Discos para história: Le Roi de La Bossa Nova, de Luiz Bonfá (1962)


História do disco

Luiz Bonfá foi um dos compositores mais brilhantes que a música brasileira já teve. No embalo da bossa nova, ele foi um dos primeiros a deixar o Brasil para se aventurar pelos Estados Unidos. Resultado? Sucesso absoluto com a trilha do filme "Orfeu do Carnaval", vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Duas músicas desse trabalho, "Samba de Orfeu" e "Manhã de Carnaval" -- parcerias com Antônio Maria --, viraram sucessos internacionais e acabaram sendo regravadas por muitos artistas jazz ao longo dos anos.

Então, Bonfá acabou sendo desses músicos que fizeram mais sucesso fora do que dentro do Brasil. Nascido em 17 de outubro de 1922, iniciou a carreira fazendo música rural que Dick Farney acabou gravando algumas delas. Depois passou por uma banda chamada Quitandinha Serenaders, mas não foi lá muito notado -- segundo relatos da época, bom mesmo era Alberto Ruschel, cantor com pinta de galã americano. Até pela descrição, o violonista deixava o trabalho falar por si. E foi nesse momento em que passou a trabalhar mais em peças instrumentais e, depois, em canções originais.

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Quando a bossa nova surgiu, é creditado como um de seus precursores, já que acabou adotando esse novo gênero para si. Mas Bonfá não seguiu o caminho de João Gilberto em "Chega de Saudade". Se as batidas de Gilberto no violão viraram clássicas, Bonfá aliou o antigo trabalho harmônico com a bossa nova, criando um híbrido de gêneros que também misturava samba, bolero e outros, apresentando melodias muito suaves e identificáveis aos bons ouvidos.

Assim que se mudou para os Estados Unidos, fez bastante sucesso com sua música. Os americanos ficaram bem impressionados com a habilidade do brasileiro nos arranjos e nas composições. Ele gravou inúmeros LPs ao longo da carreira, com destaque para apresentações ao vivo em Nova York, no lendário Carnegie Hall. Fora quando trabalhou em gravações de outros artistas, como em "Quincy Plays for Pussycats", de Quincy Jones, lançado em 1965, e na parceria com o saxofonista Stan Getz em "Jazz Samba Encore", de 1963, ano em gravou o clássico "Getz/Gilberto", com João Gilberto.

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Luiz Bonfá também fez bastante sucesso em terras europeias. Na França, em 1962, gravou as músicas do disco de inéditas chamado "Le Roi de La Bossa Nova". Lançado em diversas versões ao longo dos anos ("Brazil's King Of Bossa Nova And Guitar", "Braziliana" e "La Guitare D'Or Du Brésil", que incluem faixas gravadas no ano seguinte, mas não presentes na edição original), o álbum é aclamado como um dos melhores da carreira de Bonfá e indispensável em qualquer coleção de bossa nova no mundo.

Luiz Bonfá morreu, aos 78 anos, no dia 12 de janeiro de 2001, vítima de um câncer na próstata. Mas a grande homenagem que teve foi ainda vida, em 1960, quando João Gilberto compôs para ele a música instrumental chamada "Um Abraço no Bonfá". Um reconhecimento para um dos maiores artistas brasileiros não reconhecido pelo público.



Resenha de "Le Roi de La Bossa Nova"

A suavidade de Luiz Bonfá com o violão é atestada na abertura, quando ele mostra todo seu talento na faixa de abertura, a tal mistura de bossa nova com a harmonia única do violoncelista. A seguinte, "Cantiga da Vida", é um retrato de como era a vida dos anos 1960 em uma letra bem simples e também muito harmônica.

"Amor Por Amor" é outra faixa instrumental das mais caprichadas. Dançante, deve ter animado muitos bailes nos clubes em São Paulo e no Rio de Janeiro naquela época, já "Dor Que Faz Doer" é bem melancólica e casa bem com a bossa nova, que usou muito de um sentimento mais triste em muitas de suas principais canções. Depois de mais uma instrumental ("Samba De Duas Notas"), "Teu Olhar Triste" surge para contar uma história muito triste. De novo, é impossível não fica impressionado com os arranjos.



Parte do grupo das instrumentais, "Lila" abre caminho para "Você Chegou", letra que celebra a chegada de um novo amor -- o vocal suave e muito claro é o grande destaque. As canções com letra na parte final são "Balaio" e "Sorrindo". A primeira tem uma levada muito suave e dançante, enquanto a outra tem poucas palavras e uma longa parte instrumental. "Santeleco" e "Bossa Em Ré" são instrumentais, sendo a segunda a última faixa do trabalho.

"Le Roi de La Bossa Nova" não tenha sido gravado no Brasil, porque é uma pérola que precisa ser redescoberta por essa nova geração de jornalistas e pesquisadores musicais. E Luiz Bonfá, um dos mais talentosos músicos brasileiros, merece ser mais ouvido.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Bonfá Nova" (2:07)
2 - "Cantiga da Vida" (1:59)
3 - "Amor Por Amor" (Luiz Bonfá e Maria Toledo) (2:22)
4 - "Dor Que Faz Doer" (Luiz Bonfá e Maria Toledo) (2:01)
5 - "Samba De Duas Notas" (3:13)
6 - "Teu Olhar Triste" (2:25)
7 - "Lila" (2:29)
8 - "Você Chegou" (2:25)
9 - "Santeleco" (Luiz Bonfá e Maria Toledo) (2:21)
10 - "Balaio" (Luiz Bonfá e Maria Toledo) (2:36)
11 - "Sorrindo" (Luiz Bonfá e Maria Toledo) (2:08)
12 - "Bossa Em Ré" (1:31)

Todas as faixas foram compostas por Luiz Bonfá, exceto as marcadas

Gravadora: Fontana
Produção: -
Duração: 27 minutos

Luiz Bonfá: violão e voz

Não foi possível creditar quem participou do disco. Assim que confirmar a informação, o post será atualizado.



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