Discos para história: Charlie Parker with Strings, de Charlie Parker (1950)


História do disco

Não tem como não definir Charlie "Bird" Parker como um dos maiores saxofonistas de todos os tempos da história da música. Junto com seus contemporâneos Dizzy Gillespie e Bud Powell, é considerado um dos fundadores do bebop, subgênero do jazz que nada mais é do que "uma ênfase muito maior à técnica e a harmonias mais complexas, por oposição a melodias cantáveis", segundo site Jazzbossa.

Nascido no Kansas, em 1920, o saxofonista começou a tocar o instrumento barítono antes de mudar para o alto. Agitado, muitas vezes não conseguia tocar o instrumento com a velocidade necessária e demorou para se acostumar. Por conta disso, quando abandonou a escola aos 14 anos para viver de música, muitos não o viam com o talento necessário para tal. Isso gerava humilhações constantes nos grupos em que tentou fazer parte, então ele tomou a decisão de praticar muito. E praticar, praticar e praticar. E praticar mais um pouco. Quando entrou na Jay McShann's Orchestra, aos 17 anos, já não era mais atrapalhado como antes. Era um talento pronto para desabrochar.

Mais discos dos anos 1950:
Discos para história: Carinhoso, de Orlando Silva (1959)
Discos para história: Moanin' in the Moonlight, de Howlin' Wolf (1959)
Discos para história: Aracy de Almeida Apresenta Sambas de Noel Rosa, de Aracy de Almeida (1954)
Discos para história: The Genius of Ray Charles, de Ray Charles (1959)
Discos para história: Amor de Gente Moça, de Sylvia Telles (1959)
Discos para história: The Atomic Mr. Basie, de Count Basie (1958)


Foi no final dos anos 1930 e início dos anos 1940 que ele criou os primeiros solos notáveis em "Oh, Lady Be Good" e "Honeysuckle Rose". O encontro que mudaria sua vida para sempre foi quando conheceu Dizzy Gillespie. Em poucos anos, a dupla lançaria gravações históricas no jazz, como os "duelos" históricos em faixas como "Groovin 'High", "Dizzy Atmosphere", "Shaw' Nuff", "Salt Peanuts" e "Hot House".

O bebop não era uma revolução musical como foi o rock uma década depois ou como o punk 20 anos depois do lançamento do primeiro álbum de estúdio de Elvis Presley. Esse subgênero do jazz abalou as estruturas da música como um todo em um período perfeito para isso acontecer e o gênero não foi mais o mesmo ao entrar em uma segunda era de ouro.

No final de 1948, Parker começaria o histórico período na gravadora Mercury através da parceria com Norman Granz, fundador do selo Clef. O produtor havia acabado de colocar o projeto do selo na praça quando conseguiu o saxofonista em seu elenco inicial. Enquanto lutava para ter mais artistas, contar com Parker foi uma benção, pois o saxofonista queria fazer coisas diferentes e nem sempre optava por gravar com sua banda principal.

Foi disso que surgiu a ideia de gravar clássicos dos jazz acompanhado por um conjunto de cordas com um grupo muito diferente de qualquer coisa que ele já havia feito em toda carreira. Muitos críticos da época alegaram que era um álbum "comercial demais". E era mesmo. Mas, mesmo nascido para dar dinheiro a todos, fez bastante sucesso com a ousada mistura em apresentar o bebop com sopros, harpa, coro e uma banda.

Veja também:
Discos para história: All That You Can't Leave Behind, do U2 (2000)
Discos para história: Fresh Fruit for Rotting Vegetables, do Dead Kennedys (1980)
Discos para história: Joan Baez, de Joan Baez (1960)
Discos para história: Heaven or Las Vegas, do Cocteau Twins (1990)
Discos para história: Déjà Vu, de Crosby, Stills, Nash & Young (1970)
Discos para história: In Through the Out Door, do Led Zeppelin (1979)


Parker poderia ter sido o que Miles Davis foi: o grande responsável pela popularização do jazz no mundo. Mas ele era viciado em heroína desde a adolescência e, com abstinência da droga, chegou a ficar seis meses internado em um hospital por vício em álcool -- o substituto da droga. No início dos anos 1950, foi ficando cada vez menos confiável no trabalho e acabou perdendo a licença obrigatória para músicos. Em 1954 ele tentou o suicídio duas vezes após a morte da filha e 3 anos e foi internado em um hospital psiquiátrico.

