Discos para história: Hot Fuss, do Killers (2004)


Estreia da banda é um dos melhores discos da primeira década dos anos 2000

História do disco

Houve um revival do pós-punk e da new wave no início dos anos 2000, período em que as crianças e adolescentes dos anos 1980 resolveram montar bandas inspiradas nos ídolos. Uma dessas bandas foi o Killers, que encantou muita gente com seu synth-pop brilhante e cheio de potência no refrão, fundado pelo vocalista Brandon Flowers, o guitarrista David Keuning, o baixista Mark Stoermer e o baterista Ronnie Vannucci.

Existe uma curiosidade das melhores na história da formação do grupo. Eles não são uma típica banda de colégio ou faculdade que passaram pelos mais diversos perrengues até chegar ao sucesso glorioso e, como diria o personagem do Pica-Pau, para chegar ao dinheiro e iates. Flowers foi sumariamente demitido de sua antiga banda, a Blush Response. O motivo? Ele se recusou a viver em Los Angeles e deixar Las Vegas, a amada terra natal.

Mais discos dos anos 2000:
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Na cidade, ele acabou conhecendo Keuning, um fã declarado de Oasis, ao ler um anúncio de um jornal. Os dois começaram timidamente um trabalho, que acabou funcionando muito bem. Poucas semanas depois, eles compuseram um dos grandes sucessos da história da banda: "Mr. Brightside". Eles começaram a fazer shows pela cidade, acompanhados pelo baterista Matt Norcross e o baixista Dell Neal, e foram elogiados por fugirem das características da música local -- basicamente, é formada por rappers e bandas de nu metal e punk.

Mas a parceria do quarteto durou pouco tempo e Norcross e Neal acabaram deixando o grupo -- o primeiro foi demitido; o segundo saiu por motivos pessoais. Da formação de sucesso, o primeiro a entrar foi o Vannucci. Famoso percussionista da Universidade de Nevada, ele tinha dois empregos em outras bandas até entrar no The Killers em 2002. E Stoermer já estava tocando baixo com eles, mas não era um membro fixo e estava bem relutante em deixar o grupo de rock progressivo da qual fazia parte e tocava guitarra. Foi quando perguntaram a ele se toparia ser o segundo guitarrista, o responsável pelos solos, quando eles encontrassem alguém para ser o quinto integrante e fazer a guitarra-base. Em novembro daquele ano, ao saber que os testes com outros baixistas não foram satisfatórios, o músico surpreendeu os outros três quando recebeu um novo convite e afirmou: "posso ser baixista permanente". O Killers, enfim, tinha sua formação original.


Foi na garagem da casa de Vanucci que 90% do que viraria o "Hot Fuss" foi ensaiado e gravado. Aproveitando a festiva cena de Las Vegas, cheia de bares, a banda rodou o estado tocando em qualquer espelunca que os aceitasse. Acabaram sendo descobertos em um bar local por Braden Merrick, um representante da gravadora Warner, conhecido descobridor de talentos que havia ouvido a demo deles em um site independente da cena local. Disso para um convite para virar empresário deles foi um pulo.

Eles foram até San Francisco, na Califórnia, para encontrar Jeff Saltzman, ex-empresário do Green Day, para gravar demos e enviar às principais gravadoras do país. Ninguém respondeu. Quem gostou do que ouviu foi Alex Gilbert, um conhecido representante de músicos e caça-talentos no Reino Unido. Isso mesmo, quem gostou deles foi um empresário do outro lado do Atlântico. Gilbert levou à fita ao amigo Ben Durling, que trabalhava na recém-criada gravadora independente Lizard King. A empresa ofereceu um acordo para gravação de uma fita demo com cinco músicas, prontamente aceito e assinado em julho de 2003.

Em agosto de 2003, "Mr. Brightside" estreou no programa "BBC Radio 1", então apresentado pelo influente Zane Lowe. Foi um estouro tão grande, que logo surgiram convites para apresentações no Reino Unido. E isso chamou a atenção de diversas gravadoras nos Estados Unidos, prontas para dar um contrato ao Killers. A Island venceu a disputa. E logo o quarteto entrou em estúdio para gravar o primeiro disco de estúdio.

Veja também:
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O trabalhou foi finalizado em novembro de 2003, com banda e produtor entrando em acordo para deixar muito do trabalho das demos nesse álbum. A intenção era manter a naturalidade da execução, coisa difícil de fazer uma segunda vez. Mas, antes do lançamento, eles rodaram os Estados Unidos e o Reino Unido em shows menores em locais fechados ou festivais e/ou banda de abertura de outros grupos.

