Discos para história: American Football, do American Football (1999)


Nova edição fala do cultuado primeiro disco da banda, com sucessor previsto para este ano

História do disco

Uma banda que lança um disco, geralmente, tem um público fiel para fazer o projeto acontecer. Não foi diferente com o American Football, que lançou seu primeiro disco em 28 de setembro de 1999. Mas, um ano depois do lançamento, a banda simplesmente acabou e todos voltaram para suas vidas normais.

O problema, talvez não um de verdade, é que essa estreia ficou marcada na cabeça de boa parte das pessoas. O álbum virou cult, desses difíceis de encontrar facilmente nas lojas - até 2014, quando ganhou uma edição deluxe e comemorativa de 15 anos. Ficou na cabeça como seria uma reunião de Steve Holmes, Steve Lamos e Mike Kinsella mais uma vez – isso acontecerá neste ano, com o lançamento do segundo disco da banda.

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"Estamos fazendo essa turnê, principalmente, usando o material antigo. Entendemos que as pessoas estão comprando ingressos para essas músicas. Estamos apenas fazendo o melhor que podemos. Quanto a ter material novo, eu não tenho certeza. Acho que vamos fazer esses shows e, em seguida, descobrir o quão realista é para se reunir com frequência suficiente para criar algo novo", disse Kinsella ao 'The Wall Street Journal' em 2014, na época do anúncio do retorno das atividades.

O American Football é a típica banda de amigos da escola, sendo Mike Kinsella e Steve Holmes amigos desde então. Entre fundar o também cultuado Cap'n Jazz, Kinsella encontrou Steve Lamos, mais David Johnson e Allen Johnson, para tocar no The One Up Downstairs, grupo que acabou as atividades na semana da prensagem do primeiro disco. Depois disso, Holmes, Kinsella e Lamos começaram a trabalhar juntos. Estava criado o American Football, nascido para ser um projeto paralelo deles enquanto reorganizavam suas vidas. Como não há controle sobre as coisas, a banda foi muito mais além.

Com influencias de The Cure, The Smiths e do gênero AOR, eles começaram a escrever canções. No final dos anos 1990, um hardcore mais melódico estava fazendo muito sucesso. E eles acabaram caindo no grupo que viria a ser conhecido como emocore – ou simplesmente emo. Gravado em quatro dias, a estreia em estúdio era formada por canções finalizadas no estúdio. Até pela falta de gente, como um baixista, eles optaram por dobrar o som da guitarra, aumentando a força das faixas. Ter um trompete também ajudou a criar todo um clima especial no álbum.

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Disponibilizado, o disco fez muito sucesso nas estações universitárias. Mas eles resolveram encerrar as atividades. O motivo? Moravam em cidades diferentes e os três pretendiam completar os cursos universitários que estavam inscritos. Não havia meta, mas eles acabaram dobrando a meta. Kinsella e Holmes continuaram na música, mas em projetos separados por um tempo, depois se uniram novamente; Holmes virou professor universitário.

Em 2014, eles retomaram as atividades. Na última terça-feira (24), anunciaram um novo disco de inéditas. Tudo isso mostra como está em alta o retorno de bandas cult. E, pelo barulho dos fãs e qualidade do LP, o primeiro disco do American Football merece ser reverenciado.


Resenha de American Football (1999)

"Never Meant" começa suave, mostrando todo potencial melódico do trio logo de cara. A letra, bobinha, simples e bem adolescente, mostra o espírito deles à época das gravações. É um início muito bom, principalmente por ser acompanhado por "The Summer Ends". O início melancólico, complementado pelo saxofone, dá um tom muito sereno à faixa. E a bonita letra, uma despedida, é a cereja do bolo.

"Honestly?" poderia ser tocada pelo Nada Surf em qualquer momento da carreira da banda – do andamento até a letra, tudo tem uma sonoridade parecida com a da banda –, ainda é melodicamente muito rica, cheia de idas e vindas. Só esse pedaço daria uma ótima canção instrumental, e o registro só ganha quando surge a belíssima "For Sure". Também de início com o sax aparecendo para ser o complemento ideal, o vocal consegue cativar o ouvinte em suas primeiras palavras. E assim vai até o final.



A instrumental "You Know I Should Be Leaving Soon" faz a ponte entre a primeira e a segunda metada do álbum, que começa com "But the Regrets Are Killing Me", quando tudo que o retratado é motivo de reflexão e arrependimento, e segue na "I'll See You When We're Both Not So Emotional" - essa mais direta sobre como o ser humano funciona em certos momentos da vida.

Em uma mostra de uma canção perfeita, ótima do início ao fim, "Stay Home" é uma aula de como equilibrar a melodia, os vocais e a letra, e como essa junção na mão de gente com boas ideias para pegar palavras e instrumentos simples consegue fazer uma faixa emocionante e certeira. O auge do registro está bem aqui. A curta e tocante "The One with the Wurlitzer" amarra todo trabalho feito até aqui e fecha com chave de ouro.

Dá para entender o motivo de cultuarem esse disco. Porque as apresentações desse trabalho na íntegra têm cara de lindas, tocantes e cheias de emoção, que lembram os tempos da adolescência, de uma vida completamente diferente de hoje. É até possível falar que, se tivesse tido tempo, o American Football seria o retrato de uma geração. Esse disco é, certamente.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Never Meant"
2 - "The Summer Ends"
3 - "Honestly?"
4 - "For Sure"
5 - "You Know I Should Be Leaving Soon"
6 - "But the Regrets Are Killing Me"
7 - "I'll See You When We're Both Not So Emotional"
8 - "Stay Home"
9 - "The One with the Wurlitzer"

Gravadora: Polyvinyl
Produção: American Football, Brendan Gamble
Duração: 40min52s

Steve Holmes: guitarra, violão e Wurlitzer
Steve Lamos: bateria, percussão e trompete
Mike Kinsella: vocais, guitarra, violão e baixo



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