Resenha: Tim Bernardes – Recomeçar


Vocalista da banda O Terno disponibilizou recentemente a estreia solo

Quem ouve O Terno já tinha uma ideia da capacidade de Tim Bernardes como compositor, principalmente nos encerramentos do disco homônimo (2013) e em Melhor do que Parece (2016). São faixas das mais bonitas e mostravam um caminho no futuro da banda. Mas ele foi um pouco mais além ao disponibilizar nos serviços de streaming Recomeçar, sua estreia solo que vem chamando a atenção de público e crítica.

É difícil não ficar admirado com os arranjos da instrumental "Abertura (Recomeçar)", faixa que abre o trabalho. Uma técnica que serve aqui é colar uma música na outra, dando a sensação de o registro ser uma peça única – e funciona bem. Emendar a abertura com "Talvez" é uma boa sacada, ainda mais com o melancólico e o reflexivo andando de mãos dadas o tempo inteiro no disco, como a acústica "Quis Mudar" – a indecisão entre ficar ou ir reflete bem como é ser humano viver esse tipo de coisa.

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"Tanto Faz" segue a linha da anterior, mas Bernardes usa o violão para fazer aparições pontuais. O foco está na voz, no que ele diz e na mensagem que deseja passar ao ouvinte ("Tanto faz/ Quem saiu, quem entrou/ Tanto faz/ De que lado ficou/ Tanto faz/ Eu vou sempre perder"). O arranjo (sim, ele mais uma vez) toma conta da curta "Ela Não Vai Mais Voltar", enquanto "Pouco a Pouco" é pura melancolica e sofrimento. Já "Não" é aquele caso de casal que se separa e, por mais que um tente seguir como amigo, o outro não consegue por ainda gostar muito da amada.

O teor meio Mutantes de "Era o Fim" lembra das referências usadas n'O Terno. Bem diferente de "Ela", essa um relato muito triste sobre uma pessoa que mudou tanto que nem percebeu. Se "Incalculável" parece com muitas das outras faixas, "Calma" tem uma das melhores letras de 2017 e é candidata a melhor do ano ("Calma, calma, meu amor/ Olha o que eu fiz/ Vai tranquila/ Hoje eu guardei/ Tudo de bom entre nós/ Pra gente não se esquecer").

"As Histórias do Cinema" é uma boa para mostrar em que é possível traçar bons paralelos entre a arte e a vida real – no caso, a exibição de um filme. Por fim, o disco termina com "Recomeçar", quando o personagem principal dessa história admite a derrota e quer recomeçar usando as lições aprendidas como ponto de partida para uma nova vida.

Os elogios feitos ao trabalho não são gratuitos. É um disco muito. O defeito, que não atrapalha em nada, é que algumas faixas são repetitivas em arranjos e temáticas. Essas duas coisas podem cansar um ouvinte menos disposto. De resto, os arranjos do álbum são muito acima da média, e Tim Bernardes mostra um talento imenso como compositor.

Tracklist:

1 - "Abertura (Recomeçar)"
2 - "Talvez"
3 - "Quis Mudar"
4 - "Tanto Faz"
5 - "Ela Não Vai Mais Voltar"
6 - "Pouco a Pouco"
7 - "Não"
8 - "Era o Fim"
9 - "Ela"
10 - "Incalculável"
11 - "Calma"
12 - "As Histórias do Cinema"
13 - "Recomeçar"

Nota: 4/5



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