Discos para história: The Stone Roses, do Stones Roses (1989)


O primeiro Discos para história, a 73ª edição da seção, será sobre a estreia dos Stones Roses. Se Oasis, Blur e Arctic Monkeys estão na história na música britânica, eles devem muito a esse álbum, um dos melhores lançados nos anos 1980.

História do disco

Como na maioria das bandas pelo mundo, Stone Roses também teve seu embrião no período em que os membros eram adolescentes. Junto com o guitarrista e vocalista Andy Couzens e o baterista Simon Wolstencroft, Ian Brown, então baixista, e o guitarrista John Squire formaram o The Patrol em 1980, inspirados no The Clash e no movimento punk do final da década anterior. Mas o sonho de fazer sucesso não durou muito quando o sucesso de uma fita demo não aconteceu e cada um foi para seu lado. Dessa experiência, uma coisa Brown tirou para si: não queria mais ficar apenas tocando baixo e cantar uma ou outra canção. Queria ser o vocalista principal.

Depois de algum tempo, Squire e Couzens chamaram Gary "Mani" Mounfield, um baterista chamado Chris Goodwin e um vocalista chamado Kaiser para formar um novo grupo chamado The Waterfront. No momento em que Goodwin deixou o grupo, pouco antes da gravação da primeira demo, Squire pensou em como seria interessante ter Brown como vocalista. Em uma festa, ele chamou o amigo, fez o convite e, para sua surpresa, foi aceito – apesar de ele ter que dividir os vocais com outra pessoa.

A tentativa de sucesso do The Waterfront também fracassou. Agora com Couzens, Wolstencroft, Brown, Pete Garner no baixo e Squire, eles se reagruparam e tentaram uma coisa nova. Diferente das anteriores, essa nova banda teria apenas material próprio, algo que ainda não havia acontecido até aqui. Reza a lenda que Ian Brown teve aulas de canto por três semanas, por conta de algumas limitações vocais, para melhorar seu desempenho. Foi nesse período que surgiu o nome Stone Roses, que acabou agradando e ficando em definitivo. Nem mesmo a saída de Wolstencroft depois de seis meses de ensaio baixou os ânimos (ele foi substituído por Alan “Reni” Wren em meados de 1984).


Entre a época da saída do baterista e a chegada do novo, as coisas começaram a acontecer para eles, entre elas o retorno de Mani, agora como baixista. Ao gravar a primeira demo como Stone Roses, chamaram a atenção de Pete Townshend, guitarrista do The Who, para abrir um show solo dele. Como era a apresentação de um músico extremamente conhecido, muitos jornalistas foram assistir e acabaram vendo esse novo grupo. Entrevistas, shows e propostas de agenciamento de carreira brotaram rapidamente.

Mas foi em 1989 que a banda começou a ficar mais conhecida. No ano em que gravou o primeiro disco, eles começaram a atrair mais gente aos shows e os singles estavam sendo executados nas rádios, e havia mais atenção dos críticos com relação ao primeiro álbum. Apresentações na TV, no rádio e uma aparição no Top of the Pops consolidaram o Stone Roses como potencial grupo de sucesso.

À época, apesar das boas críticas, Stone Roses foi recebido com frieza pelo público. Apesar de uma capa bem artística e boas músicas, o álbum ficou restrito a um grupo pequeno de pessoas. Mesmo premiados pela NME como Banda do Ano, Revelação, Melhor Single e Melhor Disco, a maior apresentação deles em 1989 foi para sete mil pessoas.

O Stone Roses é desses casos em que sua influência e qualidade só são vistos depois que terminam. É como o caso do Pixies, que só ficou conhecido quando Kurt Cobain disse que era fã da banda. Com eles, foi apenas quando Oasis e Blur afirmaram que não haveria britpop nos anos 1990 sem o Stone Roses é que o reconhecimento veio. Entre as muitas listas do final dos anos 1990, esse álbum está em praticamente todas, mostrando que os influenciadores sempre terão espaço e sua vez, mesmo que demore.



Resenha de The Stone Roses

Por quase dois minutos, "I Wanna Be Adored" fica apenas na parte instrumental, uma grande introdução com uma levada bem pop e leve. Depois vem a letra com seu petardo de sinceridade e poesia. De tanto repeti-la, o ouvinte fica com certa pena de quem está cantando porque ele parece realmente uma pessoa muito solitária e infeliz. Com essa faixa de abertura, é uma clara introdução ao que vem pela frente.

Ao ouvir "She Bangs the Drums", é inegável que ela é uma balada inglesa feita em Manchester durante um dia chuvoso. Tudo leva a crer que ela inspirou muito Noel Gallagher e Damon Albarn, então dois jovens garotos, em suas composições em suas futuras bandas, além de ser um dos hinos do britpop e do indie inglês. Só ela já seria suficiente para colocar o Stone Roses em qualquer pedestal das grandes bandas da história. Saindo de uma histórica para uma mais leve, "Waterfall" é poética e tranquila, e os vocais de apoio colaboram muito para o andamento.



"Don't Stop" usa o recurso de tocar a melodia ao contrário e a influência indiana dão a entender que a inspiração veio dos Beatles. Aqui também há uma longa introdução instrumental, essa com mais de dois minutos, diferente de "Bye Bye Badman", canção que lembra muito as raízes da música do Reino Unido – cantigas folk datadas do século 17 – e "Elizabeth My Dear" mantém isso.

Mais curta de todo álbum, "(Song for My) Sugar Spun Sister" é outra que deve ter inspirado inúmeras baladas inglesas nos anos 1990. É incrível como o Stone Roses não tenha decolado como seus sucessores fizeram alguns anos depois, já "Made of Stone" conta com solo de guitarra e um refrão (Sometimes I fantasize/ When the streets are cold and lonely/ And the cars they burn below me/ Don't these times/ Fill your eyes/ When the streets are cold and lonely/ And the cars they burn below me/ Are you all alone/ Is anybody home) inspirados.



O estilo meio jazz, meio blues de "Shoot You Down" comove muito, principalmente pela linha de baixo primorosa. É uma canção fina e elegante, digna de ser ouvida várias vezes ao longo do dia, assim como "This Is the One", mas essa é outra na linha pop. Encerrando de maneira magistral, "I Am the Resurrection" é uma espécie de ópera rock dividida em três atos. É outra faixa fenomenal.

Como já disse antes, é inexplicável que o Stone Roses não tenha feito sucesso. A gama de influências nesse disco é muito forte e o tamanho dos influenciáveis só mostra que eles mereciam muito mais do foram/são.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "I Wanna Be Adored"
2 - "She Bangs the Drums"
3 - "Waterfall"
4 - "Don't Stop"
5 - "Bye Bye Badman"
6 - "Elizabeth My Dear"
7 - "(Song for My) Sugar Spun Sister"
8 - "Made of Stone"
9 - "Shoot You Down"
10 - "This Is the One"
11 - "I Am the Resurrection"

Gravadora: Silvertone
Produção: John Leckie
Tempo: 49min02s

Ian Brown: vocais
Mani: baixo
Reni: bateria, vocais de apoio e piano em "She Bangs the Drums"
John Squire: guitarra

Veja também:
Discos para história: The Smiths, dos Smiths (1984)
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Discos para história: Horses, de Patti Smith (1975)
Discos para história: 461 Ocean Boulevard, de Eric Clapton (1974)
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