Discos para história: Either/Or, de Elliott Smith (1997)


Terceiro trabalho de estúdio popularizou o cantor e suas canções

História do disco

Entre 1995 e 1996, Elliott Smith começou a trabalhar nas faixas que viriam a fazer parte de Either/Or, o terceiro e aclamado disco de estúdio do cantor. Duas décadas após o lançamento do disco, o cantor, morto em 2003, aos 34 anos, ainda segue admirado por críticos e fãs da sua obra. Na época do início dos trabalhos, ele ainda estava terminando o terceiro e último álbum da Mic City Sons, antiga banda, e promovendo o segundo registro de sua breve discografia.

(Desta vez, vou tentar algo diferente por aqui. Ao invés de um texto sobre o disco, coloquei aspas de entrevistas da época e do relançamento do trabalho neste ano para contar a história do álbum.)

"Eu não estou interessado em fazer um 'disco Elliott Smith' sempre. Eu ficaria muito feliz se pudesse sempre escrever uma canção universal e acessível como 'I Second That Emotion'. É um grande jogo, no fim, que é tentar fazer algo muito popular e ainda soar meu", disse o cantor em entrevista ao jornal britânico 'The Guardian', em 1999.

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"As gravações dos primeiros discos solos foram muito limitadas, e não havia muita escolha sobre o equipamento. Eu tive que escolher entre dois microfones diferentes [por exemplo]. Em Either/Or, a maioria do trabalho foi feito na minha casa ou na casa de Joanna [Bolme, guitarrista que participou do álbum]. Tudo soou diferente", contou Smith à revista 'Tape Op', em dezembro de 1996, em meio ao processo de mixagem do álbum.

"Se você tiver tempo para enxergar qualquer um, e descobrir qual é a história deles, dificilmente não terá algo interessante. Alguém poderia viver por dez minutos e ainda teria muito para contar. Você pode sentir e observar muitas coisas. As pessoas são realmente caleidoscópicas. Não há assuntos que não possam ser colocados em uma música, então eu tento escrever sobre tudo", falou Smith à 'NME', em 1998.


"Muitas das canções do disco [Either/Or] tiveram a ver com quão rápido as pessoas invadem seu espaço apenas porque você não é igual a elas. Não acho que ter medo de outra pessoa é suficiente para assumir a vida de alguém assim", contou o cantor ao 'Guardian'.

"Todo mundo tem problemas. Mas não faço música porque sou uma pessoa de alma torturada, faço música porque gosto", ele ri. "Porque é realmente bom. Não sou mais triste do que qualquer outra pessoa que conheço. Também acho que nem tudo é verdade: existem coisas nas minhas músicas que são tristes, mas não são o ponto central delas. Tudo depende de seu ponto de vista: o que pode fazer você triste é o que pode fazer outra pessoa feliz. Há milhões de maneiras de sentir as coisas", contou o instrumentista à 'NME'.

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"O nosso processo criativo em Either/Or foi o início de algo que continuaria, e se aprofundou, nos próximos projetos. Naquela época, achávamos que gravávamos para nossa própria diversão... Apenas nós e as árvores atrás do celeiro", disse o produtor Tom Rothrock à 'Tape Op', na época das gravações do registro.

"Elliott estava sempre seguindo em frente no trabalho de composição. Era a razão dele viver. A versão deluxe de Either/Or teria acontecido em algum momento da carreira se ele ainda estivesse conosco. Mesmo quando estava trabalhando em algo novo, ele sempre olhava para suas antigas composições. Ele estava sempre reciclando ideias. Ele não era preso ao próprio trabalho", conta Larry Crane, que participou das gravações à época, fundador da revista 'Tape Op' e amigo de Elliott Smith, além de arquivista da carreira do cantor, em entrevista ao site da estação pública de rádio 'NPR'.

Resenha de Either/Or

A faixa que abre o disco, "Speed Trials", tem esse efeito estranho por conta do estilo de gravação. Gravada no aparelho de fita cassete na casa da guitarrista Joanna Bolme, que comportava apenas quatro canais, esse ruído inicial acabou ficando e dando um charme especial ao material. Como não poderia deixar de ser, é difícil não ficar encantado com ela. A seguinte, "Alameda", é acústica e traz um perfil de alguém que passa sempre pelo mesmo lugar todos os dias e chama atenção, mas não corresponde aos chamados.

"Ballad of Big Nothing", não de forma clara, fala sobre como um homem pode acabar na sarjeta quando se afunda nas drogas. E Smith teve problemas quando se viciou – seria um recado a ele próprio? – em certa época da vida. Mas é na curta "Between the Bars" que Smith coloca suas experiências pessoais com álcool e drogas em uma das letras mais pesadas de sua discografia (Drink up with me now and forget all about/ The pressure of days, do what I say/ And I'll make you okay and drive them away/ The images stuck in your head).

A melodia de "Pictures of Me" é bem animada, ao melhor estilo Zombies, mas não se enganem: a letra é outra pedrada do compositor. A melancolia volta com tudo em "No Name No. 5", faixa em que o instrumental é fundamental para acompanhar a triste letra. Já em "Rose Parade", o compositor usou o nome de uma parada real para falar sobre como as pessoas usam máscaras para disfarçar quem elas realmente são.



Outra vez usando uma história, agora envolvendo os tradicionais bonecos italianos Punch e Judy, Elliott Smith entrega em "Punch and Judy" a sobre as pessoas podem tratar mal as outras, mas, ainda assim, terem uma segunda oportunidade. E é incrível como o arranjo melancólico encaixa perfeitamente nesse tipo de história – não há raiva, apenas melancolia. E "Angeles" é como Los Angeles pode ser cruel com um novato – Smith, no caso – que acaba de chegar à cidade após assinar o primeiro contrato com uma grande gravadora.

"Cupid's Trick" é recheada de guitarras e tem um peso melódico maior do que o encontrado em boa parte do disco. Sabe a raiva que não tinha anteriormente? Então, foi colocada aqui. A próxima, "2:45 AM", mostra como o estilo de composição de Smith não é nada complicado de acompanhar – quando ele quer fazer algo simples, claro. "Say Yes" encerra o disco com um recado: não dependa de ninguém para amar, e ame a si mesmo.

Elliott Smith é o caso clássico de compositor que poderia ter feito mais na carreira se tivesse durado o suficiente para isso. Morto no início dos anos 2000, ele deixou um grande legado em uma discografia muito curta. E isso mostra como ele era especial.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Speed Trials" (3:01)
2 - "Alameda" (3:43)
3 - "Ballad of Big Nothing" (2:48)
4 - "Between the Bars" (2:21)
5 - "Pictures of Me" (3:46)
6 - "No Name No. 5" (3:43)
7 - "Rose Parade" (3:28)
8 - "Punch and Judy" (2:25)
9 - "Angeles" (2:56)
10 - "Cupid's Trick" (3:04)
11 - "2:45 AM" (3:18)
12 - "Say Yes" (2:19)

Gravadora: Kill Rock Stars
Produção: Elliott Smith, Tom Rothrock e Rob Schnapf
Duração: 36min52s

Elliott Smith: instrumentos diversos

Convidados:

Joanna Bolme, Rob Schnapf e Tom Rothrock: instrumentos diversos



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