Discos para história: Yellow Submarine, dos Beatles (1969)


Parte do disco foi feito com sobras de estúdio de outros trabalhos

História do disco

Após decidir ficar sem fazer turnês pelo mundo, os Beatles dedicaram muito tempo ao trabalho em estúdio e em projetos que envolviam espalhar a música da banda para todo e qualquer público que desejasse ouvi-los. E fazer filmes era parte desse projeto, já que era uma boa possibilidade de ganhar dinheiro com outra mídia e vender a trilha, formada por canções compostas pela própria banda. Quando a possibilidade de um novo projeto foi levantada, o Fab Four a recebeu com pouco entusiasmo.

Trabalhando na divulgação do álbum "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967) e na concepção e finalização do filme para TV e da trilha sonora de "Magical Mystery Tour" (1968), não havia espaço para iniciar mais um trabalho -- a banda iniciar as tumultuadas gravações do "White Album" (1968) no meio disso tudo. O que pressionou o grupo a se mexer foi o contrato com o estúdio United Artists, que previa a realização de mais um longa-metragem. Então, acabou sendo decidida a realização de uma animação em que a banda apareceria no fim e também supervisionaria o trabalho de criação.

Mais Beatles:
Discos para história: Please Please Me, dos Beatles (1963)
Discos para história: With the Beatles, dos Beatles (1963)
Discos para história: A Hard Day’s Night, dos Beatles (1964)
Discos para história: Beatles For Sale, dos Beatles (1964)
Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)
Discos para história: Rubber Soul, dos Beatles (1965)
Discos para história: Revolver, dos Beatles (1966)
Discos para história: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles (1967)
Discos para história: Magical Mystery Tour, dos Beatles (1967)
Discos para história: The Beatles (White Album), dos Beatles (1968)


Mas o problema foi justamente esse "trabalho de criação". Com tantas coisas para administrar também fora da música -- a Apple e suas ramificações (entre elas a loja, um fracasso menos de um ano depois) e o fato de Yoko Ono começar a atrair mais a atenção de John Lennon nas gravações (o que ele chamou de "despertar" após três anos adormecido) --, o trabalho para "Yellow Submarine" foi feito de maneira relapsa e desinteressada. Ou seja, o tal "trabalho de criação" foi feito pela equipe e, só quando assistiram o primeiro corte e gostaram do que viram, só depois disso que o quarteto entrou na produção.

"Na verdade, não foi exatamente algo bom. Eram sobras [musicais]. Peças que, em qualquer caso, seriam descartadas: lixo, arquivos e peças esquecidas... Não acho que você usaria suas melhores músicas aqui (...), na melhor das hipóteses, [eram] apenas material de preenchimento [para história]", contou o produtor George Martin no livro "Up Periscope Yellow: The Making of the Beatles Yellow Submarine", lançado em 2004, ainda sem tradução no Brasil.

Mais discos dos anos 1960:
Discos para história: Avanço, do Tamba Trio (1963)
Discos para história: Night Life, de Ray Price (1963)
Discos para história: O Inimitável, de Roberto Carlos (1968)
Discos para história: A Girl Called Dusty, de Dusty Springfield (1964)
Discos para história: Mutantes, dos Mutantes (1969)
Discos para história: Mr. Tambourine Man, do Byrds (1965)
Discos para história: Os Afro-Sambas, de Baden Powell e Vinicius de Moraes (1966)

E, bom, foi bem isso mesmo. O disco seria formado por canções gravadas em algum momento até ali, mas não aprovadas para entrar em um LP ou em um compacto para ser lado B de algum single importante. "Yellow Submarine" já estava pronta, então havia um ponto de partida. A primeira das quatro inéditas trabalhadas em estúdio foi "Only A Northern Song", rejeitada em 1967, durante as gravações de "Sgt Pepper's..." e substituída por "Within You Without You" -- ambas são composições de George Harrison.

"Hey Bulldog" foi gravada em dez horas, no mesmo dia das filmagens do clipe de "Lady Madonna" e pouco antes da famosa viagem à Índia. Já "All Together Now" levou pouco mais de metade do tempo em 12 de maio de 1967, dia em que Paul McCartney assumiu as rédeas da gravação na ausência de George Martin, e "It's All Too Much" foi finalizada em algumas semanas entre essa data e o fim de junho. Assim o disco foi trabalhado, durante projetos mais importantes e maiores.

Veja também:
Discos para história: Presence, do Led Zeppelin (1976)
Discos para história: The Atomic Mr. Basie, de Count Basie (1958)
Discos para história: I’m Your Man, de Leonard Cohen (1988)
Discos para história: Queens of the Stone Age, do Queens of the Stone Age (1998)
Discos para história: Dear Science, do TV on the Radio (2008)
Discos para história: Bookends, de Simon & Garfunkel (1968)


"Yellow Submarine" não deveria ter sido nem um disco cheio, mas um EP com as quatro faixas inéditas mais "Across The Universe" como bônus. O lançamento estava programado para poucas semanas após o lançamento da animação no cinema, mas era um projeto de prioridade tão baixa que foi adiado até o início de 1969. Tudo isso em meio às disputas por ego durante as gravações do "White Album", a prioridade dos quatro em 1968. Tanto não ligavam que, pela primeira vez, Harrison teve duas músicas lançadas em um disco simples dos Beatles.

