Discos para história: Nowhere, do Ride (1990)


Primeiro álbum do grupo britânico é considerado um dos melhores trabalhos dos anos 1990

História do disco

O shoegaze é algo muito complicado de definir. Ao mesmo tempo em que o som ter ar psicodélico e cheio de efeitos com uma viagem bem própria, grande parte das bandas desse subgênero foram inspiradas pela estética do punk e do pós-punk do fim dos anos 1970 até a metade da década seguinte. Nesse bolo estava o Ride, grupo britânico formado por Andy Bell, Mark Gardener, Laurence "Loz" Colbert e Steve Queralt, criado em meio a uma cena do estilo surgida em Londres no fim dos anos 1980.

Assim como muitas histórias da banda, o Ride nasceu na faculdade. Bell e Gardener eram amigos de escola e matricularam-se no mesmo curso na Oxfordshire School of Art & Design, e lá conheceram Colbert e Queralt. os quatro já haviam tido experiências musicais com bandas, mas juntar todas as influências deles nesse pacote seria algo a ser trabalhado. E foi isso que eles fizeram.

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Isso foi em 1988, quando eles realmente começaram a trabalhar duro. Para começar, eles estavam trabalhando em canções e ensaiando quando foram ouvidos por Dave Newton, chefe de Queralt na loja de discos em que ele trabalhava. Newton organizava noites de shows nessa loja e, quando uma banda faltou, ele perguntou se seu então funcionário não topava trazer seus companheiros para um show. Foi assim que o Ride fez a primeira apresentação. Newton viraria empresário do grupo em pouco tempo.

O Ride estava em alta no underground e gerou interesse de muita gente. Uma dessas pessoas foi Jim Reid, do Jesus and Mary Chain. Ele apresentou o grupo ao empresário Alan McGee, também dono da gravadora Creation, que conseguiu contratá-los para o selo logo depois de vê-los em shows ao longo do verão britânico. Foram três EPs lançados entre janeiro e setembro de 1990 pela gravadora – "Ride", "Play" e "Fall". A expectativa por um disco cheio só crescia entre os fãs e crítica especializada.

“Nós tivemos um conceito [em "Nowhere"], mas não é um álbum conceitual. A banda começou muito rapidamente. Fizemos um acordo e saiu nosso primeiro EP, mas, depois do segundo, ficamos sem músicas inéditas. Nós não queríamos colocar nossos singles no álbum, queríamos começar de novo e fazer um álbum inteiro de uma só vez. Essa foi uma das regras que tínhamos", contou Andy Bell ao site da revista 'TeamRock'.

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O que eles fizeram? Trabalharam em novas músicas. Até que viram a imagem que acabou entrando na capa do disco, trazendo o tal "conceito sem conceito" ao álbum. "Na minha cabeça, sabíamos o que estávamos querendo – esse escapismo, essa coisa do meio do nada – e tínhamos essa imagem para nos basearmos nela. Então fizemos algumas faixas com o tema do oceano e muitos efeitos de água. Foi tudo parte da mesma sessão, um período muito intenso de escrita. Passar do segundo EP para o que se tornou "Nowhere" foi um grande passo na qualidade de composição", completou Bell.

Lançado em 15 de outubro de 1990, "Nowhere" é considerado um dos grandes discos da década e um dos mais influentes do shoegaze. Em um ano da saída de Margaret Thatcher do poder e da libertação de Nelson Mandela, um disco como esse acaba virando símbolo de uma época e de uma geração. E ainda bem que souberam disso desde o primeiro dia.


Resenha de “Nowhere”

"Seagull" começa o disco meio enganando o ouvinte, já que essa pegada mais leve parece não combinar muito com o som do Ride. Mas os segundos vão passando e é possível entender toda construção sonora dessa faixa de abertura e sua letra profunda. Impressiona muito o uso da guitarra e como os efeitos vão preenchendo todo espaço no arranjo, enquanto a força da bateria ajuda a completar toda estrutura. E o baixo? Consistente para acompanhar tudo.

A faixa seguinte mantém todos esses elementos, mas é um pouco mais agitada. "Kaleidoscope" surge para contar uma triste história em que é possível pescar um pouco da influência do punk – na velocidade – em perder a essência da banda, já "In a Different Place" traz toda atmosfera do pós-punk britânico dos anos 1980 com o estilo inconfundível da banda – uma mistura certeira, diga-se. E é incrível como eles conseguem criar algo tão complexo na melodia para tratar de assuntos tão simples.



A primeira parte do disco chega ao fim com a sensacional "Polar Bear", uma das melhores canções da carreira do Ride em que podemos ouvir toda força criativa da banda em pouco menos de cinco minutos. E como quase diria o slogan daquela rádio: depois de uma música boa, vem uma ótima. "Dreams Burn Down" é muito poderosa e com doses cavalares de distorção, melancolia, uma guitarra muito grudenta e uma bateria com um som denso.

Em "Decay", a banda apela para um refrão grudento pela primeira vez em uma faixa de duração relativamente curta se comparada com as anteriores. E "Paralysed", ao fundo, tem o som de uma passeata que estava acontecendo perto do estúdio – tudo para ajudar na construção do clima da faixa. Mas o melhor vem no final. Uma das melhores canções dos anos 1990, "Vapour Trail" é incrível do início ao fim, pois é o tipo de faixa que gruda na sua cabeça do início ao fim. Segundo Andy Bell, a estrutura da melodia usada na guitarra foi composta de maneira despretensiosa em um quarto de hotel.

O Ride ainda lançou mais três discos antes de entrar em uma pausa entre 1996 e 2017, quando lançou "Weather Diaries" (clique aqui e leia a resenha). Mas nenhum deles encantou tanto, e ainda encanta, como "Nowhere".



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Seagull" (6:09)
2 - "Kaleidoscope" (3:01)
3 - "In a Different Place" (5:29)
4 - "Polar Bear" (4:45)
5 - "Dreams Burn Down" (6:04)
6 - "Decay" (Mark Gardener) (3:35)
7 - "Paralysed" (5:43)
8 - "Vapour Trail" (4:18)

Todas as músicas foram compostas pelo Ride, exceto a marcada

Gravadora: Creation
Produção: Marc Waterman
Duração: 39 minutos

Mark Gardener: vocais e guitarra
Andy Bell: vocais, guitarra, piano e gaita
Steve Queralt: baixo
Laurence Colbert: bateria



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