Discos para história: Suede, do Suede (1993)


Estreia de banda britânica quebrou um recorde de vendas que durava uma década

História do disco

"É por isso que esta reunião foi bem-sucedida. Foi muito sobre corrigir os nossos erros. Trata-se de olhar para o que fizemos e tentar melhorar. Você percebe o que é uma posição incrivelmente privilegiada em que você está, e não percebeu que, no início, estar em uma banda torna a vida real e não percebe o quanto ela é preciosa. Você acha que sempre será o mesmo. Você acha que a energia criativa sempre estará lá. Nem sempre é fácil, e há relacionamentos realmente preciosos que me arrependo de ter deixado desmoronar. Você pode fazer isso melhor pela segunda vez", disse Brett Anderson, ao jornal britânico 'The Guardian', em 2016, sobre o retorno do Suede em 2010.

O Suede foi uma das grandes bandas britânicas do início dos anos 1990, mas acabou sendo ofuscada por Oasis e Blur que, no auge das respectivas popularidades, dominavam as paradas e a mídia especializada. Se ambas conseguiram chegar em mais pessoas mundialmente, o grupo acabou virando algo mais regional e muito menor no mundo se comparado com as duas – sendo o Oasis muito maior.

Mais discos dos anos 1990:
Discos para história: The Colour and the Shape, do Foo Fighters (1997)
Discos para história: O Samba Poconé, do Skank (1996)
Discos para história: Achtung Baby, do U2 (1991)
Discos para história: Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi (1994)
Discos para história: American Football, do American Football (1999)
Discos para história: The Miseducation of Lauryn Hill, de Lauryn Hill (1998)

Brigas e o fracasso comercial acabaram com o Suede no início dos anos 2000, mas é fato que o primeiro disco da banda é um dos melhores do britpop dos anos 1990. E tudo começou na University College London, em 1989, quando Brett Anderson e Justine Frischmann se conheceram e logo ficaram amigos – e depois começaram a namorar – pelo mesmo interesse em comum: a música. Ao convidar Mat Osman, amigo de Anderson, para um ensaio, eles perceberam que nenhum deles tinha habilidade o suficiente para ser o guitarrista principal. Acabaram colocando um anúncio na NME procurando alguém, e esse alguém era ninguém menos do que Bernard Butler, então com 19 anos.

Rapidamente eles se entrosaram o suficiente para decidir o nome do grupo. Mas o Suede ainda não tinha um baterista e, depois de algumas tentativas, acabaram chegando ao contato de Simon Gilbert. Ele também não demorou a encontrar o entrosamento necessário para se enturmar com todo mundo. Porém Frischmann rompeu o namoro com Anderson e, pouco tempo depois, começou a sair com Damon Albarn, do Blur – ela acabou fundando a ótima banda Elastica pouco tempo depois.

O rompimento foi ruim no lado sentimental, mas acabou colocando o fogo necessário para o andamento da banda. Com Anderson e Butler cada vez mais próximos musicalmente falando, logo eles começaram a escrever canções juntos. A imprensa especializada começou a prestar mais atenção neles e logo previu-se a nova grande banda local em poucos meses. A disputa entre grandes gravadoras pelo Suede foi intensa, enquanto eles começavam a fazer sucesso no Reino Unido e até emplacaram um top-7 nos Estados Unidos. No fim, a parceria Nude/Sony acabou levando a melhor ao oferecer, além de uma boa quantia em dinheiro, o controle criativo de todo processo nos álbuns – das músicas às capas dos discos.

Veja também:
Discos para história: From Her to Eternity, de Nick Cave and The Bad Seeds (1984)
Discos para história: Mr. Tambourine Man, do Byrds (1965)
Discos para história: Only By The Night, do Kings of Leon (2008)
Discos para história: Ritchie Valens, de Ritchie Valens (1959)
Discos para história: Tim Maia, de Tim Maia (1970)
Discos para história: Raimundos, do Raimundos (1994)

Enquanto isso, a gravação do primeiro álbum acontecia de maneira nada tranquila. Todo dia havia uma discussão entre Anderson e Butler, já que cada um queria uma música de um jeito diferente do outro. Apesar de o trabalho nas composições ter sido bom em termos profissionais, a coisa mudou de figura no estúdio. E seria assim até o rompimento dos dois, um ano depois do lançamento do álbum. Mas tudo deu certo e, custando pouco mais de £ 100 mil, foi gravado entre o fim de 1992 e o início do ano seguinte.

