Discos para história: Fever to Tell, do Yeah Yeah Yeahs (2003)


Estreia da banda é uma das melhores do início da década passada

História do disco

“Os primeiros dias de Yeah Yeah Yeahs foram um período autodestrutivo da minha vida. Fiz algumas coisas ridículas e masoquistas no palco, como rolar em vidro quebrado e ficar bêbada. Mas também era altamente catártico. Estava subconscientemente lidando com a atenção e o hype, para os quais não estava preparada. Quando caí de cabeça fora do palco, percebi que tinha que repensar tudo”, disse a vocalista Karen O, em entrevista ao jornal britânico ‘The Guardian’, no início deste ano.

Há algo transformador com o passar dos anos, como ver uma mulher de 39 anos analisando o período que tinha apenas 24 anos. E fazer parte de uma banda influente em vários aspectos como o Yeah Yeah Yeahs está dentro desse pacote. A banda surgiu naquela história batida de uma amizade na faculdade crescer e virar algo maior. Karen O e o baterista Brian Chase se conheceram no Conservatório Oberlin e viraram amigos, mas se separaram quando a cantora mudou-se para Nova York. Lá, conheceu o guitarrista Nick Zinner e formaram um dueto, mas eles queriam ampliar o leque de sonoridades e formaram uma banda – o primeiro baterista acabou saindo poucos dias depois. Então Karen O lembrou-se do amigo baterista e o convidou para formar o Yeah Yeah Yeahs para formação que dura até hoje.

Mais discos dos anos 2000:
Discos para história: Parachutes, do Coldplay (2000)
Discos para história: In Rainbows, do Radiohead (2007)
Discos para história: Cê, de Caetano Veloso (2006)
Discos para história: Only By The Night, do Kings of Leon (2008)
Discos para história: Vagarosa, de Céu (2009)
Discos para história: Sound of Silver, do LCD Soundsystem (2007)


Bandas como The Strokes, TV On The Radio, White Stripes, LCD Soundsystem e Interpol também estavam crescendo, porém o Yeah Yeah Yeahs tinha um diferencial: a performática Karen O. Em um aquecimento antes do disco cheio, o grupo lançou dois EPs: “Yeah Yeah Yeahs” (2001) e “Machine” (2002). O primeiro foi um sucesso enorme entre os críticos, enquanto o segundo foi um fracasso monumental. Então o que esperar dessa banda?

Como não poderia deixar de ser, muitos problemas aconteceram. Mas, diferente de outras bandas iniciantes, eles vieram antes mesmo do início das gravações do primeiro disco. Ao chamar atenção do público e da crítica, começou uma disputa intensa pelo passe do trio. Isso levou a um esgotamento mental por parte de todos que gerou marcas difíceis de superar – Karen O, por exemplo, mantém uma vida discreta e pouco afeita a entrevistas fora dos compromissos de divulgação de seus trabalhos. Eles quase assinaram com a gravadora Touch and Go, responsável pelo lançamento do último EP, porém o acerto não aconteceu por um detalhe: controle criativo. O trio queria liberdade para lançar o disco que quisesse.

Sem uma gravadora, eles colocaram a mão na massa e foram fazendo até chegar uma ótima proposta da Interscope. Relutantes, foram convencidos por Lee Ranaldo, ex-guitarrista do Sonic Youth, a assinar com a grande gravadora. E acabou sendo do jeito que eles queriam: uma ótima quantia em dinheiro e controle criativo, com direito a assinar a produção do trabalho – praticamente pronto, diga-se.

