Discos para história: Goodbye Yellow Brick Road, de Elton John (1973)


A edição 133 da seção traz o disco mais vendido e um dos ótimos trabahos da carreira de Elton John

História do disco

O ano de 1973 estava sendo muito bom para Elton John, principalmente depois do lançamento de Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player em janeiro. O single "Crocodile Rock" deu a ele o primeiro lugar no hot 100 da Billboard pela primeira vez. Como ele e Bernie Taupin não paravam de produzir material, eles já tinham músicas suficientes para um novo registro antes mesmo da metade do ano.

"Sequer sabia o que fazer quando fiz Goodbye Yellow Brick Road. Em 1973 eu era muito ingênuo. E a ingenuidade é a coisa mais agradável sobre este disco, provavelmente", contou o pianista em entrevista à revista Rolling Stone USA em 2014, quando uma versão deluxe do álbum foi lançada.
Taupin e John, inspirados pelo então novo disco dos Rolling Stones gravado Jamaica, foram de mala e cuia para Kingston, a capital do país, no início daquele ano. Lá, conseguiram gravar uma boa parte do material usado no disco – o primeiro fez as letras, o segundo escreveu todas as melodias. A produção do disco começou, mas foi atrapalhada por diversos problemas ao longo dos dias seguintes.

Mais discos dos anos 1970:
Discos para história: The Clash, do Clash (1977)
Discos para história: “Heroes”, de David Bowie (1977)
Discos para história: Led Zeppelin III, do Led Zeppelin (1970)
Discos para história: A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben (1974)
Discos para história: Tonight's the Night, de Neil Young (1975)

Primeiro, uma dificuldade com o piano e o sistema de som do estúdio, ambos alugados. Segundo, a cidade estava um caos por conta da luta entre Joe Frazier e George Foreman, dois dos maiores boxeadores de todos os tempos. Antes mesmo de qualquer coisa pudesse minar os planos de vez da gravação, os dois fizeram uma nova mudança: do calor jamaicano para o Château d'Hérouville, na França, o mesmo lugar onde havia sido gravado Honky Château (1972) e Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player (1973).

"Fomos à Jamaica para escrever e gravar em Kingston, lugar em que os Rolling Stones fizeram Goats Head Soup e Cat Stevens tinha feito Foreigner. E nós pensamos em ter uma mudança de clima com relação aos dois últimos discos. Os trabalhadores do estúdio estavam em greve, e nós tivemos que cruzar um piquete para entrar e não foi muito agradável, então alguns dos equipamentos quebraram. Eles diziam que arrumariam no dia seguinte, mas, no Caribe, amanhã pode significar três dias. Nós simplesmente não tínhamos tempo para esperar, então pensamos: 'estamos ficando sem dinheiro, temos de cortar as nossas perdas'. Não tenho lembrança de algum medo por lá. Não houve o fator medo na mudança, foi apenas monetária. Não houve ressentimentos", contou.

Veja também:
Discos para história: Giant Steps, de John Coltrane (1960)
Discos para história: The Miseducation of Lauryn Hill, de Lauryn Hill (1998)
Discos para história: Nebraska, de Bruce Springsteen (1982)
Discos para história: Meteora, do Linkin Park (2003)
Discos para história: Here's Little Richard, de Little Richard (1957)
Discos para história: Construção, de Chico Buarque (1971)

Na comodidade de um lugar conhecido, o material gravado foi considerado acima da média em todos os sentidos pelo produtor Gus Dudgeon. Das 22 músicas finalizadas, haviam 18, contando "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding" como duas em uma, realmente marcantes. De propósito ou não, havia sentido em organizá-las de forma a contar uma história sobre crescimento e deixar o passado para trás usando a transformação de Norma Jean em Marilyn Monroe como inspiração. Assim nasceu a ideia do primeiro disco duplo da carreira de Elton John. "Havia definitivamente o conforto de voltar a um lugar que você realmente estava familiarizado. Por isso, basicamente, montamos um acampamento, e tudo realmente foi muito, muito bem", disse Taupin.

Lançado em 5 de outubro de 1973, Goodbye Yellow Brick Road foi um sucesso entre público e crítica, colocando Elton John em um patamar diferente a partir daquele álbum. O disco chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos e no Reino Unido, tornando-se o trabalho mais popular o pianista até os dias de hoje. Já são mais de 30 milhões de cópias vendidas até o momento.


Resenha de Goodbye Yellow Brick Road

A duas em uma "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding" abre o trabalho de maneira magnifica. Primeiro, uma peça instrumental de ótima qualidade que, de acordo com Elton John, é o tipo de música para ser tocada em um funeral. Depois vem a segunda parte, unida com a primeira por uma nota - daí a ideia de uni-las em uma coisa só. Conseguiram criar uma atmosfera única logo de cara em uma das mais famosas canções do pianista.