Lançado em 13 de janeiro de 1969, o disco recebeu críticas frias e o público não recebeu o trabalho como os anteriores. O LP estreou na terceira posição no Reino Unido e ficou no top 15 por dez semanas. Nos Estados Unidos, chegou a estrear em segundo, sendo ultrapassado pelo "White Album" na semana seguinte. Ainda ficou 24 semanas no top 10. Mas o disco serviu para algo fundamental: com as quatro faixas originais, estava finalizado o compromisso firmado em janeiro de 1967 com com a EMI e a Capitol que previa o lançamento de 60 músicas inéditas.

O disco foi o último suspiro da 'beatlemania' como fenômeno público no Reino Unido quando, pela última vez, uma multidão se reunião para ver o quarteto na estreia do filme. Depois disso, o fim estaria cada dia mais próximo.


Resenha de "Yellow Submarine"

Presente em "Revolver", a faixa-título do álbum é daquelas que Lennon e McCartney compunham em um dia de bobeira e acabavam dando para Ringo Starr gravar, já que o baterista não era um contribuidor no trabalho de composição. Muitos acham que é uma das piores música dos Beatles, mas, à época, ninguém sabia que a faixa viraria a marca registrada das apresentações solo de Starr -- ao lado de "With a Little Help from My Friends".

A segunda faixa chama-se "Only a Northern Song" e, muitos não perceberam, era uma ironia de Harrison com o nome da empresa criada para publicar e administrar as composições de Lennon e McCartney (A Northern Song), sendo que o guitarrista era um músico de aluguel e era pago separadamente até 1968, quando o contrato acabou e uma nova negociação foi feita. A canção combina bem com o filme, e Harrison trouxe uma nova sonoridade para si quando usou diferentes instrumentos no arranjo.



Depois vem a animada "All Together Now", essa uma música infantil composta por McCartney ao juntar vários pedaços de letras e brincadeiras ao longo dos anos. É uma canção simples, mas, pelo tom perfeccionista que dominava os Beatles naquela época, foram necessários nove takes para acertá-la do início ao fim. Nascida como "Hey Bullfrog", a animada "Hey Bulldog" ganhou o título quando, em uma improvisação para ver como a melodia encaixaria com a letra, McCartney deu um latido -- algo que Lennon gracejou e pediu para deixar na mixagem final. Segundo o engenheiro de som Geoff Emerick, foi a última vez em que os quatro membros da banda colaboraram de maneira igualitária em uma música -- como nos velhos tempos.

"It's All Too Much", segundo Harrison, foi escrita depois de uma viagem com LSD e essas impressões foram confirmadas durante sessões de meditação. A letra é infantil e está longe de ser o melhor material do guitarrista, mas havia um potencial imenso como letrista. Claramente ele estava mais solto e seguro para colocar algo para fora, ainda que não perto do que ele faria nos meses seguintes.



"Esta é uma música inspirada, porque eles (...) realmente queriam dar uma mensagem ao mundo. Dificilmente poderia ter sido uma mensagem melhor. É uma gravação maravilhosa, linda e arrepiante". São palavras do empresário Brian Epstein sobre "All You Need Is Love". E a participação dos Beatles acaba aqui.

O lado B são temas instrumentais compostos por George Martin que, pela primeira vez, mostrava seu lado artístico em um disco dos Beatles. Os arranjos tensos, a maneira como ele conduz e o ritmo das peças mostram como ele era realmente um bom compositor de ópera e poderia ter tido muito futuro, caso não tivesse caído em uma gravação de uma banda amadora no início dos anos 1960 e ajudado a mudar a história da música pop.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A: músicas presentes no filme

1 - "Yellow Submarine"
2 - "Only a Northern Song" (George Harrison)
3 - "All Together Now"
4 - "Hey Bulldog"
5 - "It's All Too Much" (Harrison)
6 - "All You Need Is Love"

Todas as músicas foram escritas pela dupla Lennon-McCartney, exceto as marcadas

Lado B: trilha orquestral

1 - "Pepperland"
2 - "Sea of Time"
3 - "Sea of Holes"
4 - "Sea of Monsters"
5 - "March of the Meanies"
6 - "Pepperland Laid Waste"
7 - "Yellow Submarine in Pepperland" (Lennon-McCartney)

Todas as músicas foram escritas por George Martin, exceto a marcada

Gravadora: Apple
Produção: George Martin
Duração: 40min12

John Lennon: vocais, violão, guitarra, piano, ukulele, cravo, banjo, gaita, glockenspiel, palmas e efeitos
Paul McCartney: vocais, baixo, baixo duplo, violão, piano, trompete, tambourine, palmas e efeitos
George Harrison: vocais, guitarra, violão, violino, órgão, tambourine, palmas e efeitos
Ringo Starr: vocais, bateria, prato de dedo, tambourine, palmas e efeitos
George Martin: piano e vocal de apoio
David Mason: trompete
Paul Harvey: clarinete
Sidney Sax, Patrick Halling, Eric Bowiee e John Ronayne: violino
Lionel Ross e Jack Holmes: violoncelo
Rex Morris e Don Honeywill: saxofone tenor
Stanley Woods e David Mason: trompete
Evan Watkins e Harry Spain: trombone
Jack Emblow: accordeão
Mal Evans: vocal de apoio e bumbo
Neil Aspinall, Geoff Emerick, Brian Jones, Marianne Faithfull, Alf Bicknell, Mick Jagger, Keith Richards, Jane Asher, Mike McCartney, Pattie Harrison, Eric Clapton, Graham Nash, Keith Moon, Hunter Davies e Gary Leeds: vocal de apoio
Mike Vickers: condutor

Alguns músicos da orquestra não foram creditados porque os registros não existem ou são inconclusivos. Logo que as informações forem confirmadas, os créditos serão atualizados.



Siga o blog no Twitter Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!

Continue no blog: