Discos para história: Chet Baker Sings, de Chet Baker (1954)

História do disco

Chet Baker foi um dos nomes mais importantes da história do jazz. Morto em 1988, aos 58 anos, não resistindo ao vício de drogas e álcool, ele surgiu na cena no início dos anos 1950. Ao deixar o exército, partiu em busca do sonho de virar músico profissional e tocou trompete com gente do calibre de Vido Musso e Stan Getz logo no primeiro ano como profissional, mas foi a entrada no Gerry Mulligan Quartet que impulsionou de vez a carreira na música pelos anos seguintes.

O quarteto, sem um pianista, definiu o jazz da Costa Oeste, com o estilo conhecido como cool jazz — inspirado no bebop, mas com tons mais leves e menos complexos. Contemporâneo de Miles Davis, as comparações eram inevitáveis. Enquanto Davis um era mais harmônico e gostava de longos improvisos, Baker era mais melódico e tocava de uma maneira suave. Com isso, ele ascendeu como um dos astros desse momento do gênero, chamando atenção também pelo estilo bad boy e beleza. Quando Mulligan foi preso por porte de drogas, viu a chance de montar o próprio quarteto e partir para carreira solo.

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Caso tivesse ficado apenas na música instrumental nos clássicos lançamentos da gravadora Pacific Jazz no início dos anos 1950, Baker já seria alvo de reverência por parte de fãs e críticos ao longo dos anos. Mas acabou gravando um álbum cantando um repertório escolhido a dedo. A história de como ele conseguiu gravar o LP tem versões distintas: uma fala que o produtor Dick Bock ouviu Baker cantar despretensiosamente em um show, gostou e fez o convite. Outra fala que a mãe do trompetista amava a voz do filho e insistia para ele fazer um disco assim, ideia aceita pelo músico, mas Bock teria resistido antes de dar o sinal positivo para gravação.  

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Seja qual for a versão, é fato que ele entrou no lendário estúdio da Capitol, em Los Angeles, em 15 de fevereiro de 1954, para gravar “Chet Baker Sings”, acompanhado pelo pianista Russ Freeman, pelo baixista Carson Smith e pelo baterista Bob Neel. O repertório era composto por clássicos do jazz conhecidos de Baker e da banda em estúdio, então não havia necessidade de ensaio. Porém, segundo uma das muitas histórias não confirmadas, o trompetista encontrou muita dificuldade em cantar no tom e o dia de gravação levou muito mais tempo do que o esperado pelo produtor e banda.

Na época, o tamanho do vinil era de 10”, geralmente com quatro músicas em cada lado, e optar por canções conhecidas do público era o caminho mais fácil para a gravadora, com mais facilidade com a propaganda do LP nas lojas e nos programas de rádio especializados para gerar apelo junto ao público. E o objetivo foi alcançado muito facilmente, graças também aos sucessos anteriores de Baker, um nome conhecido para quem gostava de jazz. 

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Lançado em abril na Costa Oeste e em maio no resto dos Estados Unidos, “Chet Baker Sings” conquistou o público e ficou na lista dos mais vendidos até o final de 1954, dando a Baker uma fama incomum para um jazz com tão pouco tempo de carreira. Como diriam hoje em dia, ele furou a bolha e chegou aos mais diversos lares com um repertório conciso e, principalmente, conhecido das famílias, ainda sem enfrentar a influência do rock nos anos seguintes. O impacto foi tamanho que, com a chegada dos LPs de 12”, uma nova versão do álbum foi lançada dois anos depois com seis músicas a mais, gravadas exclusivamente para essa nova versão. E conseguiu números ainda melhores.

Com o sucesso, Baker nunca mais deixou de cantar em um disco. Apesar das prisões, problemas de saúde e até mesmo uma pausa na carreira entre o final dos anos 1960 e início da década seguinte, nunca mais foi esquecido pelos fãs e é sempre exaltado por especialistas como um dos grandes do jazz.

Crítica de “Chet Baker Sings”

Para os padrões atuais da indústria de música, um disco com oito músicas e 23 minutos de duração seria barrado logo de cara, por mais que a intenção do artista seja a melhor possível. Não era assim em 1954. “Chet Baker Sings” traz o trompetista fazendo o melhor trabalho possível no vocal em canções gravadas por inúmeros artistas ao longo dos anos. Ao abrir com “But Not for Me”, ele aposta na segurança de um dos clássicos da dupla George Gershwin e Ira Gershwin.

Logo na sequência, é difícil não ficar encantado com a delicadeza de “Time After Time”, dessas ser difícil não ficar com os olhos cheios de lágrimas (“And time after time/ You'll hear me say that I'm/ So lucky to be loving you”) e com a melancolia do clássico “My Funny Valentine”. A primeira parte do trabalho encerra com “I Fall in Love Too Easily”, uma das faixas mais famosas do repertório de Baker ao longo dos anos, gravada por ele pela primeira vez em 1953.

A segunda parte começa com a animada “There Will Never Be Another You”, mas logo o trabalho parte para a melancolia mais uma vez com “I Get Along Without You Very Well (Except Sometimes)” e é difícil não prestar atenção no vocal, mesmo o próprio Baker dizendo, anos depois, que a voz não passava de um mero instrumento como outro qualquer. Ainda assim, é nesse tipo de interpretação que ele ganhou fãs pelo mundo ao longo dos anos.

Outro clássico, “The Thrill Is Gone” ganha uma interpretação mais lenta e mais arrastada, deixando a letra ainda mais triste (“This is the end/ So why pretend/ And let it linger on?/ The thrill is gone/ The thrill is gone”). Para todo álbum não ser uma tristeza só, “Look for the Silver Lining” encerra em uma nota alta para cima, alimentando a esperança de dias melhores para todos nós.

Baker faz da estreia no vocal um grande teste para ele mesmo. Aprovado na época e no teste do tempo, “Chet Baker Sings” é desses álbuns fundamentais até mesmo para quem não gosta de jazz. Ouvir o repertório é entender a grandiosidade desse gênero musical cheio de artistas incríveis ao longo de várias décadas.

Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - “But Not for Me” (George Gershwin/ Ira Gershwin) (3:04)
2 - “Time After Time” (Jule Styne/ Sammy Cahn) (2:46)
3 - “My Funny Valentine” (Richard Rodgers/ Lorenz Hart) (2:21)
4 - “I Fall in Love Too Easily” (Styne/ Cahn) (3:21)

Lado B

1 - “There Will Never Be Another You” (Harry Warren/ Mack Gordon) (3:00)
2 - “I Get Along Without You Very Well (Except Sometimes)” (Hoagy Carmichael) (2:59)
3 - “The Thrill Is Gone” (Lew Brown/ Ray Henderson) (2:51)
4 - “Look for the Silver Lining” (Jerome Kern/ Buddy DeSylva) (2:39)

Gravadora: Pacific Jazz
Produção: Richard Bock
Duração: 23 minutos

Chet Baker: vocal e trompete
Russ Freeman: piano e celesta
Carson Smith: baixo duplo
Joe Mondragon: baixo duplo
Bob Neel: bateria

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