Discos para história: Bookends, de Simon & Garfunkel (1968)


Dupla atingiu o auge criativo no quarto trabalho de estúdio

História do disco

A dupla formada por Paul Simon e Art Garfunkel já vinha de três discos lançados nos dois primeiros anos de carreira – "Wednesday Morning, 3 A.M." (1964), "Sounds of Silence" (1966) e "Parsley, Sage, Rosemary and Thyme" (1966). Eles, amigos de infância, lutaram muito para chegarem até o topo e encontrar a própria sonoridade. A influência pesada do folk-rock foi misturada com harmonias pop e deu a eles a originalidade necessária para atingir o sucesso, mas não sem antes acontecer uma separação. O quase fim da dupla foi salvo pelo produtor Tom Wilson, que havia trabalhado com Bob Dylan no início da carreira e viu potencial neles.

É bom explicar que o trabalho feito por Simon e Garfunkel não era novo, pelo contrário, mas acenava com um frescor dentro da cena não visto há algum tempo. E com a experiência necessária tanto em estúdio quanto nas composições, principalmente por parte de Simon, a dupla entrou em estúdio para trabalhar no que viria a ser o próximo disco. A escolha do repertório foi pautada por rearranjos de faixas de trabalhos anteriores com algum material inédito

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Lançado em 3 de abril de 1968, “Bookends” nasceu para ser grandioso e ambicioso, duas palavras que rimam e podem trazer glória ou fracasso. E a segunda palavra pairava durante as gravações um tanto tumultuadas do LP. A gravação começou em junho de 1967, com John Simon na produção – sem relação com o cantor –, período em que eles ainda não tinham muita ideia do que fazer. Tanto não tinham que, às custas da gravadora, passaram 12 horas dentro de estúdio com um conjunto de músicos tentando encontrar o arranjo ideal para "Fakin' It".

Outro exemplo do perfeccionismo da dupla foram as 50 horas, indo de nota por nota, para deixar "Punky's Dilemma" perfeita. Eram outros tempos em que havia dinheiro da gravadora e disposição dos músicos para fazer o melhor trabalho possível. O trabalho só começou a ficar sério de verdade no fim daquele ano. Em uma coincidência, foi justamente quando John Simon saiu da Columbia e foi substituído por Roy Halee, que completou o trabalho nos três primeiros meses de 1968.

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Antes do lançamento, a dupla participou do icônico Monterrey Pop Festival, um dos pilares do chamado Verão do Amor. Mas fundamental é entender o contexto do lançamento do álbum. Um dia depois de estrear nas lojas, o pastor e ativista Martin Luther King Jr. foi assassinado. O LP acabou funcionando como conforto aos Estados Unidos em um momento difícil, permanecendo sete semanas na primeira posição e 66 nas principais posições das paradas, além de seguir o embalo do sucesso do filme “A Primeira Noite de um Homem” (1967), filme estrelado por Dustin Hoffman com trilha sonora composta pela dupla – incluso “Mrs. Robinson”.

Lembremos que, há pouco tempo, Dylan levou o Nobel de Literatura pelo seu inestimável trabalho na música nos últimos 60 anos. Demorou, mas, enfim, o reconheceram como um grande talento literário. Pois se existisse a chance de outros músicos ganharem, Simon & Garfunkel mereceriam o prêmio pela obra-prima “Bookends”. Um dos discos que melhor lembra a geração de jovens americanos dos anos 1960, é um clássico do início ao fim, uma obra-prima literária que conseguiu traduzir o fim do Sonho Americano, a perda da juventude e a chegada das responsabilidades da idade adulta.


Resenha de “Bookends”

Ao melhor estilo “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” (1967), “Bookends” começa com uma faixa instrumental que não apenas dá o tom do trabalho, mas mostra a intenção de apontar ao ouvinte uma estrutura do início ao fim de um álbum conceitual. A seguinte, "Save the Life of My Child", toca em um tema importante: suicídio entre jovens. Usando o sampler de "The Sound of Silence" e um sintetizador Moog, a dupla conseguiu entregar uma faixa de tom bem experimental para falar de algo bem pesado.

