Discos para história: Dance Mania, de Tito Puente (1958)


Compositor e arranjador mudou o panorama da música latina nos Estados Unidos

História do disco

Tito Puente (1923-2000) foi um dos grandes representantes do chamado latin jazz, uma mistura de ritmos caribenhos com o aclamado gênero musical. Nascido na parte hispânica do Harlem, no Brooklyn, bairro de Nova York, Puente conservou por muitos anos o sonho de ser dançarino, mas uma séria lesão no tornozelo acabou com qualquer chance de virar um profissional no ramo. Ele tinha 13 anos.

Isso não o impediu de iniciar a carreira na música como baterista, e isso o motivou a estudar muito para entrar na New York School of Music. Lá, estudou composição, orquestração e piano, e, fundamental, absorveu a influência de Machito, músico que, basicamente, criou o que ficou conhecido como salsa – subgênero que é a mistura de cha-cha-chá, mambo e outros subgêneros de música latina.

Mais discos dos anos 1950:
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Trabalhando em diversas gravadoras, foi na RCA que ele conseguiu destaque. Apoiado por ele, conseguiu fundir todas as suas influências com o jazz e o mambo, outro gênero de música latina dançante que fazia a cabeça e os pés dos imigrantes e descendentes no início dos anos 1930. Isso deu a ele o título de “Rei do Mambo”, “título” que carregaria até o fim da vida. Puente também ajudou a popularizar o cha-cha durante a década de 1950 e foi o único não-cubano que foi convidado para uma celebração patrocinada pelo governo de "50 anos de música cubana", em Cuba, em 1952. Daí em diante, ele virou o grande símbolo da música latina nos Estados Unidos.

A RCA acabou sendo a primeira gravadora norte-americana a dar espaço a um músico que tinha como mote principal a tradicional música cubana – no ritmo e nos vocais. Puente gravou uma série de LPs de jazz latino, começando com “Puente Goes Jazz” (1956) e Night Beat (1957). Os dois discos deram a base para o que viria a ser “Dance Mania”, o grande clássico de Puente e seu trabalho mais famoso entre os quase 90 discos que lançou ao longo da carreira.

Mesmo para um músico consagrado como Tito Puente, ainda haviam duas barreiras para lançar seus trabalhos: duração das faixas e letras em espanhol. Foi exatamente em “Dance Mania” que ele conseguiu romper com essas duas coisas, fundamentais para autencidade do movimento e da música que tomava conta das pistas de dança.

Veja também:
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“Naquela época, os DJs queriam menos de três minutos [de duração nas faixas], porque queriam números curtos para seus programas de rádio. É fácil conseguir isso na música local. Não para o nosso tipo de música. Precisamos de tempo para quebrar esse grande mercado lá fora. Nós fomos inibidos [no início] por esse limite de tempo", contou o compositor no livro “Tito Puente: When the Drums Are Dreaming”.

O lançamento do LP catapultou Tito Puente direto ao estrelato e abriu portas para outros compositores e cantores do gênero, além do enorme sucesso nas festas pelo país. Até hoje, praticamente todas as escolas de dança usam o disco em suas aulas, o tornando o LP do gênero mais vendido de todos os tempos.



Resenha de “Dance Mania”

Um dos clássicos das aulas de dança dos últimos anos é "El Cayuco", que abre o disco com o vocal em espanhol. Não causa estranhamento em 2018, mas é possível entender como esse LP quebrou barreiras em 1958. A seguinte, "Complicación", é das mais longa do disco e explica bem o motivo de o compositor brigar por mais tempo de duração das faixas de seus discos. Trabalhar a melodia até chegar ao ápice é fundamental nesse tipo de gênero musical dançante. E ela mostra o motivo.

A primeira faixa instrumental do disco é animada "3-D Mambo", depois aparece "Llego Mijan”, um cha-cha-chá bem animado e feito para dançar, e "Cuando Te Vea" é um pouco mais melancólica na mensagem, mas sem perder a ternura jamais. Mas é na instrumental "Hong Kong Mambo" em que podemos ouvir todo talento de Tito Puente como músico ao fazer um solo de vibrafone por quase quatro minutos. Aqui, ele mostra o motivo de ser cultuado pela comunidade latina nos Estados Unidos.



É possível ouvir como a percussão é fundamental na construção das faixas em "Mambo Gozon", quando ela aparece na maior parte do tempo e tem um momento para chamar de seu. A sequência formada por "Mi Chiquita Quiere Bembé" e "Varsity Drag Mambo" mostram os dois lados de Puente. A primeira traz a pureza da música latina, a segunda é claramente a mistura dela com o jazz.

"Estoy Siempre Junto a Ti" é muito semelhante à chamada música de fossa popularizada no Brasil no meio dos anos 1950, principalmente com Maysa Monjardim sendo o principal nome. "Agua Limpia Todo" e "Saca Tu Mujer", sendo a segunda uma das melhores do álbum, fecham o disco.

O disco virou o grande exemplo de como era, sim, possível fazer sucesso no mercado americano sem perder suas raízes. O resultado é um clássico da música latina.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "El Cayuco" (2:36)
2 - "Complicación" (3:22)
3 - "3-D Mambo" (Tito Puente and His Orchestra) (2:24)
4 - "Llego Mijan” (Son Montuno) (3:13)
5 - "Cuando Te Vea" (Tito Puente and His Orchestra) (4:14)
6 - "Hong Kong Mambo" (Tito Puente and His Orchestra) (3:46)
7 - "Mambo Gozon" (Tito Puente and His Orchestra) (2:47)
8 - "Mi Chiquita Quiere Bembé" (Tito Puente and His Orchestra) (3:56)
9 - "Varsity Drag Mambo" (Tito Puente and His Orchestra) (2:51)
10 - "Estoy Siempre Junto a Ti" (Tito Puente and His Orchestra) (3:12)
11 - "Agua Limpia Todo" (Tito Puente and His Orchestra) (2:55)
12 - "Saca Tu Mujer" (Tito Puente and His Orchestra) (3:06)

Gravadora: RCA
Produção: -
Duração: 37min50

Tito Puente: arranjo, marimba, percussão, timbau e vibrafone
Vitín Avíles: coro
Ray Barretto, Ray Rodriguez e Julio Collazo: percussão
Santos Colón: vocal, coro e vocal de apoio
Jimmy Frisaura, Bernie Glow, Frank Lo Pinto e Gene Rapett: trompete
Rafael Palau e Jerry Sanfino: saxofone



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