Resenha: Yusuf Islan (Cat Stevens) – Tell ‘em I’m Gone


Cat Stevens fez muito sucesso nos anos 1970, mas muito sucesso. Até que um dia, no Marrocos, ele descobriu que existia “música para Deus”. A partir desse dia em diante, ele se converteu ao islamismo, mudou o nome para Yusuf Islan e abandonou a carreira por quase três décadas.

Mesmo ganhando quase US$ 2 milhões por ano, Islan usou quase toda quantia em trabalhos filantrópicos e foi a campo para cuidar dos mais necessitados. Durante os anos 1990 e início dos anos 2000, ao poucos, ele retornou à carreira com algumas parcerias. Mas em 2006 voltou em definitivo e gravou pela primeira vez com seu novo nome. Em Tell 'Em I'm Gone, seu terceiro trabalho nessa nova fase da vida, ele optou por colocar cinco canções inéditas e cinco covers.

Se é intencional só Yusuf sabe, mas a audição de "I Was Raised In Babylon", primeira faixa, dá a impressão de a influencia religiosa ter ultrapassado a barreira pessoa física e pessoa jurídica. Ele uniu o melhor dos dois mundos, e a influência da música do norte da África é evidente. Isso continua no cover de "Big Boss Man", de Johnny Reed. Essa versão não é tão boa como a original, mas é bem digna.


Parece que ele estava adivinhando: ao gravar "Dying To Live", de Edgar Winter, acabou servindo como homenagem a Johnny Winter, morto recentemente, que tocou guitarra na gravação original. Um trecho da letra é muito significativo (Hey, you know some people say that values are subjective/ But they're just speaking words that someone else has said/ And so they live and fight and kill with no objective/ Sometimes it's hard to tell the living from the dead). Que momento.

A releitura de "You Are My Sunshine" ganhou um ar mais folk-rock e menos feliz do que a versão original. Até que não ficou ruim. Depois de três covers seguidos, vem a sequência de três inéditas. Começando pelo blues de "Editing Floor Blues", passando pela delicada "Cat And The Dog Trap" e encerrando, com peso, em "Gold Digger".

Para quem não conhece, o Procol Harum foi um dos melhores grupos de rock progressivo dos anos 1960. No final da década, eles lançaram um trabalho chamado A Salty Dog, com "The Devil Came From Kansas" nele. Aqui, ela acabou se transformando em um rock setentista muito bom – leia-se: recheado de solo e participação ativa da todos na construção da melodia.

Yusuf preparou sua própria versão da tradicional “Take This Hammer” e a renomeou como "Tell 'Em I'm Gone". Ninguém sabe ao certo a origem dela, então o cantor e guitarrista pôde brincar e dar um tom quase religioso. A belíssima "Doors" encerra o disco com a certeza de que Yusuf Islan está em paz consigo mesmo e com sua música. Não há preço que pague por isso.

Tracklist:

1 - "I Was Raised In Babylon"
2 - "Big Boss Man" (Luther Dixon e Al Smith)
3 - "Dying To Live" (Edgar Winter)
4 - "You Are My Sunshine" (Jimmie Davis e Charles Mitchell)
5 - "Editing Floor Blues"
6 - "Cat And The Dog Trap"
7 - "Gold Digger"
8 - "The Devil Came From Kansas" (Gary Brooker e Keith Reid)
9 - "Tell 'Em I'm Gone" (originalmente conhecida como "Take This Hammer”)
10 - "Doors"

Nota: 4/5



Veja também:
Resenha: …And You Will Know Us By the Trail of Dead – IX
Resenha: Billy Idol – Kings & Queens of the Underground
4 em 1: Memórias de um Caramujo, Mônica Salmaso, Policromo e Submarinos
Resenha: Melvins – Hold It In
Resenha: Mark Lanegan Band – Phantom Radio
Resenha: Thurston Moore – The Best Day