História do disco
Leonard Cohen teve um incrível impacto na música ao longo de quase 50 anos de carreira ao interpretar como poucos os sentimentos dos seres humanos em letras profundas e em interpretações viscerais. A carreira, iniciada no final dos anos 1960, ganhou corpo e forma no início da década seguinte, época em que passou ser venerado por uma legião fiel de fãs.
Mas, como todo mundo, Cohen tinha seus problemas e passava por longos e difíceis períodos de depressão profunda, auto isolamento e pouca interação com as pessoas, salvo Marianne Ilhen, amante e musa inspiradora de uma vida inteira. Por esse, abuso de drogas e álcool, e outros motivos que não era produtivo em lançamentos como muitos de seus contemporâneos e sempre houve espaços de dois, três e até cinco anos entre os discos — aumentados consideravelmente do início dos anos 1990 até o início da segunda década dos anos 2000. E ainda havia uma insatisfação com a indústria da música, de maneira geral.
Cohen era tão cético e desacreditava tanto no meio que, em 1973, chegou a anunciar a aposentadoria ao alegar exploração por parte de todos os envolvidos, e isso acabou por contaminá-lo também.
Mais álbuns dos anos 1970:
Discos para história: Imagem e Som, de Cassiano (1971)
Discos para história: Madman Across the Water, de Elton John (1971)
Discos para história: Roberto Carlos, de Roberto Carlos (1971)
Discos para história: Hunky Dory, de David Bowie (1971)
Discos para história: Paranoid, do Black Sabbath (1970)
Discos para história: A Máquina Voadora, de Ronnie Von (1970)
"Não sou mais um homem livre, sou um homem explorado. Antigamente, muito tempo atrás, minhas músicas não eram vendidas. Elas encontravam caminho para chegar nas pessoas. Então as pessoas viram que eles podiam lucrar, então o lucro também me interessou. Tenho que lutar com muitas pessoas em muitos níveis para ter que lutar por dinheiro também", explicou ele à 'NME', na época.
Caso tivesse seguido o plano inicial, "Songs of Love and Hate", lançado em 19 de março de 1971, teria sido o último trabalho da carreira de Cohen. E teria sido um encerramento e tanto, já que o terceiro álbum da carreira é um dos melhores, apesar de o cantor renegar com todas as forças ao chamá-lo "experimento que falhou".
Não é a opinião da maioria, apesar de ser compreensível o olho torto de Cohen com o disco. Primeiro, ele passava por uma das crises depressivas; segundo, pela primeira vez na carreira de músico, ele tinha pouco material para trabalhar e teve pouco tempo para refinar tudo a seu gosto. O disco inteiro foi gravado em cinco dias — para efeito de comparação, os outros foram gravados em períodos mais longos. O resultado? É possível ouvir letras mais sombrias cantadas por um sofrido Cohen.
Veja também:
Discos para história: Chá Dançante, de Donato e Seu Conjunto (1956)
Discos para história: O Sucesso É Samba, de Walter Wanderley (1961)
Discos para história: Metá Metá, do Metá Metá (2011)
Discos para história: Ruido Rosa, do Pato Fu (2001)
Discos para história: Os Grãos, dos Paralamas do Sucesso (1991)
Discos para história: Premeditando o Breque, do Premê (1981)
Essa conjuntura de fatores fez "Songs of Love and Hate", de bastante sucesso no Reino Unido ao chegar na quarta posição na parada, ser admirado por gente do calibre de Nick Cave, que ouviu o trabalho pela primeira vez aos 11 anos e mudou a maneira de escrever — de coisas lúdicas para assuntos pessoais, jeito que o consagraria como um dos melhores compositores da geração surgida nos anos 1980.
O álbum ainda mostra um Cohen cru, musicalmente falando, e encontrando um caminho para fazer de suas canções verdadeiros clássicos. A crueza como ele canta e apresenta as letras são como finais infelizes para as histórias de amor contadas nos dois primeiros discos. Ele o negou no início, cedeu e passou a tocar algumas canções em turnê, mas foi "Songs of Love and Hate" que o transformou em um dos compositores mais amados dos últimos 50 anos.
