História do disco
A história da formação dos Carpenters começa em uma decisão familiar: os pais de Richard e Karen, Harold e Agnes, queriam sair de New Haven, Connecticut, para uma cidade mais quente -- o patriarca da família era complemente avesso às baixas temperaturas da cidade no inverno. O local escolhido não poderia atender melhor o desejo dele: Los Angeles.
Foi na cidade da Costa Oeste dos Estados Unidos que os irmãos Carpenter deram os primeiros passos na música, como compartilhar o mesmo gosto pela dupla Les Paul e Mary, de enorme sucesso nos Estados Unidos em meados dos anos 1950 e início da década seguinte. Richard daria os primeiros passos na carreira ainda na adolescência, na nova escola, em 1963, local onde conheceu John Bettis, parceiro de composição, enquanto Karen seria incentivada por uma amiga a tocar bateria.
Acompanhados por Wesley Jacobs, o primeiro passo da dupla na música foi a banda de jazz Richard Carpenter Trio e, ao vencer uma competição, assinaram com a gravadora RCA. Mas após a gravação de dois covers sem nenhum tipo de repercussão, acabaram sendo liberados do resto do contrato. Depois de algumas aventuras e frustrações, a última tentativa para formar uma banda foi com o Spectrum. O problema era que o novo grupo não tinha nada a ver com os sucessos da época, as bandas psicodélicas, então era complicado conseguir trabalho. Um das poucas chances foi ser banda de abertura no Whiskey a Go Go, nisso incluso abrir para um Steppenwolf ainda no início de carreira.
Mais discos dos anos 1970:
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Em 1968, a banda acabou e os irmãos Carpenter resolveram continuar a carreira por conta. Estava formado Os Carpenters, que havia começado de brincadeira no estúdio quando Richard gravava a voz da irmã e colocava alguns overdubs em cima para criar o efeito de um coral. O importante passo foi contar com Ed Sulzer, amigo do tecladista, como empresário. Ele se mexeu e foi encaixando a dupla com um baixista de apoio em programas e competições, e logo pintou uma boa oferta para um teste para a gravação de um single para o novo carro da Ford. A proposta foi aceita, mas descartada logo em seguida. O motivo? Uma fita demo da dupla parou nas mãos de Herb Alpert, dono da gravadora A&M. Ele ficou completamente encantado com a voz de Karen Carpenter.
O contrato foi assinado em 22 de abril de 1969, com os pais precisando assinar por Karen, à época apenas com 19 anos -- nos Estados Unidos, você só vira adulto legalmente aos 21 anos. Nisso eles mudaram o nome da dupla para apenas Carpenters, sem o "Os" antes. "Espero que tenhamos alguns hits", disse Alpert logo após a assinatura do compromisso. Ele não tinha ideia do tamanho do acerto da decisão em fechar contrato.
Contrato assinado, a dupla começou a trabalhar no primeiro álbum da carreira. Jack Daugherty está creditado como produtor, mas era Richard que dava as cartas no estúdio. Lançado em 9 de outubro de 1969, "Offering" foi um sucesso entre os críticos, mas vendeu menos de 20 mil cópias e dando um baita prejuízo para gravadora. O LP só faria sucesso após o lançamento do segundo álbum -- seria reeditado meses depois com o nome "Ticket to Ride", cover dos Beatles feito pela dupla que acabou fazendo razoável sucesso à época do lançamento.
Apesar do pouco sucesso entre o público inicialmente, a base do sucesso dos Carpenters estava toda lá. Isso só mostra como não existe uma fórmula exata para fazer sucesso, as coisas simplesmente acontecem ou não acontecem. Como era praxe na época, a dupla logo voltou ao estúdio para a gravação do segundo álbum de estúdio. Assim como o primeiro, muita coisa já estava pronta e, com alguns covers, era basicamente só gravar. Mas, de novo, Alpert estava lá para dar um pequeno empurrão. Depois de um show para a caridade, o dono da A&M viu potencial para a regravação de "(They Long To Be) Close To You", música composta por Burt Bacharach e Hal David. Ele acreditava quase cegamente que o arranjo de Richard e a voz de Karen transformariam a canção em um hit. Ele não tinha ideia do acerto da sugestão.
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O single foi subindo nas paradas desde o lançamento em 15 de maio até atingir o primeiro lugar no final de julho e lá permanecer por quatro semanas seguidas. Seria a primeira de muitas vezes da dupla nos principais postos da parada musical nos Estados Unidos. Foi exatamente nesse dia a última gravação feita para "Close to You", o vindouro segundo LP de estúdio.
Lançado em 19 de agosto de 1970, "Closer to You" foi um sucesso estrondoso ao atingir o segundo lugar da parada dos Estados Unidos logo na estreia. E o lançamento de outro single de sucesso, "We've Only Just Begun", consolidaria o Carpenters como uma das bandas de maior sucesso ao longo de toda década.
