Discos para história: Technique, do New Order (1989)


História do disco

O fim do Joy Division aconteceu no dia em que Ian Curtis se matou. Os membros restantes resolveram continuar e, embalados pelos sintetizadores que dominaram os anos 1980, fundaram o New Order e foram fundamentais nesse novo som que saiu de Manchester para o mundo. "Movement" (1981), "Power, Corruption & Lies" (1983), "Low-Life" (1985) e "Brotherhood" (1986) foram quatro discos fundamentais no período para um grupo que chegou a ser rejeitado pelos fãs e pelos críticos, mas que soube dar a volta por cima ao criar uma identidade própria.

Mas o que resta a esse grupo de pessoas que estava na história por duas bandas diferentes e motivos distintos? O fim dos anos 1980 foram malucos, com acontecimentos que levariam o mundo a uma transformação só vista após o final da Segunda Guerra Mundial. Como o New Order poderia sobreviver a tais mudanças mais uma vez? Se um dia eles foram influenciados por Kraftwerk, Can, Neu! e outras bandas, chegava a hora de ser influenciados pela nova geração da música britânica, fundamental para os acontecimentos musicais na década seguinte.

Mais discos dos anos 1980:
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Para começar, Manchester foi invadida por uma nova onda musical chamada acid house. Sub gênero do house, uma mistura de dance e eletrônico, o acid house ganhou esse nome por conta do uso dos sintetizadores também no baixo, criando um som quase lisérgico para quem estava ouvindo -- embalados pelo uso de ecstasy, as raves começaram nesse mesmo período. Depois vieram novas bandas, como Happy Mondays e Stone Roses, fundamentais para abrir as portas para os sucessos estrondosos de Oasis e Blur nos anos 1990.

Mas o fundamental para o New Order buscar mudança era olhar dentro de casa. Os Smiths se separaram em 1987, Echo & the Bunnymen havia perdido o vocalista Ian McCulloch e o Depeche Mode mudou de estilo e caminharia para o estrelato na década seguinte. E ainda havia o sucesso da boate The Haçienda que, depois de muito prejuízo, viu na acensão do acid house como uma forma de ganhar dinheiro pela primeira vez. Os ventos pediam uma mudança de rumo, e o New Order atendeu.

Veja também:
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Peter Hook prestou atenção nisso e teve a ideia de levar toda a banda para o lugar em que o acid house também fazia bastante sucesso e, até hoje, segue recebendo grandes raves. É Ibiza, na Espanha. Foram quatro meses para fazer "uns 20% do disco", diria Bernard Sumner anos depois. Mas lá foram influenciados pela música local e pelo contato com a agitada vida noturna. O disco foi completado no Real World Studios, de Peter Gabriel, em Londres, em uma atmosfera descrita como "muito mais sóbria" por parte dos integrantes.

Lançado em 30 de janeiro de 1989, "Technique" chegou ao primeiro lugar da parada do Reino Unido, foi elogiado por público e crítica e é considerado não apenas um clássico do New Order, mas um dos trabalhos mais importantes dos anos 1980.


Resenha de "Technique"

O New Order coloca o pessoal para dançar logo de cara e também mostra o tom do disco pelos próximos 40 minutos em "Fine Time". As batidas e o vocal colocam o ouvinte dentro de um clima que é praticamente impossível não querer acompanhar de alguma forma. E os efeitos são um caso a parte, funcionando absurdamente bem. Logo depois vem "All the Way", com sua farta capacidade para impressionar, a canção tem nas linhas de baixo, no refrão e nos sintetizadores seus pontos mais altos.

No violão e um pouco menos dependente de outras coisas, "Love Less" é uma balada triste. Ao mostrar que pode se livrar da parafernália para entregar algo mais simples, o New Order mostrava que estava acima de muitas bandas no quesito composição. O segundo single do trabalho foi "Round & Round",a quarta faixa que tanto pode ser sobre o colapso da vida pessoal de Bernard Sumner como sobre a banda ver o dinheiro ganho para a gravadora Factory indo para o ralo em aventuras musicais fracassadas. De novo, é uma ótima canção em que o grupo conseguiu aliar tudo que havia de melhor de instrumentos e talento.



De todas as canções do álbum, "Guilty Partner" é que mais tem cara de Joy Division -- o início dá muito na cara. Ela te ganha logo e não te abandona ao longo de quase cinco minutos, enquanto o lado pop aparece em "Run", que deu uma briga com os donos do espólio de John Denver. O New Order foi processado e acabou fazendo um acordo fora do tribunal, acrescentando o nome do cantor entre os compositores.

"Mr. Disco" apresenta de novo o lado melancólico do fim de um relacionamento, em que a primeira pessoa procura a amada em todos os cantos mais não acha. É o tipo de música que coloca todo mundo para dançar, mas deveria deixar a pista triste, já "Vanishing Point" é mais cheia de efeitos para falar sobre a vida. E o trabalho encerra com a melhor faixa, porque "Dream Attack" consegue sintetizar toda fúria do New Order no momento em que atingiam o auge da carreira.

Se o New Order já estava com tudo nos anos anteriores, "Technique" tratou de sacramentar e selar o grupo como um dos maiores da sua geração. O quinto disco de estúdio é impecável do início ao fim, sem nada fora do lugar ou para ser corrigido. Um dos grandes álbuns dos anos 1980.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Fine Time" (Bernard Sumner, Gillian Gilbert, Peter Hook, Stephen Morris) (4:42)
2 - "All the Way" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (3:22)
3 - "Love Less" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (2:58)
4 - "Round & Round" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (4:29)
5 - "Guilty Partner" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (4:44)
6 - "Run" (John Denver, Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (4:29)
7 - "Mr. Disco" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (4:20)
8 - "Vanishing Point" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (5:15)
9 - "Dream Attack" (Sumner, Gilbert, Hook, Morris) (5:13)

Gravadora: Factory
Produção: New Order
Duração: 39min32s

Bernard Sumner: vocal, guitarra, gaita e sintetizadores
Peter Hook: baixo de quatro e seis cordas, percussão eletrônica e sintetizadores
Stephen Morris: bateria e sintetizadores
Gillian Gilbert: sintetizadores e guitarras



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