Discos para história: On The Beach, de Neil Young (1974)


A 77ª edição do Discos para história fala sobre On The Beach, uma das muitas obras-primas de Neil Young. Depois do estrondoso sucesso de Harvest, o cantor conseguiu manter o ritmo do álbum seguinte.

História do disco

A vida de Neil Young andava bastante conturbada nos anos 1970. Em questão de meses, ele havia visto o cantor, compositor e amigo de Crazy Horse Daniel Ray Whitten e o roadie Bruce Berry morrerem depois de consumirem drogas em excesso durante vários meses seguidos. Isso abalou muito Young, que usou de sua dor para fazer Tonight's the Night, um dos grandes discos daquela década e um dos mais viscerais da história do rock. Dor, solidão e depressão são tratadas de forma melancólica, triste e sombria por parte do cantor.

Mesmo sendo gravado em 1973, a gravadora Reprise só liberaria o disco às lojas dois anos depois por achar muito pesado. Então, enquanto negociava com os diretores a liberação do trabalho, Young optou por gravar outro disco, que viria a ser On The Beach, sucessor do ao álbum vivo Time Fades Away. E para choque dos fãs e dos críticos, o novo disco trazia coisas diferentes dos principais momentos dele em Harvest.

Sutil, um tanto desesperado, triste e pessimista, On The Beach trouxe muitos dos elementos de Tonight's the Night, lançado apenas no ano seguinte. Com muitos amigos convidados, além do pessoal da Crazy Horse, o cantor mexeu com o ímpeto criativo de todos ao convidar, em tom de desafio, que cada um tocasse um instrumento diferente com o arranjo que Young achasse melhor. Além disso, todos estavam consumindo uma mistura de maconha com mel em uma espécie de refogado. Ou seja, estavam todos chapados e bem-humorados durante todo processo de gravação – mesmo gravando temas pesados, como o fim do sonho hippie, o lado ruim do sucesso o estilo de vida peculiar dos californianos.


Não existiu uma ordem certa de gravação ou um cronograma, e as coisas iam acontecendo à medida que os dias iam passando. Até mesmo durante a mixagem das canções, Young pediu algo menos polido e mais cru, diferente dos álbuns anteriores em que o som era trabalhado até a perfeição.

Apesar de não ter sido bem recebido pela crítica, virou um disco cult com o passar dos anos e, depois de muito tempo, foi reconhecido como um dos momentos mais criativos da carreira de Neil Young. On The Beach, lançado em 16 de julho de 1974, ficou fora de catálogo por mais de duas décadas, porque o cantor não conseguir ver esse álbum sendo remasterizado – ele alegava, e ainda alega, que o som não condiz com que ele queria, tampouco consegue repetir o modo original.

Young soltou On The Beach em um momento muito difícil de sua vida pessoal, enquanto seu lado profissional estava indo muito bem. E, no ano seguinte, viria seu ápice.



Resenha de On The Beach

A letra de "Walk On" é belíssima, um ótimo começo e uma canção que muitos compositores dariam um braço para tê-la escrito. Aqui, Neil Young mostra uma visão muito particular de mundo, até cínica, e das pessoas. E mesmo com toda dor e perdas de amigos queridos, ele mostra firme e incrível vontade de viver e seguir em frente. Só quem já perdeu pessoas amadas e teve momentos difíceis na vida podem entender o que a música significa. Segunda canção, "See the Sky About to Rain", gravada pelos Byrds um ano antes, é a típica faixa de country folk eternizada por Young em sua vasta discografia. E é incrível como esse tipo de canção não fica velha.