Resenha de "Close to You"
Uma coisa muito comum nas gravadoras é contar com músicos de estúdio contratados para dar uma força para uma banda, cantor ou cantora -- Jimmy Page e John Paul Jones, do Led Zeppelin, eram músicos de estúdio no início da carreira. Na hora de gravar, é muito mais difícil conseguir tocar e cantar ao mesmo tempo, e a diferença seria brutal no disco. Na A&M, quem ajudava músicos novos e veteranos era o Wrecking Crew, banda que gravou milhares de músicas ao longo de toda carreira e detém o recorde mundial de participação de gravações até hoje.
Eles, com uma mãozinha do baterista Hal Baine, gravaram a faixa de abertura de "Close to You". We've Only Just Begun" foi usada em um comercial de um banco em 1968 para falar sobre um casal jovem começando a vida juntos e ganhou a regravação dos Carpenters, no que Richard considera como a melhor regravação da dupla. Bom, se você ouve essa canção e não se apaixona pela voz de Karen, você é um desalmado que não merece o amor de seus familiares (#piada).
A curta e animada balada cristã ouvida pela dupla na adolescência "Love Is Surrender" é o segundo de cinco covers da primeira parte, que conta com apenas uma composição original da dupla Bettis/Carpenter. Chamada "Maybe It's You", é outra balada melancólica que, por conta da escolha dos arranjos, soa inspirada em músicas clássicas do cinema. E "Reason To Believe" tem uma pegada um pouco mais country, em que os irmãos compartilham o vocal -- Rod Stewart faria sucesso com ela em 1971.
Logo após vem a segunda canção dos Beatles gravada por eles: "Help". Presente no álbum de mesmo nome e o grito de socorro de John Lennon, já farto dos compromissos com a banda e com problemas na vida pessoal, a faixa ganhou uma versão bem potente com um arranjo inesquecível. O lado A é fechado com "(They Long To Be) Close To You", primeiro sucesso. A canção foi regravada várias vezes nos anos 1960, mas só fez sucesso na voz de Karen. O bonito arranjo consegue complementar bem o vocal, mostrando como o entrosamento dos irmãos era ótimo no estúdio.
O lado B, esse com três canções originais e três covers, abre com a balada melancólica "Baby It's You" e segue no clima com "I'll Never Fall In Love Again", apesar de o arranjo ser um tanto mais animado. A primeira original da segunda parte é "Crescent Noon", aparentemente feita para machucar os corações mais cansados. Em seguida surge "Mr. Guder", escrita como uma provocação ao último chefe da dupla Bettis e Carpenter -- ele exigia dos músicos tocar apenas músicas de época, ao passo que o público só queria ouvir os sucessos. Um dia, eles atenderam ao público. No mesmo dia, foram demitidos. Para os amigos, é a canção mais antissistema que já fizeram.
A única canção com Richard no vocal é "I Kept On Loving You" e soa muito como algo feito pelo por Crosby, Stills & Nash (& Young, às vezes), pois a voz dele funciona bem no estilo. Para finalizar o álbum, "Another Song" é a canção mais experimental das 12 presentes no trabalho. Tem um pouco de pop, um pouco de barroco e um pouco de jazz, mostrando como Richard tinha um imenso potencial como arranjador.
As críticas sobre o disco ser leve em comparação ao clima pesado da Guerra do Vietnã beiram o absurdo. O segundo LP lançado pelos irmãos Carpenter é uma peça melódica linda e feita por dois talentos. Richard e seus arranjos absurdamente bons foram feitos para a voz doce de Karen. Esses talentos conseguiram entrar nos lares das pessoas por mais absoluto mérito. Seria o primeiro de muitos outros sucessos do longo de mais de uma década.
Ficha técnica
Tracklist:
Lado A
1 - "We've Only Just Begun" (Paul Williams/Roger Nichols) (3:04)
2 - "Love Is Surrender" (Ralph Carmichael) (1:59)
3 - "Maybe It's You" (John Bettis/Richard Carpenter) (3:09)
4 - "Reason To Believe" (Tim Hardin) (3:02)
5 - "Help" (John Lennon/Paul McCartney) (3:02)
6 - "(They Long To Be) Close To You" (Burt Bacharach/Hal David) (4:34)
Lado B
1 - "Baby It's You" (Barney Williams/Bacharach/Mack David) (2:50)
2 - "I'll Never Fall In Love Again" (Bacharach/David) (2:56)
3 - "Crescent Noon" (Bettis/R.Carpenter) (4:09)
4 - "Mr. Guder" (Bettis/R. Carpenter) (3:17)
5 - "I Kept On Loving You" (Williams/Nichols) (2:13)
6 - "Another Song" (Bettis/R.Carpenter) (4:22)
Gravadora: A&M/Polydor
Produção: Jack Daugherty
Duração: 38min37s
Karen Carpenter: vocal e bateria
Richard Carpenter: vocal, teclado, arranjo e condução
Convidados:
Hal Blaine: bateria
Joe Osborn e Danny Woodhams: baixo
Jim Horn, Bob Messenger e Doug Strawn: instrumentos de sopro
Wrecking Crew: instrumentos diversos em "We've Only Just Begun" e "(They Long to Be) Close to You"
Ray Gerhardt e Dick Bogert: engenheiros de som
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