Ele morreu em 12 de março de 1955 e as causas oficiais de morte foram pneumonia e úlcera hemorrágica, mas Parker também teve um caso avançado de cirrose e sofreu um ataque cardíaco. O laudo saiu com a idade errada -- o médico achava que ele tinha mais de 60 anos, mas ele tinha apenas 34 anos. Viveu pouco, é verdade, mas mudou para sempre a história do jazz.


Resenha de "Charlie Parker with Strings"

Já muito debilitado por conta dos problemas de saúde, Charlie Parker gravou "Just Friends" e a considerou até o fim da vida como um de seus melhores momentos de improviso de toda carreira. Uma pena que, depois disso, apenas "Everything Happens to Me", "April in Paris" e "Summertime" tenham tido caminho musical semelhante. As outras faixas são apenas Parker tocando as melodias das músicas.

Mas isso é ruim?



Claro que não. Uma coisa é alguém simplesmente começar a tocar uma melodia e acompanhar o arranjo dos outros instrumentos, outra coisa é Charlie Parker fazer isso. Até o mais simples movimento dele continha uma beleza mágica. Se quem ouvir esse disco e fechar o olho, é capaz de levitar. É um trabalho com momentos sublimes de puro talento. É como ver o Messi jogar: até mesmo suas jogadas mais simples tem um ar e beleza que não se vê nos outros.

Mesmo não conseguindo o mesmo sucesso de Miles Davis, as gravações de Parker com cordas foram um primeiro passo necessário para fundir o jazz com outros estilos musicais e, em seus melhores momentos, mostram que o clássico e jazz encontraram um terreno comum entre o meio dos anos 1940 e o início dos anos 1950.

A mistura abriu caminho para coisas incríveis que aconteceriam no jazz ao longo de duas décadas, com o surgimento de novos músicos incríveis e sem os vícios da geração anterior. Toda mudança sempre começa com alguém. Aqui, Parker começou sem nem saber que tinha feito algo incrível no gênero que aprendeu a amar ainda criança. "Charlie Parker with Strings" é, sem dúvida, um álbum histórico.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A


1 - "Just Friends" (John Klenner, Sam M. Lewis) (3:30)
2 - "Everything Happens to Me" (Tom Adair, Matt Dennis) (3:15)
3 - "April in Paris" (Vernon Duke, E.Y. Harburg) (3:12)
4 - "Summertime" (George Gershwin, Ira Gershwin, DuBose Heyward) (2:46)
5 - "I Didn't Know What Time It Was" (Richard Rodgers, Lorenz Hart) (3:12)
6 - "If I Should Lose You" (Ralph Rainger, Leo Robin) (2:46)

Lado B

1 - "Dancing in the Dark" (Arthur Schwartz, Howard Dietz) (3:10)
2 - "Out of Nowhere" (Johnny Green, Edward Heyman) (3:06)
3 - "Laura" (David Raksin, Mercer) (2:57)
4 - "East of the Sun (and West of the Moon)" (Brooks Bowman) (3:37)
5 - "They Can't Take That Away from Me" (G. Gershwin, I. Gershwin) (3:17)
6 - "Easy to Love" (Cole Porter) (3:29)
7 - "I'm in the Mood for Love" (Jimmy McHugh, Dorothy Fields) (3:33)
8 - "I'll Remember April" (Gene de Paul, Pat Johnston, Don Raye) (3:02)

Gravadora: Clef/Mercury
Produção: Norman Granz
Duração: 44 minutos

Lado A

Charlie Parker: saxofone alto
Mitch Miller: oboé
Bronislaw Gimpel, Max Hollander e Milton Lomask: violino
Frank Brieff: viola
Frank Miller: violoncelo
Myor Rosen: harpa
Stan Freeman: piano
Ray Brown: baixo
Buddy Rich: bateria
Jimmy Carroll: arranjador e maestro

Lado B

Charlie Parker: saxofone alto
Joseph Singer: trompa
Eddie Brown:oboé
Sam Caplan, Howard Kay, Harry Melnikoff, Sam Rand e Zelly Smirnoff: violino
Isadore Zir:
Maurice Brown: violoncelo
Verley Mills: harpa
Bernie Leighton: piano
Ray Brown: baixo duplo
Buddy Rich: bateria
Joe Lipman: arranjador e maestro



Continue no blog:


Siga o blog no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!