Um dos grandes singles dos anos 1960, "America" é a procura de Simon para tentar descobrir o que, afinal, é a América? O que são os ideais dos Estados Unidos? O Sonho Americano é algo real para todos? A letra foi composta durante uma viagem pelo país em uma mistura de desespero e esperança, otimismo e desilusão, enquanto "Overs" fala sobre um casal de saco cheio um do outro, em um momento em que ambos perderam a crença no amor que os uniu no passado.



"Voices of Old People" é, literalmente, a gravação de pessoas idosas em um asilo e sua triste rotina de lembrar de quem já morreu ou não os quer mais por perto. Seguindo a mesma linha, em um arranjo de tons melancólicos e macabros, "Old Friends" é a história de dois amigos sentados em um banco em uma praça refletindo sobre como é estar perto da morte e emendada com "Bookends Theme (Reprise)" para fechar o lado A.

Gravada anteriormente pela dupla, "Fakin' It" traz a história de alguém remoendo as próprias inseguranças e defeitos com um arranjo mais folk-rock acelerado e diminuído à medida da evolução da letra. A faixa tem mais de três minutos, mas foi colocada com um pouco menos na prensagem original para enganar os DJs das rádios e ter mais chance de tocá-la no rádio. E "Punky's Dilemma" é um jazz bem suave para satirizar a indústria do cinema. Aqui, com mais clareza, ouvimos os complementos usados ao fundo para criar todo um clima.



Então vem o grande clássico. Escrita a toque de caixa para o filme, "Mrs. Robinson" é o ápice da dupla em vários aspectos. A letra de Simon é brilhante, o arranjo é perfeito para a faixa e Garfunkel conseguiu captar muito bem o espírito de tudo na produção. Além, claro, da homenagem a Joe DiMaggio (1914-1999), considerado o maior jogador de beisebol todos os tempos – certo dia, DiMaggio encontrou Simon em um restaurante e eles discutiram a letra. Questionado o motivo da escolha do jogador em especial, ele foi taxativo: “é sobre rimas”.

A agitada "A Hazy Shade of Winter" traz uma dupla mais animada para falar sobre os dias de Simon na Inglaterra – a faixa chegou ao 13º lugar das paradas, melhor posição depois da liderança de "Mrs. Robinson". Para finalizar, "At the Zoo" usa do lúdico para falar dos animais em um zoológico.

Melhor disco da dupla, “Bookends” foi o ápice de Simon e Garfunkel ao conseguir mostrar os Estados Unidos do nascimento até a idade mais avançada. Não é à toa que é considerado um dos melhores discos dos anos 1960.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Bookends Theme" (0:32)
2 - "Save the Life of My Child" (2:49)
3 - "America" (3:35)
4 - "Overs" (2:14)
5 - "Voices of Old People" (2:07) (Art Garfunkel)
6 - "Old Friends" (2:36)
7 - "Bookends Theme (Reprise)" (1:16)

Lado B

8 - "Fakin' It" (3:17)
9 - "Punky's Dilemma" (2:12)
10 - "Mrs. Robinson" (4:02)
11 - "A Hazy Shade of Winter" (2:17)
12 - "At the Zoo" (2:23)

Todas as músicas foram compostas por Paul Simon, exceto a marcada

Gravadora: Columbia
Produção: Simon & Garfunkel, John Simon e Roy Halee
Duração: 29min51s

Paul Simon: vocal e violão
Art Garfunkel: vocal

Convidados:

Hal Blaine: bateria e percussão
Joe Osborn: baixo
Larry Knechtel: piano, teclado e baixo em "Mrs Robinson"
John Simon: sintetizador em "Save The Life Of My Child”



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