Discos para história: Daydream Nation, do Sonic Youth (1988)


A edição 137 da seção fala sobre um clássico dos anos 1980, que marcou a geração seguinte de músicos de sucesso

História do disco

"Daydream Nation foi o nosso último registro em um selo independente, Goo foi o primeiro registro em um grande, por isso foi uma transição em várias maneiras. Daydream... nos colocou no topo e deu reconhecimento. Como não seria ótimo fazer um registro que muita gente gostou e ouviu? Nós ficamos satisfeitos quando lançamentos EVOL, Sister e Daydream..., e nesse ponto a questão é: para onde você vai depois?", disse Lee Ranaldo, em 2007, em entrevista ao site da 'Pitchfork'.

É bem por aí mesmo. Onde uma banda como o Sonic Youth poderia ir depois de um disco como Daydream Nation? Mas antes de o disco duplo ser lançado e bem antes de entrarem em uma grande gravadora, a banda crescia muito no circuito independente com seus discos anteriores. EVOL e Sister, de 1986 e 1987, respectivamente, viram clássicos muito rapidamente. E a fama deles só aumentava, mesmo não sendo vendedores de milhões de cópias.

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Sim, o Sonic Youth nunca foi uma banda que vendeu absurdamente bem, sequer chegou ao topo das paradas, mas sempre entregou aquilo que os fãs, e eles mesmos, gostam de ouvir no palco. Para o próximo disco, o então duplo Daydream Nation, o guitarrista e compositor Thurston Moore mudaria o método de composição pela primeira vez: ao invés de vir com ideias de letras, ele veio com melodias e mudanças bruscas de notas, algumas com duração de até 30 minutos. Isso deu bastante trabalho no estúdio, porque não é fácil mudar um sistema, tampouco uma mudança tão radical.

Moore conseguiu compor muito material, por isso veio a ideia de um álbum duplo. O engenheiro de som da vez, já que o grupo costumava produzir os discos, seria Nick Sansano. Mas havia um problema: Sansano não tinha a menor ideia de quem eram eles mais profundamente - só havia escutado as canções bem por cima – e só havia trabalhado com músicos de hip-hop, como o aclamado Public Enemy. O que ele fez? Pegou o disco e tocou para os quatro, que adoraram o trabalho dele. E foi assim que ele conseguiu o emprego.

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Morando perto do estúdio, Thurston Moore, Kim Gordon e Lee Ranaldo não tinham problema em ficar até mais tarde trabalhando, mas isso, e o fato de ter muito material, acabou gerando atraso nas gravações. Com o prazo da mixagem final chegando, eles tiveram que apressar as coisas um pouco, deixando Moore irritado com o pouco tempo para regravar algumas partes do vocal. Ao custo de US$ 30 mil, acabou estourando um pouco o orçamento da gravadora.

Daydream Nation foi lançado em 18 de outubro de 1988 nos Estados Unidos e não conseguiu chegar ao top-100 das paradas, diferente do Reino Unido (99º lugar). A crítica elogiou bastante o trabalho, sendo incluído em várias listas de melhores daquela década - rivalizando com alguns clássicos do período. O Sonic Youth dava um passo imenso para se tornar uma das mais influentes bandas do período.


Resenha de Daydream Nation

O álbum começa de forma lúdica: imaginando J Mascis, do Dinosaur Jr, como presidente de um Estados Unidos alternativo em "Teen Age Riot". Bem melódica e crua, essa primeira canção conseguiu canalizar bem a evolução do grupo em quase uma década juntos – a letra dela é muito boa e dá chance de realmente imaginar o que aconteceria nesse mundo de Moore. A seguinte, "Silver Rocket", é muito empolgante, e isso acontece por conta da agitada e inspirada guitarra que dá o tom do início ao fim.



Depois de ler a biografia de Kim Gordon, "The Sprawl" ganhou outro significado. Porque deu para entender melhor o trabalho artístico dela ao longo dos anos na banda – a bela e longa parte instrumental, por exemplo –, e essa canção foi uma pequena mostra disso. E seguida pela ótima "'Cross the Breeze", de início bem melódico, mas que aumenta de velocidade com o passar dos segundos.

A primeira letra de Lee Ranaldo no registro tinha que ser cantada por ele, que mostra bom ritmo na cheia de distorções "Eric's Trip". Aliás, ela tem o ar mais pop e até radiofônico entre todas as outras – um movimento bem interessante, se olharmos a carreira solo dele atualmente. Em outra com mais de sete minutos, "Total Trash" tem uma longa parte instrumental e cheia de guitarras, cruas, distorcidas e cheias de efeito, em mais uma construção harmônica muito interessante artisticamente.



O lado B começa com "Hey Joni", uma canção que só o Sonic Youth consegue fazer com qualidade – algo alternativo e com as guitarras no talo, suficiente para sair pulando enquanto escuta. A esquisita "Providence" traz uma ligação telefônica cheia de efeitos, já "Candle" recoloca o disco no caminho melódio e artístico. E "Rain King", outra de Ranaldo, consegue manter o alto nível – e barulhento – da banda.

"Kissability" tem na bateria seu grande trunfo, além, claro, do vocal bem inspirado de Kim Gordon. A última canção, dividida em três partes, tem mais de 17 minutos. E começa na cheia de energia "The Wonder" e suas longas partes instrumentais, depois parte para a melódica "Hyperstation". Por fim, a bem esquisita, mas ótima, "Eliminator Jr." encerra um dos melhores trabalhos e mais significativos da carreira do Sonic Youth.



Ficha técnica

Tracklist:

Disco 1

Lado A

1 - "Teen Age Riot" (6:57)
2 - "Silver Rocket" (3:47)
3 - "The Sprawl" (7:42)

Lado B

4 - "'Cross the Breeze" (7:00)
5 - "Eric's Trip" (3:48)
6 - "Total Trash" (7:33)

Disco 2

Lado A

7 - "Hey Joni" (4:23)
8 - "Providence" (2:41)
9 - "Candle" (4:58)
10 - "Rain King" (4:39)
Lado B
11 - "Kissability" (3:08)
12 - "Trilogy" (14:02)
a) "The Wonder"
b) "Hyperstation"
z) "Eliminator Jr."

Gravadora: Enigma
Produção: Nick Sansano, Sonic Youth
Duração: 70min47s

Thurston Moore: guitarra, vocais e piano
Kim Gordon: baixo, guitarra e vocais
Lee Ranaldo: guitarra e vocais
Steve Shelley: bateria



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