Lançado no dia 28 de março de 1993, o primeiro disco do Suede foi o disco mais vendido no Reino Unido desde Welcome to the Pleasuredome, de 1984, a banda new wave Frankie Goes to Hollywood. Foi um estouro, resumidamente falando. Os historiadores tratam esse disco como o primeiro do britpop como conhecemos hoje. Uma pena que o Suede não tenha conseguido um terço do sucesso das bandas que vieram justamente no ano seguinte.



Resenha de Suede

O teor sexual e juvenis das letras do Suede fica muito claro logo na primeira faixa, a excelente "So Young", momento em que a banda apresenta sua credenciais ao público ao mostrar uma canção muito poderosa logo de cara. Na seguinte, a boa balada "Animal Nitrate", Bernard Butler mostra sua força na guitarra e como ele, injustamente, é esquecido em muitas listas de melhores guitarristas britânicos de todos os tempos.

O refrão de "She's Not Dead" traz a porrada He said "She's not dead"/ "She's gone away, gone away" He said/ And he said "She's not dead"/ "Just go away, go away" He said. Inspirada no suicídio da tia de Brett Anderson, ele conseguiu colocar a inocência de uma criança ao receber uma notícia grave ao mesmo tempo em que ainda tenta entender o acontecimento anos depois. De tom mais animado que a anterior, "Moving" fica no meio do caminho entre o fim dos anos 1980 e o início da década seguinte. Se uma boa parte da música tem uma guitarra muito forte e até remete ao grunge, o refrão é muito pós-punk britânico Joy Division, The Smiths e afins.



Se "Pantomime Horse" é mais uma balada – esse sobre traição em diversos níveis, – "The Drowners" usa diversas metáforas para falar sobre sexo de uma maneira divertidamente adolescente. Caso a balada "Sleeping Pills" não esteja entre as melhores músicas dos anos 1990 no Reino Unido, é motivo para processo e prisão de quem fizer qualquer lista. A construção lírica dessa letra é espetacular, assim como o arranjo.

A linha da anterior é mantida na leve e serena "Breakdown", enquanto "Metal Mickey" – a melhor do álbum – é a mais britânica de todo trabalho ao trazer a influência de Kinks, David Bowie e do pós-punk em algo muito original e cheio de energia juvenil. Também com um ar rock britânico, "Animal Lover" fala sobre uma garota que se comporta como uma predadora de homens – especula-se até hoje que é sobre o término do namoro entre Frischmann e Anderson. E a linda balada no piano "The Next Life" encerra o trabalho de maneira magistral.

O primeiro disco do Suede passa bem pelo teste do tempo. Perto de completar 25 anos do lançamento, o trabalho ainda soa bom aos ouvidos por não ter exagerado na produção. Isso torna essa estreia ainda mais especial, pois sobreviver ao longo dos anos é fundamental para ser duradouro. E é exatamente isso que esse grupo merece.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "So Young"
2 - "Animal Nitrate"
3 - "She's Not Dead"
4 - "Moving"
5 - "Pantomime Horse"
6 - "The Drowners"
7 - "Sleeping Pills"
8 - "Breakdown"
9 - "Metal Mickey"
10 - "Animal Lover"
11 - "The Next Life"

Todas as músicas foram escritas por Brett Anderson

Gravadora: Nude
Produção: Ed Buller
Duração: 45min36s

Brett Anderson: vocais
Bernard Butler: guitarra e piano
Mat Osman: baixo
Simon Gilbert: bateria

Convidados:

Shelley Van Loen e Caroline Barnes: violino
Lynne Baker: viola
John Buller: arranjos de sopro
Trevor Burley: violoncelo
Simon Clarke: saxofone barítono e tenor
Phil: percussão
Ed Buller: sintetizador, arranjo e teclado



Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!