Resenha de "Songs of Love and Hate"
A primeira música detonada por Leonard Cohen em "Songs of Love and Hate" é "Avalanche" que, segundo ele, tem um vocal ansioso e apagado. Ele achou ruim, mas esses elementos só ajudam a dar força a versos como "I have begun to long for you/ I who have no greed/ I have begun to ask for you/ I who have no need". Ele gostando ou não, acabou virando um dos clássicos da carreira.
Ao ouvir Cohen, é possível entender que o trabalho de escolher cada verso era muito minucioso. Um exemplo é "Last Year's Man", canção que levou cinco anos para ficar pronta. Dentre todas do disco, foi a única sempre elogiada. E também foi a única que ele nunca tocou ao vivo. Um pecado, já que o tom dramático da história mais o coro de crianças teria feito grande sucesso nas apresentações.
Ele avança mais nos assuntos e fala dos problemas da fama e inseguranças de uma crítica ruim ("Dress Rehearsal Rag") e usa um verso do livro de Habacuque, na Bíblia, para falar sobre a vida ("Diamonds in the Mine") em um estilo mais gritado e desesperado, algo incomum na discografia — a faixa é abrilhantada com o vocal de apoio.
O estilo normal de Cohen retorna em "Love Calls You by Your Name", quando o arranjo leve ajuda a destacar a letra, tendo o violão papel fundamental nisso. A seguinte também é outro sucesso do álbum. Chamada "Famous Blue Raincoat", uma das marcas registradas da composição do cantor canadense por mostrar a mistura entre a vida dele usando algum componente religioso como exemplo — aqui o é o assassinato de Abel pelo irmão Caim.
Colocada no álbum de última hora, a versão ao vivo de "Sing Another Song, Boys" mostra um Cohen poderoso e, mais importante, não atropelado pelo arranjo ou pelo vocal de apoio. É outra letra das mais potentes do álbum, encerrado com a joia "Joan of Arc" que, em 1974, o cantor revelou ter sido inspirada em Nico, cantora, uma das musas de Andy Warhol e que gravou o famoso "disco da banana" com o Velvet Underground. Ele a descreveu como "... uma mulher que me assombra há muito tempo" e como "uma mulher corajosa". Tudo isso serve para descrever Nico com bastante precisão.
Um dos méritos do álbum é do produtor Bob Johnston. Ao encontrar o tom certo nos arranjos, ele ajudou o cantor a destacar o bem mais precioso: a interpretação das canções, um jeito para cantar Cohen que só Cohen tinha. E isso ajudou a fazer de "Songs of Love and Hate" um clássico.
Ficha técnica
Tracklist:
Lado A
1 - "Avalanche" (5:01)
2 - "Last Year's Man" (6:02)
3 - "Dress Rehearsal Rag" (6:12)
4 - "Diamonds in the Mine" (3:52)
Lado B
1 - "Love Calls You by Your Name" (5:44)
2 - "Famous Blue Raincoat" (5:15)
3 - "Sing Another Song, Boys" (Live at the Isle of Wight Festival, August 31, 1970) (6:17)
4 - "Joan of Arc" (6:29)
Todas as músicas foram escritas por Leonard Cohen
Gravadora: Columbia
Produção: Bob Johnston
Duração: 44min21s
Leonard Cohen: violão e vocal
Ron Cornelius: violão e guitarra
Charlie Daniels: violão, baixo e violino
Elkin "Bubba" Fowler: violão, banjo e baixo
Bob Johnston: piano
Corlynn Hanney: vocal
Susan Mussmano: vocal
The Corona Academy, London: coro das crianças
Michael Sahl: cordas em "Last Year's Man"
Paul Buckmaster: arranjo de cordas e de sopro, maestro
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