Discos para história: Dear Science, do TV on the Radio (2008)


Trabalho foi considerado um dos melhores daquele ano

História do disco

"Eu sabia que estava em apuros quando comecei a perceber exatamente por que Ozzy Osbourne se tornou Ozzy Osbourne. Quando a turnê prosseguiu, comecei a aceitar a loucura das pessoas como normal, e não tenho certeza se isso é inteiramente saudável", disse o vocalista Tunde Adebimpe, ao jornal britânico 'The Guardian', em 2011.

O TV on the Radio vinha de ótimos discos – "Desperate Youth, Blood Thirsty Babes" (2004) e "Return to Cookie Mountain" (2006) –, mas foi em “Dear Science” que a banda conseguiu chegar ao auge da popularidade e do sucesso. E o que gerou a fala do vocalista da banda sobre a loucura das turnês.

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O ano de 2008 foi o decreto de muitas coisas, entre elas que as bandas com guitarras estavam chegando ao fim. Pois, como sabemos, não foi bem isso que aconteceu. Acabou que o futuro mostrou que a guitarra não acabou como instrumento, mas foi inserida em outras misturas de gêneros em que bandas, cantores e cantoras cada vez mais se influenciam dessa salada musical mais do que apenas uma ou duas referências.

Foi nesse ano que o TV on the Radio lançou o considerado por muitos o melhor disco de sua carreira. “Dear Science” apareceu para o mundo no meio de uma mudança geracional importante em que quem acompanhou o surgimento dos Strokes e outras bandas estava perto ou passava dos 20 anos, enquanto a geração que era criança no 11 de setembro estava chegando à adolescência e descobrindo seus gostos musicais. Provavelmente, esse o terceiro disco de estúdio da banda foi um dos poucos momentos de acordo entre esses dois grupos tão distintos entre si.

Veja também:
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É curioso acompanhar o desenvolvimento de certas bandas, principalmente as que foi possível ver o crescimento do “hype” até chegar ao auge. Foi o caso do TV on the Radio com “Dear Science”. Lançado em 22 de setembro de 2008, o disco chegou ao top 20 da parada americana, mas nem de perto chegou na mesma posição no Reino Unido. Acabou sendo o tipo de álbum que dialogou apenas com seu próprio nicho e uma parte considerável da imprensa, já que foi eleito o melhor daquele ano por ‘Rolling Stone USA’, ‘The Guardian’, ‘Spin’, ‘MTV’, ‘Entertainment Weekly’ e ‘Village Voice’.

Ao olhar para o futuro, o TV on the Radio conseguiu lançar seu melhor disco até hoje. Mais de uma década depois, a banda não conseguiu repetir o feito. Ao ouvi-lo, dá para entender o motivo. Foi mesmo algo único.


Resenha de “Dear Science”

O disco abre com a animada e seus efeitos "Halfway Home" em que a história de um romance é contada com ajuda de um arranjo de cheio de efeitos, dobra de instrumentos e vozes, além de muita força na percussão. Só nela temos a mistura de vários gêneros musicais em uma fusão das mais interessantes. E a seguinte, "Crying", mantém a linha dançante, mas um pouco mais suave – até melancólico – com certo toque latino.

Mais curta do disco, com pouco menos de três minutos, "Dancing Choose" é veloz e brutal para criticar o “homem do jornal” que acha estar em uma boa posição para fazer o que quiser, já "Stork & Owl" é uma balada bem melancólica que mistura amor e desespero em um arranjo que convém prestar atenção em cada detalhe para entender o uso de cada instrumento e som utilizado.

Sem querer, o TV on the Radio acertou sobre estar por vir uma era de ouro em "Golden Age", mas, mal sabia a banda, que seria no hip-hop e que nunca tivemos tantos bons artistas no gênero como temos neste fim de segunda década do século 21. E a faixa tem muito do estilo com um toque de eletrônica, que a transforma em ideal para sair dançando por aí. Em "Family Tree", a banda aborda de forma agridoce a história o preconceito que um casal enfrenta de uma das famílias que não deseja o relacionamento. É uma das faixas mais bonitas que eles já lançaram.



"Red Dress" traz muito da percussão para falar sobre a comunidade negra, e isso inclui o racismo. É uma canção muito poderosa e ainda extremamente atual para o tempo em que estamos vivendo, enquanto "Love Dog" é mais melancólica para falar sobre rejeição – o arranjo é o destaque mais uma vez. Outra da lista que merece atenção é "Shout Me Out", essa de bom ritmo e que usa de metáforas para falar sobre os problemas da vida, sentimentos e outras coisas. É uma das grandes músicas do disco e da carreira do grupo.

Por ter aparecido na série “Breaking Bad”, "DLZ" acabou ganhando uma imensa popularidade. E com razão, já que um pedaço da letra casa muito bem com o nascimento de Walter White como traficante de metanfetamina (You force your fire and then you falsify your deeds/ Your methods dot the disconnect from all your creeds/ And fortune strives to fill the vacuum that it feeds/ But this is beginning to feel like the dog's lost her lead, say). Apesar da melancolia ser presente em boa parte do disco, a mensagem final apresentada em "Lover's Day"é otimista.

“Dear Science” é o tipo de trabalho que pode até ter a qualidade repetida pela banda no futuro, mas dificilmente terá sua ideia repetida. Único, o álbum é cara de uma banda relativamente jovem e com muito a dizer. E disse.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Halfway Home" (Adebimpe) (5:31)
2 - "Crying" (Malone, Bunton) (4:10)
3 - "Dancing Choose" (Adebimpe, Sitek) (2:56)
4 - "Stork & Owl" (Malone) (4:01)
5 - "Golden Age" (Malone, Sitek) (4:11)
6 - "Family Tree" (Adebimpe) (5:33)
7 - "Red Dress" (Malone, Sitek) (4:25)
8 - "Love Dog" (Adebimpe) (5:36)
9 - "Shout Me Out" (Adebimpe) (4:15)
10 - "DLZ" (Adebimpe) (3:48)
11 - "Lover's Day" (Malone) (5:54)

Gravadora: Interscope (EUA e Canadá)/ Touch and Go (digital)/ 4AD (resto do mundo)
Produção: David Andrew Sitek
Duração: 50min21s

Tunde Adebimpe: vocal
Kyp Malone: vocal, guitarra, baixo, sintetizador e arranjo de cordas
David Andrew Sitek: efeitos, guitarra, baixo, sintetizador e arranjo de sopro
Gerard A Smith: baixo, órgão, sintetizador, efeitos e teclado
Jaleel Bunton: bateria, guitarra, teclado, órgão, sintetizador, baixo, efeitos e arranjo de cordas

Convidados:

Katrina Ford: vocal e vocal de apoio
Eleanore Everdell: vocal
David Bergander: bateria
Yoshi Takamasa: chocalho, claves, congas, sinos e percussão
Stuart D. Bogie: saxofone, arranjo de sopro e saxofone tenor
Colin Stetson: saxofone e saxofone barítono
Matana Roberts: saxofone alto e clarinete
Leah Paul: instrumentos de sopro diversos
Eric Biondo: trompete
Aaron Johnson: trombone
Martin Perna: saxofone e flautas
Claudia Chopek: violino e arranjo de cordas
Janis Shen: violino e arranjo de cordas
Perry Serpa: arranjo de cordas
Lara Hicks: viola
Eleanor Norton: violoncelo



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