Discos para história: Sound of Silver, do LCD Soundsystem (2007)


Grupo comemora dez anos do lançamento do disco no dia 12 deste mês

História do disco

Dez anos atrás parece muito tempo – e é mesmo. Nem parece que o LCD Soundsystem se consolidou como um dos nomes da cena indie eletrônica do período no segundo álbum, o hoje cultuado Sound of Silver. Até então, James Murphy era alguém que via o segundo álbum como uma obrigação de ser tão bom quanto o primeiro, momento em que eles ficaram conhecidos além do habitat natural deles. Porque, muito mais do que a pressão do público por outro trabalho de alto nível, era a própria pressão de Murphy em conseguir melhorar o repertório.

"Estou ciente de que este é o nosso segundo álbum, e eu acho que é melhor do que o primeiro. Em 20 anos, se alguém se preocupar em avaliá-lo, então, acho que vai ser visto como melhor. Mas tenho que competir com o primeiro. Eu tenho a noção de que será ouvido por gente que gosta do primeiro disco do LCD Soundsystem. Para muitas pessoas foi um grande momento ouvi-lo. Com esse tipo de expectativa, este registro é obrigado a ser [pelo menos] o segundo melhor", disse Murphy, em 2007, em entrevista ao site 'Fact Mag'.

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A banda estava em uma crescente muito boa, fazendo sucesso e tudo mais. Mas o líder do grupo ainda estava bem inseguro no trabalho, principalmente por ser muito diferente do primeiro. Se na estreia ele já tinha material que tocava ao vivo, para o novo registro ele tinha um total de zero músicas prontas.

"Foi muito mais difícil fazer Sound Of Silver do que This Is Happening. Para o primeiro álbum, já tinha um monte de músicas que estávamos tocando ao vivo. Quando fui fazer Sound Of Silver, eu não tinha nada. Entrei no estúdio e fiquei deitado debaixo do piano por três dias com um casaco sobre a cabeça, insistindo que ninguém falasse comigo. Eu estava tão chateado e me perguntava 'por que estou fazendo isso? Eu odeio isso. Por que eu escolhi fazer isso?'", explicou ele ao site 'The Quietus', em 2010.

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"Até o momento este disco ficou pronto, eu tive dias difíceis. Para mim, é natural tornar as coisas deprimentes porque abre todas as inseguranças que você tem. Mas eu sei que, se eu apenas me acalmar e voltar ao trabalho, isso é uma mensagem para me fazer passar pelos problemas. Basta voltar aos trilhos e tudo ficará bem. Então eu me sinto melhor agora sobre isso", completou.

Gravado ao longo de 2006, o disco foi lançado em 12 de março de 2007 e acabou sendo muito bem recebido por público e crítica ao longo daquele ano, e mudou o patamar do LCD Sounsystem até o fim das atividades do grupo, que retornou no último ano.



Resenha de Sound of Silver

Uma característica do LCD Soundsystem, e da música eletrônica indie quase em geral, é a longa duração das faixas. Ao abrir com "Get Innocuous!" e seus mais de sete minutos, James Murphy e sua trupe deixam claramente um recado: dancem até os pés doerem. As longas partes sem vocal mostram isso, além da batida insistente e da repetição de uma parte da letra. A seguinte, "Time to Get Away", também é bem animada e ajuda a segurar o ritmo do início.

"North American Scum" é uma das mais divertidas da discografia da banda porque, além de manter a batida funkeada e ter um estilo Talking Heads mais acelerado, tem um refrão delicioso para cantar (ou gritar) junto. A virada de ânimo vem em "Someone Great", mais melancólica e cheia de sentimentalismo. Faixa foi composta para homenagear o terapeuta de Murphy, morto em 2006. E o início (I wish that we could talk about it/ But there, that's the problem/ With someone new I could have started/ Too late for beginnings/ The little things that made me nervous/ Are gone in a moment/ I miss the way we used to argue/ Locked, in your basement) é para arrebentar o coração.



Muito do krautrock está presente em "All My Friends", em que ninguém tem medo de ser feliz ao repetir a batida algumas vezes – muitas, na verdade. E aqui, depois do momento triste, há uma levantada de ânimo, como se tudo fosse ficar bem depois da tragédia. Outro sucesso do trabalho, "Us v Them" é aquele que você decora sem ter a intenção de fazer isso – outra com um refrão ótimo para cantar junto, esse de tom mais épico.

Talvez a mais punk da discografia da banda, "Watch the Tapes" é a união de guitarra, bateria, um baixo bem alto e muita, muita mesmo, empolgação. E a repetitiva "Sound of Silver" acaba ficando dentro do contexto do álbum, o que a deixa como uma ponte para o encerramento. E que encerramento. "New York, I Love You but You're Bringing Me Down" é o símbolo do amor e tristeza por um lugar – aqui é Nova York, mas pode ser qualquer um. Nenhum lugar do mundo é perfeito e, mesmo o amando muito, sabemos dos inúmeros problemas. É a melhor música do disco, um catalizador perfeito dos sentimentos das pessoas e um encerramento gigante.

Das banda do início dos anos 2000, o LCD Soundsystem encantou uma geração. Não dá para negar a influência do Talking Heads e do krautrock no trabalho deles, e isso é ponto pacifico. Mas trazer a música eletrônica indie a esse patamar, de sucesso reconhecimento e de comoção pelo fim das atividades em 2011, mostra como James Murphy conseguiu fazer um ótimo trabalho.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Get Innocuous!" (Murphy, Tyler Pope) (7:11)
2 - "Time to Get Away" (Murphy, Pat Mahoney, Pope) (4:11)
3 - "North American Scum" (5:25)
4 - "Someone Great" (6:25)
5 - "All My Friends" (Murphy, Mahoney, Pope) (7:37)
6 - "Us v Them" (Murphy, Mahoney, Pope) (8:29)
7 - "Watch the Tapes" (3:55)
8 - "Sound of Silver" (7:07)
9 - "New York, I Love You but You're Bringing Me Down" (Murphy, Mahoney, Pope) (5:35)

Todas as músicas foram compostas por James Murphy, exceto as marcadas

Gravadora: DFA/ Capitol/ EMI
Produção: The DFA
Duração: 56min

James Murphy: baixo, teclado, palmas, clavinete, bateria, glockenspiel, guitarra, órgão, percussão, piano, programação, sintetizadores e vocais
Pat Mahoney: bateria, percussão, vocais e palmas
Tyler Pope: baixo, guitarra e palmas
Nancy Whang: vocais

Convidados:

Eric Broucek: palmas e vocais
Marcus Lambkin: palmas
Justin Chearno: guitarra
David Gold: viola
Amy Kimball: violino
Lorenza Ponce: violino
Jane Scarpantoni: violoncelo
Morgan Wiley: piano



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