Discos para história: Bayou Country, do Credence Clearwater Revival (1969)


História do disco

Existe um movimento muito grande para celebrar o passado nos dias de hoje. Na cabeça de muita gente, antigamente que era bom. Isso também acontece na música e de tempos em tempos surge o mais do que conhecido "retorno à raízes". O rock também passou por isso. Depois dos clássicos, como Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holly, Fats Domino e outros, o gênero passou por diversas transformações ao longo dos anos até chegar em Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple e Pink Floyd, e isso apenas para citar os muito famosos.

No fim dos anos 1960, houve um surgimento considerável de bandas e artistas dispostos a simplificar um pouco mais as coisas ao buscar inspiração nas canções clássicas da música de raiz. O Credence Clearwater Revival bebeu muito nessa fonte antes -- John e Tom Forgety, Stu Cook e Doug Clifford foram integrantes de outras bandas -- e durante a formação original se consolidar ao conseguir mostrar todo seu talento em composições relativamente simples, mas incrivelmente fortes. Mas, como toda banda novata daquela época, eles tiveram muita influência da chamada invasão britânica -- momento em que bandas inglesas dominavam as paradas nos Estados Unidos.

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Isso não gerou o quarteto como o mundo conheceu, mas uma fusão entre R&B e rock da época. O Credence Clearwater Revival tinha tudo para ser apenas mais uma. Porém eles tinham alguém ali disposto a transformá-los em algo a mais. Eles tinham John Fogerty. Centralizador e praticamente dono do grupo, ele compôs todas as músicas e liderava com mãos de ferro. Relatos dão conta de que ele fazia tantos ensaios, que eles chegavam ao estúdio para gravar e davam conta do material em duas tomadas no máximo. Algo impensável para artistas era ótimo para gravadoras -- menos tempo em estúdio, menos dinheiro gasto.

Mas antes dessa tomada de rédea por parte de Forgety, a banda estreou com o disco que levou o nome deles e conseguiu entrar no top 40 de singles com "Susie Q". Foi a primeira e única vez que uma música do Credence Clearwater Revival entrou nas paradas e não foi composta por Forgety. Enquanto isso acontecia, o guitarrista ia tomando espaço, decisões criando sua própria voz musical e desagradando outros membros da banda.

Forgety descobriu referências fora da sua amada Califórnia. Basicamente, ele foi buscar referências no Sul dos Estados Unidos. "Todos os discos realmente grandes ou pessoas que os fizeram, de alguma forma, vieram de Memphis, Louisiana ou de algum lugar ao longo do rio Mississípi", contou Fogerty no livro "Bad Moon Rising: The Unauthorized History of Creedence Clearwater Revival".


"Tive um sonho que queria viver lá. Nunca pensei nas pressões sociais. Para mim, representava algo antes, antes que computadores e máquinas complicassem tudo, quando as coisas estavam calmas e relaxadas. E cantores como Howlin' Wolf e Muddy Waters me davam a sensação de que estavam bem ali, parados perto do rio. O Sul parece ser onde toda a música começou", completou.

Essa seria a inspiração de "Bayou Country", futuro LP. John Forgety tinha intenções ao tomar para si a liderança. Não era apenas questão de querer mandar, mas de ter um plano: não querer mais a vida "normal". Ele queria viver de música e sabia que um material semelhante a "Susie Q" não seria suficiente para isso.

"Eu determinei: estamos na menor gravadora do mundo, não há dinheiro para nós, não temos um empresário, não há publicitário. Basicamente não tivemos nenhuma ajuda de um inventor de celebridades, então disse para mim mesmo que teria que fazer isso com boa música... Basicamente queria fazer o que os Beatles tinham feito. Senti que tinha que fazer isso sozinho", explicou ele à revista 'Pitchfork'.

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Seis meses após o primeiro disco, o Creedence Clearwater Revival -- leia-se John Forgety -- soava uma máquina de fazer músicas. Uma atrás da outra, eles começaram a ter material de sobre para álbuns vindouros -- em 1969, o grupo lançou três LPs. E isso até gerou brigas internas para saber qual seria o single principal de trabalho de "Bayou Country". "Born on the Bayou" deixou de ser escolhida no último minuto. Acabou sendo "Proud Mary", o primeiro grande sucesso deles nos Estados Unidos.

"Bayou Country" não é o melhor disco do Creedence Clearwater Revival, mas foi fundamental para os Estados Unidos conhecer o potencial deles. Lançado em 5 de janeiro de 1969, chegou ao sétimo lugar da parada e iniciou a trilogia de trabalhos daquele ano. Em janeiro, eles estavam indo para os shows de van. Em dezembro, já tinham um jatinho disponível. Mas, claro, isso veio com um custo. Afinal, nem todos gostavam disso. Nem do poder de John Forgety dentro do grupo.


Resenha de "Bayou Country"

O ar de Sul dos Estados Unidos aparece logo de cara em "Born on the Bayou", em que é quase possível sentir o cheiro do Rio Mississípi e fazer uma amizade com um crocodilo chamado Arnaldo. O riff de guitarra nessa música é dessas coisas sensacionais que hipnotiza qualquer um que gosta do instrumento. "Bootleg" é a seguinte e apresenta um clima mais agitado, além de apresentar o lado da vida de um cidadão do Sul.

O petardo "Graveyard Train" com seus mais de oito minutos traz o lado mais blues do Sul dos Estados Unidos ao mostrar essa parte mais dolorida da vida de quem mora nessa região do país, algo que B.B. King, Howlin' Wolf e Muddy Waters fizeram por muitos anos ao longo de suas respectivas carreiras. É dessas faixas feitas para pensar.


O lado B abre com a animada "Good Golly, Miss Molly", um rockabilly como nos primórdios do rock -- letra simples, ritmo fácil para dançar e curta duração são as principais características do gênero. "Penthouse Pauper" surge mostrando um counrty blues típico do fim dos anos 1960 que conta uma história bem típica das raízes de ambos os gêneros.

A grande canção desse álbum é "Proud Mary". Mais mainstream do que todo o resto do trabalho, a terceira faixa do lado B levou o Credence Clearwater Revival ao estrelado. Cheia de qualidades ao contar a história de um homem que abandona tudo para pegar carona em um barco e viver indo de um lugar para o outro, a canção é dessas que ganha o selo de "sucesso eterno". Difícil alguém não gostar dela logo de cara. Grudenta e com duração ideal, é o tipo de música que muda mesmo patamar de banda. E o disco encerra com "Keep on Chooglin'" e sua longa e boa parte instrumental.

Banda importante do fim dos anos 1960 e início da década seguinte, o Credence Clearwater Revival durou pouco. Mas suficiente para fazer história com uma sequência incrível de álbuns. E como tudo tem um começo, "Bayou Country" moldou o som do grupo, possibilitou a união matadora de Stu Cook no baixo e Doug Clifford na bateria e mostrou ao mundo quem era John Forgety.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Born on the Bayou" (5:16)
2 - "Bootleg" (3:03)
3 - "Graveyard Train" (8:37)

Lado B

1 - "Good Golly, Miss Molly" (Robert Blackwell, John Marascalco) (2:44)
2 - "Penthouse Pauper" (3:39)
3 - "Proud Mary" (3:09)
4 - "Keep on Chooglin'" (7:43)

Todas as músicas foram escritas por John Forgety, exceto a marcada

Gravadora: Fantasy
Produção: John Forgety
Duração: 33min48s

John Fogerty: guitarra, vocal, vocal de apoio, gaita, teclado e percussão
Tom Fogerty: vocal de apoio e guitarra
Stu Cook: baixo
Doug Clifford: bateria



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