"Hot Fuss" foi lançado em 7 de junho de 2004, no Reino Unido e em 15 de junho de 2004, nos Estados Unidos, sendo bem elogiado por público e crítica. O último levantamento aponta mais de 7 milhões de discos vendidos, um feito e tanto para uma estreia. O álbum também detém 252 semanas na parada britânica, o 34º posto na lista de discos com mais tempo no chamado "Hot 100" -- com 933, o recorde absoluto é de "Greatest Hits", do Queen.



Resenha de "Hot Fuss"

"Jenny Was a Friend of Mine" foi escolhida para ser o primeiro single da história da banda e também para abrir o disco. A faixa aposta nos efeitos e na força de percussão para retratar um interrogatório do narrador sobre a morte da ex-amante. Aqui, é como se Peter Hook, do New Order, fizesse parte do Duran Duran. Uma abertura muito boa para uma primeira metade de disco ótima.

Escrita por Flowers quando soube da traição sofrida por uma ex-namorada, "Mr. Brightside" é uma das melhores canções desse início de século 21. O arranjo pode até trazer uma ponta de otimismo, mas a letra é sobre paranoia, ciúme e infidelidade. A temática não é nova, mas impressiona muito a maneira como a banda uniu esses elementos para criar uma faixa muito fácil de decorar e de refrão épico. É dessas que o público canta junto a plenos pulmões.



Há uma lenda nunca confirmada pela banda de que a letra de "Smile Like You Mean It" foi escrita em apenas oito minutos. Algo divino ou não, é fato que a música entra no grupo de ótimas gravações da banda. O arranjo feito com sintetizadores consegue dar o tom melódico ideal, enquanto o resto vai se encaixando sem deixar pontas soltas para falar sobre como lidar com envelhecimento e crescimento de forma otimista. E o disco ainda apresenta a grudenta e absurdamente boa "Somebody Told Me", outro clássico desse início de século 21. O refrão grudento consegue explorar a qualidade do Killers enquanto conjunto que compôs uma faixa junto pela primeira vez -- o resultado é simplesmente ótimo, principalmente pelo fato de ainda ser um sucesso quase 15 anos após o lançamento.

A letra e melodia de "All These Things That I've Done" têm duas inspirações: U2 e David Bowie. Flowers contou que tentou pegar o espírito dos irlandeses e, admitiu em entrevista à 'NME' em 2013, que roubou a linha de baixo de "Slow Burn", do cantor britânico. Com ajuda do grupo vocal Sweet Inspirations, eles fizeram uma das canções mais bonitas e profundas do álbum. A seguinte, "Andy, You're a Star", também conta com apoio do coro e apresenta um lado mais experimental para falar sobre um garoto que provocava Flowers na adolescência.



Se "On Top" soa animada e apresenta um clima retrô graças ao sintetizador, "Change Your Mind" apresenta uma banda mais solar mesmo em uma letra sonhadora. E ela tem continuação com "Believe Me Natalie", essa um ultimato. As duas faixas do álbum trazem a animação roqueira de "Midnight Show" e "Everything Will Be Alright", canção com um forte apelo emocional e que a banda não tocou muitas vezes ao vivo.

"Hot Fuss" colocou o Killers em uma posição ótima logo na estreia. Com ótimas músicas na primeira metade, o disco é desses que dá para ouvir várias e várias vezes ao longo do dia. Para uma banda iniciante, começar tão bem deve ter sido algo inesquecível.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Jenny Was a Friend of Mine" (Brandon Flowers, Mark Stoermer) (4:04)
2 - "Mr. Brightside" (Flowers, Dave Keuning) (3:43)
3 - "Smile Like You Mean It" (Flowers, Stoermer) (3:54)
4 - "Somebody Told Me" (Flowers, Keuning, Stoermer, Ronnie Vannucci Jr.) (3:17)
5 - "All These Things That I've Done" (Flowers) (5:01)
6 - "Andy, You're a Star" (Flowers) (3:14)
7 - "On Top" (Flowers, Keuning, Stoermer, Vannucci) (4:18)
8 - "Change Your Mind" (Flowers, Keuning) (3:11)
9 - "Believe Me Natalie" (Flowers, Vannucci) (5:05)
10 - "Midnight Show" (Flowers, Stoermer) (4:02)
11 - "Everything Will Be Alright" (Flowers) (5:45)

Gravadora: Island
Produção: The Killers e Jeff Saltzman
Duração: 45min39s

Brandon Flowers: vocal e sintetizador
Dave Keuning: guitarra
Mark Stoermer: baixo
Ronnie Vannucci Jr.: bateria

Convidado:
Sweet Inspirations: coro gospel em "All These Things That I've Done" e "Andy, You're a Star"



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