Discos para história: Avante, de Siba (2012)

História do disco

Siba era líder das bandas Mestre Ambrósio e Fuloresta do Samba e, empunhando a viola e a rabeca, lançou discos e fez shows históricos pelo Brasil. Mas ele estava insatisfeito com os rumos que havia tomado para si próprio na música e decidiu mudar. E radicalmente. O músico deixou a região de Nazaré da Mata, em Pernambuco, e mudou-se para São Paulo. E deixou os instrumentos costumeiros para empunhar a guitarra em "Avante", lançado em 2012, o primeiro com apenas o nome dele no crédito principal.

Mudanças radicais nem sempre são fáceis de serem feitas, mas Siba estava tão incomodado que não mudar seria ainda pior para ele. Então aos 42 anos, buscar uma reconexão com a guitarra, instrumento básico para quem deseja ter uma banda de rock, foi a solução. Isso sem abandonar as referências acumuladas ao longo dos últimos anos.

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"A rabeca não daria conta. Tive de passar por uma reconstrução da cultura da guitarra e retomar de um jeito atual. Nisso, teve muita influência de como usavam o instrumento na África, principalmente no Congo, que eu vinha escutando muito, com vibrafone, kalimba", contou ele, em entrevista à revista 'Rolling Stone', no ano de lançamento do trabalho.

Em meio aos próprios questionamentos sobre a carreira e como avançar, daí o nome do trabalho, ele ainda passou por momentos difíceis que o levaram a um bloqueio na hora de escrever música. Então, ele foi estudar música africana de diversas partes, do Congo ao Mali, para descobrir mais da música região, o impacto no mundo e como essa influência bateu no Brasil de alguma maneira, chegando até ele, essa mistura de Led Zeppelin com maracatu.

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"Vendi a [minha] prancha de surf, comprei uma guitarra e fui tentar me entender. Eu tinha a intuição de que deveria me voltar para a cultura particular do lugar de onde eu venho, forte, rica, e que falava comigo antes de tudo. Logo me conectei com o maracatu do baque solto, o que define todo o meu caminho", disse ele á revista 'Trip', em 2019, quando estava divulgando "Coruja Muda", álbum lançado naquele ano.

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Essa mudança, não apenas musical, gerou o divórcio, o afastamento do filho pela distância e estabelecer São Paulo como nova casa. Rodeado de amigos, o músico não via sentido em manter-se criando como se ainda estivesse no interior de Pernambuco. "Avante" não é definitivo em nada, mas um trabalho de construção e entendimento dessas mudanças radicais na própria vida em todos os aspectos.

Fã de Motörhead e Jimi Hendrix, Siba se reconectou com a guitarra para tentar se entender em meio a esse furacão causado pela vida no início de uma experiência para se resolver musicalmente. Ao precisar ser o líder de um homem só, Siba começaria uma caminhada de reconhecimento próprio e dos outros, usando o passado e o presente como olhares para o futuro.

Resenha de "Avante"

Siba começa o trabalho com "Preparando O Salto", uma espécie de ensaio dele ao público na espera dessa retomada dele com a guitarra como instrumento principal. Um solo simples do instrumento, mostrando estar bem afiado, é o primeiro degrau desse então início de nova fase sem abdicar da rica história construída no passado recente.

A tuba de Léo Gervázio começa a aparecer com destaque em "Brisa", canção suave sobre o mar, as belezas e percalços, algo que Dorival Caymmi (1914-2008) fez muito bem ao longo de toda vida, enquanto em "Ariana" traz um refrão desses deliciosos para ser cantado bem alto ("Ronca o céu, treme a terra, abala o norte/ Se esparrama uma sombra sobre o sul/ São o sonho e a noite irmãos da morte/ Só sobrou nós dois num manto azul").

Aliás, as letras de ar poético funcionam muito bem nos trabalhos de Siba porque ele não desperdiça o tempo do ouvinte com pormenores. São letras fáceis de entender e funcionam bem para contar as histórias, caso de "Cantando Ciranda Na Beira Do Mar" e da animada "A Bagaceira", talvez a canção escrita em 2012 que melhor represente o sentimento das pessoas em 2022.

De letra engraçadinha, "Canoa Furada" apresenta o drama do pescador que saiu com a canoa furada e, ao invés de pescar, ele virou o objeto de desejo de um tubarão. E depois da instrumental "Mute", vem "Um Verso Preso", um poema de letra profunda com uma parte instrumental toda na guitarra.

A faixa-título que, segundo Siba, foi o ponto de virada para o trabalho, aparece para mostrar essa mistura de embolada com a guitarra em uma letra das melhores ("Imagens são balões presos/ Por um cordão que se tora/ Porque poesia é presença/ De um vulto que não demora/ O canto espalha no vento/ E o tempo desfaz na hora").

O trabalho com o sintetizador surge em "Qasida", uma forma de poema de origem perso-arábe, de letra e arranjo bem suaves. É a melhor canção do trabalho, que encerra com "Bravura E Brilho", uma homenagem ao filho também presente na capa do disco.

"Avante" soa um recomeço para Siba. Aproveitando ao máximo essa volta às origens, ele fez do trabalho um misto de elementos usados a vida inteira com o acréscimo da guitarra, instrumento que ainda é inspirador para quem deseja ter uma banda de rock. Para esse momento, o trabalho realmente soou como um passo avante para ele.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Preparando O Salto" (4:44)
2 - "Brisa" (4:46)
3 - "Ariana" (4:34)
4 - "Cantando Ciranda Na Beira Do Mar" (5:05)
5 - "A Bagaceira" (3:54)
6 - "Canoa Furada" (3:18)
7 - "Mute" (0:52)
8 - "Um Verso Preso" (1:30)
9 - "Avante" (3:55)
10 - "Qasida" (5:02)
11 - "Bravura E Brilho" (4:18)

Gravadora: Fina Produção
Produção: Siba e Fernando Catatau
Duração: 41min58

Siba: guitarra, viola e vocal
Léo Gervázio: tuba
Samuca Fraga: bateria
Antônio Loureiro: vibrafone e teclado
Fernando Catatau: sintetizador

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