Outra pedrada é a bela "Candle in the Wind", outro hit instantâneo. Escrita em homenagem a Marilyn Monroe, morta 11 anos antes do lançamento do disco, foi tocada durante o velório da Princesa Diana em 1997, um dos momentos mais tocantes dos anos 1990. A letra, um exercício sobre vida e morte, tem um belo arranjo e um vocal de apoio que dá maior profundidade ao todo. A seguinte é "Bennie and the Jets", um R&B cheio de sintetizadores, e a letra fala sobre uma mulher andrógina que viveu mais ou menos naquela época. De refrão fácil, foi outro sucesso do álbum.



Imaginando a estrada de tijolos amarelos como o caminho para um mundo de fantasia, "Goodbye Yellow Brick Road" é o adeus disso e o início da vida adulta ou o adeus de um relacionamento ruim. Outra grande composição da dupla John e Taupin. Se "This Song Has No Title" é uma balada simples e correta, "Grey Seal" é o tipo de música que cabe ser chamada de glam rock. Dançante, ela levanta até defunto. O órgão aliado com o sintetizador deu um tom animado para "Jamaica Jerk-Off", certamente inspirada nos dias em que eles ficaram no país, e "I've Seen That Movie Too" trabalha muito bem o uso de metáforas durante os quase seis minutos de uma balada dolorosa para quem foi abandonado recentemente por um amor.

"Sweet Painted Lady" coloca a sexualidade na mesa, "The Ballad of Danny Bailey (1909–34)" conta a história de um gangster com um quê de Robin Hood e "Dirty Little Girl" usa eufemismos para falar sobre uma garota. Três baladas completamente diferentes, três momentos em que Elton John conseguiu virar a chave e mudar de ritmo completamente, e isso não é nada fácil, ainda mais quando a seguinte é a agitada e cheia de guitarras "All the Girls Love Alice".



A ótima "Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n Roll)" é um rockabilly bem legal e serve para animar qualquer pista de dança pelo mundo, enquanto "Saturday Night's Alright for Fighting" foi mais um sucesso. Inspirada nos dias de juventude de Taupin nos bares, a canção traz a guitarra do rock e todo estilo glam de Elton John no piano a todo vapor – o refrão é um estouro e tanto. O surpreendente bom country "Roy Rogers" é em terceira pessoa, com o cantor atuando como observador da situação com um belo arranjo de cordas ao fundo, já "Social Disease", outro country, é mais de raiz, mais clássico no formato para contar uma história. Para encerrar, a balada "Harmony" trata do retorno do amor perdido, um encerramento à altura de desse disco dupla incrível, um dos melhores lançamentos de 1973.



Ficha técnica

Tracklist:

Disco 1:

Lado A

1 - "Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding" (11:09)
2 - "Candle in the Wind" (3:50)
3 - "Bennie and the Jets" (5:23)

Lado B

4 - "Goodbye Yellow Brick Road" (3:13)
5 - "This Song Has No Title" (2:23)
6 - "Grey Seal" (4:00)
7 - "Jamaica Jerk-Off" (3:39)
8 - "I've Seen That Movie Too" (5:59)

Disco 2:

Lado A

9 - "Sweet Painted Lady" (3:54)
10 - "The Ballad of Danny Bailey (1909–34)" (4:23)
11 - "Dirty Little Girl" (5:00)
12 - "All the Girls Love Alice" (5:09)

Lado B

13 - "Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n Roll)" (2:42)
14 - "Saturday Night's Alright for Fighting" (4:57)
15 - "Roy Rogers" (4:07)
16 - "Social Disease" (3:42)
17 - "Harmony" (2:46)

Todas as letras foram compostas por Elton John e Bernie Taupin

Gravadora: MCA (US)/DJM (UK)
Produção: Gus Dudgeon
Duração: 76min20s

Elton John: vocal, piano (1–6, 8–10, 12-17), teclado (5, 6), órgão (3, 7), órgão Farfisa (5, 13), mellotron (5, 6, 11) e piano Leslie (11)
Dee Murray: baixo e vocal de apoio
Davey Johnstone: violão, guitarra, guitarra slide, pedais e banjo
Nigel Olsson: bateria, congas e pandeiro
Ray Cooper: pandeiro

Convidados:

Davey Johnstone e Nigel Olsson: vocal de apoio (1, 2, 4, 10, 13, 17)
Del Newman: arranjos (4, 8–10, 15, 17)
Leroy Gómez: saxofone em "Social Disease"
David Hentschel: sintetizador (1, 12)
Kiki Dee: vocal de apoio "All the Girls Love Alice"



Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!

Esse post foi um oferecimento de Felipe Portes, o primeiro patrão do blog. Contribua, participe do nosso Patreon.