tão natural e espontâneo nos três LPs em que o quarteto trabalhou junto.

"O LP foi feito todo em apenas uma noite, para dar uma idéia do clima que estava rolando. O entrosamento do trio (eu incluso) de Ben era tão especial que a maior parte das músicas sequer havia sido ensaiada. Jorge cantava uma vez e, em seguida, saíamos gravando no improviso. A ideia era fazer um groove característico com uma batida que combinasse com a levada de violão dele, considerada mais roqueira ou iê-iê-iê. E foi desta fusão que nasceu a marca registrada de um estilo brasileiro, mais tarde considerado pela crítica e músicos como samba-rock", contou João Parahyba, baterista do Trio Mocotó, à revista 'Trip' em 2005.

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"Sinto-me privilegiado por ter participado daquele momento que, além de ter me dado muito prazer, também me deu o apelido de Comanche, por causa de uma brincadeira de Jorge -- registrada na faixa 'Charles Jr'. Ah, o apito de trem que aparece no disco era de um trenzinho da minha irmã, que destruí para usar como instrumento", completou.

De volta ao lar, Jorge Ben pôde usar elementos diversos em "Força Bruta" para fazer sua música. Lançado em setembro de 1970 no Brasil, também ganhou edição nos Estados Unidos e o levou ao reconhecimento em um dos mercados musicais mais importantes do mundo por conseguir mostrar que dava para misturar funk americano, soul, samba e rock em uma coisa só e tudo ao mesmo tempo.


Resenha de "Força Bruta"

É difícil não ficar contagiado com as músicas interpretadas por Jorge Ben Jor ao longo de toda carreira. A abertura de "Força bruta" mostra bem isso com a agitada "Oba, Lá Vem Ela", em que a mulher -- principal tema do trabalho -- é citada pela primeira vez. A seguinte é "Zé Canjica", quando o trio Mocotó vai musicalmente para um lado e o guitarrista para o outro, mas isso não atrapalha. Ao contrário, ajuda a dar um brilho e um frescor inigualável à música.

Em "Domênica Domingava num Domingo Linda toda de Branco" podemos ouvir o lado mais melancólico e sofisticado do compositor ao contar que só é feliz quando Domênica chega. Mas é nesse trabalho em especial que Jorge Ben Jor se autoafirmava como um afro-brasileiro e explorava isso em um LP pela primeira vez. A paulada "Charles Jr." ("Eu só quero viver em paz/ E ser tratado como um igual para igual/ Pois em troca do meu carinho e do meu amor/ Eu quero ser compreendido e considerado/ E se for possível também amado/ Pois não importa o que eu tenho") já traz o estilo musical consagrado em "A Tábua de Esmeralda" (1974).



Com quase uma década de carreira, ele já começava se auto referenciar e um bom exemplo é "Pulo, Pulo", faixa que encerra o lado A do álbum. Animada e cheia de ironia, conta com um Trio Mocotó bem inspirado para convidar o pessoal para dançar. O fim da primeira parte mostrava um lado bem brasileiro, assim como o início do lado B quando "Apareceu Aparecida" explora a viola caipira em uma faixa que poderia ser uma típica cantiga de roda de algum canto do Brasil.

Um dos clássicos de Jorge Ben Jor saiu desse álbum. "O Telefone Tocou Novamente" tem um refrão muito famoso vindo de uma canção em que o cantor conta que o amor dele não atende o telefone e ele questiona se ela ainda está zangada, gerando um momento dos mais tristes por conta do interlocutor. E em "Mulher Brasileira" ele exalta a mulher brasileira e quer ter uma na vida dele, mostrando todas as qualidades ao longo de pouco mais de quatro minutos de música.



A parte final do disco mostra a irreverente "Terezinha" ("Os desencontros são tantos/ Que quando você vai pra casa/ Eu sozinho vou pra rua/ Quando você olha pro sol/ Eu sozinho olho pra lua/ Tetê, Terê, Terezinha do meu Brasil/ Terê, Terezinha do meu Brasil") e a faixa-título é um samba dos mais poderosos em que o narrador pede para"o amor não seja como um sonho porque ele tem que acordar para trabalhar" -- o que também pode ser uma ironia com a ditadura, no sentido de não querer acordar de um bom sonho e encarar a realidade.

Em plena ditadura militar brasileira, Jorge Ben Jor ousou ao lançar um disco com o nome "Força Bruta" em que exalta as raízes mais profundas da música brasileira. É nesse álbum é possível ouvir a autoafirmação de um dos melhores compositores brasileiros de todos os tempos e alguém disposto a explorar tudo que pode para fazer música.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Oba, Lá Vem Ela" (4:13)
2 - "Zé Canjica" (3:53)
3 - "Domênica Domingava num Domingo Linda toda de Branco" (3:50)
4 - "Charles Jr." (6:09)
5 - "Pulo, Pulo" (2:50)

Lado B

1 - "Apareceu Aparecida" (3:17)
2 - "O Telefone Tocou Novamente" (3:51)
3 - "Mulher Brasileira" (4:27)
4 - "Terezinha" (3:13)
5 - "Força Bruta" (5:15)

Todas as músicas foram escritas por Jorge Ben.

Gravadora: Philips
Produção: Manoel Barenbein
Duração: 40min37s

Jorge Ben: guitarra e vocal

Trio Mocotó

Fritz Escovão: cuíca
Nereu Gargalo: percussão
João Parahyba: bateria



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