Veja também:
Discos para história: Tom Petty and the Heartbreakers, de Tom Petty and the Heartbreakers (1976)
Discos para história: The "Chirping" Crickets, dos Crickets (1957)
Discos para história: Psicoacústica, do Ira! (1988)
Discos para história: Carnaval na Obra, do Mundo Livre S/A (1998)
Discos para história: O Inimitável, de Roberto Carlos (1968)
Discos para história: Artista Igual Pedreiro, do Macaco Bong (2008)


"Queríamos estar em uma grande gravadora e ser mainstream", disse Karen O, ao jornal ‘The New York Times’, em maio de 2003. "Queríamos ser ouvidos. Eu não me preocupo em perder crédito no mundo indie. Lee Ranaldo, do Sonic Youth, nos disse para assinar com uma major. Ele tem mais credibilidade do que qualquer um”, completou.

"Fever to Tell", primeiro disco de estúdio do grupo, foi um estouro na cena musical nova-iorquina. Era um frescor ouvir um grupo tão cheio de energia ao misturar punk, new wave, experimentalismo e arte. Era como unir Stooges, Blondie e Sonic Youth em uma coisa só. Ao completar 15 anos em 29 de abril deste ano, a estreia da banda ainda soa fresca aos ouvidos ao trazer aquela impressão de juventude invencível misturada com toda angústia de viver em uma cidade cruel como Nova York.


Resenha de "Fever to Tell"

"Rich" abre o disco e tem um dos riffs mais famosos daquela geração, um riff que marcou pessoas que hoje passam um pouco ou muito dos 30 anos e puderam viver a intensidade daquele momento. Ao ouvir a faixa de abertura, automaticamente aparece a imagem de Karen O dançando na cabeça. E a seguinte, "Date with the Night", também coloca o pessoal para dançar ao apelar para uma guitarra bem pesada do início ao fim.

Outro ponto muito positivo do trabalho é a curta duração de algumas faixas, indo em um lado muito mais cru – punk, Stooges, coisas assim. As potentes "Man" e "Tick" são um bom exemplo, sendo a segunda ainda mais próxima dessa linha de trabalho. E esse pacote também traz a sexualidade à discussão, que começa com "Black Tongue" e seu recado bem direto.



"Pin" coloca o “jeitão” punk na roda mais uma vez ao ter exatos dois minutos colocados em uma explosão musical, coisa que muda drasticamente de figura em "Cold Light" – essa com clara influência de Kim Gordon, ex-baixista do Sonic Youth. Agitada no início e experimental no final, "No No No" fala de alguém que está enlouquecendo e não sabe o motivo, e a canção traz toda essa angústia do personagem principal nesse caminho sem volta.

Caminhando para o final, aparece "Maps", uma bonita faixa sobre o então relacionamento de Karen O com Angus Andrew, vocalista do Liars. Ao melhor estilo Yeah Yeah Yeahs, é uma balada muito bonita e bem sincera. E "Y Control" retoma o lado mais melancólico do álbum (Oh, so all my lovin' goes/ Under the fog, fog, fog/ And I will leave them all/ Well, I'm just a poor little baby/ 'Cause, well, I believe them all). Por fim, a dupla "Modern Romance" e “Poor Song” são antagonistas nos sentimentos – uma ótima reflexão sobre o amor.

A estreia em estúdio com um disco cheio do Yeah Yeah Yeahs é uma das melhores do início da década passada. Ao tratar de diversos assuntos com a urgência e pouca vivência, o disco traz esses temas universais com um frescor juvenil que segue atual ainda hoje.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Rich" (3:36)
2 - "Date with the Night" (2:35)
3 - "Man" (1:49)
4 - "Tick" (1:49)
5 - "Black Tongue" (2:59)
6 - "Pin" (2:00)
7 - "Cold Light" (2:16)
8 - "No No No" (5:14)
9 - "Maps" (3:39)
10 - "Y Control" (4:00)
11 - "Modern Romance" (7:28)

Todas as faixas foram compostas pelo Yeah Yeah Yeahs.

Gravadora: Interscope
Produção: David Andrew Sitek e Yeah Yeah Yeahs
Duração: 37min25s

Brian Chase: bateria
Karen O: vocais
Nick Zinner: bateria eletrônica e guitarra



Me siga no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!