Inspirada na seita formada por Charles Manson nos anos 1960 e 1970, "Revolution Blues" fala sobre o encontro entre o vocalista e o futuro assassino no tempo em que Young morou em Topanga Canyon – aliás, ele chegou a morar em uma casa que Manson morou com “um grande grupo de garotas”, segundo o livro Neil Young – A Autobiografia. Outro country folk, "For the Turnstiles" tem o vocal de Ben Keith complementando a canção, além de um belo banjo. Para finalizar o lado A, "Vampire Blues" é a primeira de muitas músicas em que o compositor ataca a indústria do petróleo em versos como I'm a vampire, babe/ suckin' blood/ from the earth.



Abrindo o lado B, "On the Beach" é um momento de reflexão de Young sobre fama e fortuna, e ele pensa em abandonar tudo em troca de paz e tranquilidade. Não de graça, ele, atualmente, mora no Havaí e prefere manter-se isolado. Já "Motion Pictures (For Carrie)" é uma homenagem a então sua mulher Carrie Snodgress, com tem teve um filho. É ótima balada romântica na guitarra slide acompanhada por uma gaitaa chorosa.

Fechando o álbum, Young mistura quatro assuntos em "Ambulance Blues", faixa gravada apenas no violão: os críticos que o odiavam, o péssimo governo de Richard Nixon, o excesso de mudanças em lugares importantes de sua vida e o momento conturbado em que vivia o Crosby, Stills, Nash e Young. Irritado com a falta de contato dos amigos, ele deixou claro que estava pouco se lixando para eles também. Sobre os outros assuntos, o cantor despeja revolta, tristeza e melancolia. Pode não parecer, mas é um dos grandes momentos de sua carreira.

Neste álbum, Neil Young estava vivendo seu auge criativo e técnico, e fez dessa época sua melhor fase da carreira. Mesmo assim, ele se mostrava desgostoso com algumas coisas, triste e infeliz por outras. Esse disco é uma prova de que sucesso, dinheiro e fama não são nada se você não está bem espiritualmente.



Tracklist:

Ficha técnica:

Lado A

1 - "Walk On"
2 - "See the Sky About to Rain"
3 - "Revolution Blues"
4 - "For the Turnstiles"
5 - "Vampire Blues"

Lado B

1 - "On the Beach"
2 - "Motion Pictures (For Carrie)"
3 - "Ambulance Blues"

Todas as músicas foram escritas por Neil Young

Gravadora: Reprise
Produção: Neil Young, David Briggs (faixas 1 e 4), Mark Harman (faixas 2, 3 e 5) e Al Schmitt (faixas 6, 7 e 8)
Duração: 39min40s

Neil Young: vocais, guitarra em "Walk On", "Revolution Blues", "Vampire Blues", "On the Beach", "Motion Pictures" e "Ambulance Blues"; gaita em "See the Sky About to Rain", "Motion Pictures" e "Ambulance Blues"; piano em "See the Sky About to Rain"; banjo em "For the Turnstiles"; tamborine em "Ambulance Blues"

Convidados:

Ben Keith: baixo em "Motion Pictures" e "Ambulance Blues"; guitarra slide e vocal em "Walk On"; guitarra em "See the Sky About to Rain"; piano em "Revolution Blues"; vocal em "For the Turnstiles"; órgão em "Vampire Blues"; percussão em "On the Beach"
Rusty Kershaw: guitarra slide em "Motion Pictures"; violino em "Ambulance Blues"
David Crosby: guitarra em "Revolution Blues"
George Whitsell: guitarra em "Vampire Blues"
Graham Nash: piano em "On the Beach"
Tim Drummond: baixo em "See the Sky About to Rain", "Vampire Blues" e "On the Beach"; percussão em "Vampire Blues"
Billy Talbot: baixo em "Walk On"
Rick Danko: baixo em "Revolution Blues"
Ralph Molina: bateria em "Walk On", "Vampire Blues" e "On the Beach"; vocais em "Walk On"; percussão em "Motion Pictures" e "Ambulance Blues"
Levon Helm: bateria em "See the Sky About to Rain" e "Revolution Blues"


Veja também:
Discos para história: Led Zeppelin II, do Led Zeppelin (1969)
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